Manaus, 16 de setembro de 2024

“AmIT é tecnologia sustentável para a Amazônia”

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Estamos às vésperas de iniciar um novo programa de desenvolvimento da Amazônia baseado em tecnologia. Isso começou a ser pensado há 30 anos, logo depois da Conferência da ONU, sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, ocorrida no Rio de Janeiro, a ECO-92. Naquela ocasião, o governador do Amazonas, Gilberto Mestrinho, zarpou para Boston, a fim de formatar uma parceria entre o MIT, Massachusetts Institute of Technology e as universidades locais, UFAM e UTAM, atualmente, UEA. O objeto desse enlace era injetar uma dose cavalar de tecnologia nas veias abertas da Amazônia.

Não deu certo. Hoje, três décadas depois, para falar de futuro, conversamos com o professor Estevão Monteiro de Paula, que é um entusiasta dessa iniciativa desde sua formação acadêmica na América do Norte, onde fez PhD em Engenharia pela Universidade do Tennessee, e atualmente é um dos responsáveis pelo projeto do AmIT, Instituto de Tecnologia da Amazônia, com Adalberto Val e Carlos Nobre, entre outros pesquisadores da Pan Amazônia. Neste bate-papo, Estevão conta alguns detalhes desse empreendimento que pretende gerenciar o desenvolvimento socioeconômico sustentável da Amazônia continental com as ferramentas da Ciência, Tecnologia e Inovação. Confira. 

Entrevista exclusiva do pesquisador Estevão Monteiro de Paula

Follow-up – O que é o AmIT, o Instituto de Tecnologia da Amazônia e quais são os principais objetivos dessa iniciativa?

Estevão Monteiro de Paula – O AmIT é tecnologia sustentável para a Amazônia. Isso virá através de um Instituto, um agente público-privado de transformação dos conhecimentos da Amazônia em tecnologias, por meio da convergência da ciência contemporânea com o saber tradicional e o etnoconhecimento. É um movimento para acelerar o processo de desenvolvimento tecnológico do conhecimento existente a partir das diferentes racionalidades.

O AmIT não é uma instituição de ciência, mas de apoio ao desenvolvimento tecnológico com bases técnica e cientifica em busca da sustentabilidade da vida na Amazônia. O objetivo do AmIT é melhorar a qualidade de vida das pessoas e reduzir as desigualdades socioeconômicas existente na Amazônia por meio da conservação e do uso sustentável de seus recursos, adicionando um importante componente de empoderamento para as pessoas que vivem na Amazônia por meio da educação, CT&I e práticas sustentáveis. O foco será sempre o ser humano e sua estrutura social e econômica a partir dos seus processos produtivos. 

O potencial ambiental da Amazônia deixa de ser determinado somente pela sua estrutura ecossistêmica e passa a ter a sua importância para os processos produtivos desenvolvidos nela pelas diferentes formações socioeconômicas existentes. É preciso fortalecer a musculatura destas formações para que ocorram as transformações sociais e econômicas almejadas pela população.

 

Visite o site da AmIT clicando aqui

FUp – A metodologia do conhecimento será a mesma produzida pelo INPA, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, há 70 anos?

E.M.P. – Sim, com certeza, e com o valioso adicional da diversificação de alternativas econômicas na promoção da qualidade de vida da população que aqui vive, com uso das ferramentas de Ciência, Tecnologia e Inovação. Afinal, o que seria a Amazônia sem o INPA? Certamente uma região sem identidade própria. O INPA segue cumprindo seus objetivos, e continuará como referência para a maioria da produção científica sobre a Amazônia. Já podemos antecipar, a propósito, que as ações previstas para o AmIT e aquelas já desenvolvidas pelo INPA e demais institutos de pesquisas da região e academias, são complementares. Serão integrados por meio de uma rede interativa.

O AmIT está para as instituições da Amazônia, mais precisamente da Pan-Amazônia, assim como o MIT está para as instituições de ensino e pesquisa nos Estados Unidos. É, portanto, uma iniciativa arrojada que requer muitos arranjos, entendimentos com os diferentes atores, lideranças e culturas diferenciadas. Este será o primeiro e grande desafio. 

