Manaus, 22 de novembro de 2024

Amazônia, vale da biotecnologia

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A maior floresta tropical do planeta, berço de pelo menos metade de todas as espécies vivas, pode se transformar no próximo “Vale do Silício”. Os mais de 7 milhões de km2 de floresta, que abrange a Pan-Amazônia – 19 vezes o tamanho da Alemanha –, escondem matérias-primas que devem impulsionar a quarta revolução industrial, diz um estudo publicado agora em setembro na prestigiada Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS), dos Estados Unidos.

As análises mostraram que, continuando com os dois modelos de desenvolvimento historicamente adotados no Brasil – conservação pura da floresta e a atividade agropecuária -, o desmatamento vai continuar. Nestes termos, a floresta certamente vai desaparecer, conclui a publicação. Chamada de “terceira via”, a proposta dos cientistas enxerga a Amazônia como um patrimônio biológico global, que pode impulsionar a nova revolução movida a inteligência artificial e tecnologias que “imitam” a natureza – o biomimetismo.

Muito antes desta “descoberta” de cientistas estrangeiros, diversos estudos, como dos pesquisadores do INPA Charles R. Clement e Niro Higuchi –  “A floresta amazônica e o futuro do Brasil”, publicados na revista Ciência e Cultura, São Paulo, Jul/Set 2006 já haviam chegado a essas conclusões. Há dez anos atrás, portanto, além de investigações do INPA, das universidades e de outros centros de pesquisa da região apontam que boa parte do bioma “está sendo derrubado de forma acelerada porque tem pouco valor na percepção da sociedade brasileira atual, apesar de uma parte dos formadores de opinião afirmarem o contrário. Esta contradição entre o discurso e a realidade sócio-político-econômica é comum no mundo e ajuda a entender muito a respeito dos problemas de degradação ambiental que estão minando a sustentabilidade do empreendimento humano”.

Num país ainda subdesenvolvido, como o Brasil, assegura o estudo, a contradição entre discurso e realidade exige que os formadores de opinião demonstrem claramente a existência de outros valores de importância para a própria sociedade afim de que a floresta passe a ter valor na percepção da grande maioria, pois não bastam leis e decretos que proíbam se a população não está de acordo. Além da orientação agrícola da sociedade brasileira, observam Clement e Higuchi, um outro fator dificulta a valorização da floresta: sua diversidade. Esta diversidade é a razão pela qual o Brasil está incluído entre os países mega-diversos, mas o corolário dessa diversidade é a baixa densidade econômica, o que significa que existem poucos recursos naturais com valor econômico-financeiro imediato num hectare qualquer de floresta.

O valor da floresta amazônica em pé é muito maior do que a madeira, carne bovina e outros produtos que são obtidos com sua destruição. Essa é a ideia central do trabalho intitulado Environmental Services As Strategy for Sustainable Development in Rural Amazonia (Serviços Ambientais como Estratégia para o Desenvolvimento Sustentável na Amazônia Rural), do pesquisador Philip Fearnside, do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA) e coordenador do Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia dos Serviços Ambientais da Amazônia (INCT-Servamb) – http://philip.inpa.gov.br.

De acordo com Fearnside, o valor da mata em pé tem o potencial de formar uma base econômica para sustentar a população no interior da região muito melhor do que a economia atual. De fato, os serviços ambientais que a floresta amazônica fornece aos seres humanos configuram benefícios que a sociedade recebe dela a partir das suas funções ecológicas, tais como a manutenção da biodiversidade, o ciclo hidrológico e o armazenamento de carbono, que evita o aquecimento global. O problema é que ninguém paga por estes serviços hoje, mas isto pode mudar, conclui o pesquisador.

O Brasil, com efeito, dispõe de plenos conhecimentos, meios e instrumentos para desvendar os mistérios amazônicas. Falta tão somente o essencial: decisão política e investimentos adequados.

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