Já existem iniciativas promissoras nos nossos entendimentos que apontam para construção dessa rede de atores e dos diferentes segmentos socioeconômicos nos diferentes países. Temos consciência da dimensão amazônica e sua complexidade. Isso implicará um trabalha em escalas diferentes. Uma escala macro que abordará todos os países e seus procura-se grandes questionamento. Isso requer recursos maiores, envolvimentos de muitas pessoas, tempo de respostas mais longo, etc. Estamos falando de mudanças climáticas, e monitoramento e aproveitamentos dos rios internacionais etc.).

Na escala meso, vamos envolver apenas um país ou tema específico com menos complexidades interativas, com respostas mais rápidas. E, finalmente, a escala micro que está relacionada com problemas pontuais podendo chegar até a comunidade. Essa escala deverá contar com mais tecnologias, menos pessoal envolvido, com mais prontidão e impacto mais assertivo.

Estas escalas, ou camadas, terão as seguintes áreas de atuação: Águas da Amazônia; Floresta; Paisagens Alteradas; Amazônia Urbana; Infraestrutura Sustentável. Por exemplo; a Amazônia Urbana deve ser abordada em diferentes escalas.

Em função disso, o AmIT constituiu componentes para configurar/referenciar/mobilizar ações e orientar atores e setores sociais importantes para sustentabilidade da região: (1) Saúde integral e medicina tropical, (2) Economia e materiais sustentáveis, (3) Manufatura distribuída, (4) Recomposição e uso de paisagem alteradas, (5) Modelos educacionais, (6) Recrutamento de Pessoal, (7) “Outreach”, (8) Economia Sustentável, (9) Direito do Bioma Amazonico e uma (10) Escola de Negócios da Floresta.

E para cada um destes componentes foi estabelecida uma ação prioritária, que vai ocorrer no campo da C,T&I. Isso vai orientar avaliação de oportunidades, e responder questionamentos.

• Impactos socioeconômicos e ambientais das práticas atuais de produção e consumo;

• As especificidades dos sistemas socioambientais existentes;

• As forças produtivas, econômicas e sociais existentes;

• As dependências tecnológicas e culturais das capacidades produtivas;

• Os aspectos infraestruturais e logísticos;

• A motivação para a inovação produtiva;

• Nível de tecnologia existente e proximidade com o mercado;

• Os gargalos das cadeias de valor, da prática de produção e negócios importantes para alavancar a economia local.

De maneira mais simplificada imagine que seja identificado a necessidade de investir em um produto para ampliar a sua participação na economia local. Tal produto tem sua cadeia de valor, cadeia de produção; portanto, pode-se dizer que também tem sua cadeia de conhecimento. As fragilidades e os gargalos existentes na cadeia de conhecimento são o foco do AmIT.

FUp – A parceria com o MIT, Massachusetts Institute of Technology, é um velho sonho, acarinhado pelo Amazonas desde a Rio-92, a conferência da ONU sobre meio ambiente desenvolvimento. Você sabe por que o governo do Brasil não abraçou a iniciativa? E será que agora ele o fará?

E.M.P. – Atualmente existe uma pressão mundial sobre a Amazônia. Em consequência aparecem diversas oportunidades para produzir conhecimento sobre a floresta e sua população, além de uma procura incansável para descobrir as oportunidades de uso que ela oferece. Os dispositivos de controle e comando sobre a Amazônia evoluem em escala exponencial enquanto se caminha vagarosamente para identificar e potencializar recursos que possam beneficiar a população local.

 E certamente isto contribui para o aumento de pressão social. Infelizmente, devo admitir que existem algumas pesquisas desenvolvidas na Amazônia que se utilizam de metodologias consideradas primitivas para os dias de hoje. O Brasil e a Amazônia precisam conhecer o próprio território para poder defendê-lo. Gosto muito do que Henrique Leff diz sobre meio ambiente, a relação entre poderes sob forma dominante do conhecimento. E o governo percebe isso e está ciente do AmIT pois recentemente no Egito, na 27ª Conferência das Partes (COP 27), os pesquisadores Adalberto Val e Carlos Nobre conversaram com a Ministra do Meio Ambiente e suas assessorias a respeito do projeto.

Interface gráfica do usuário, Teams Descrição gerada automaticamente

Adalberto Val e Carlos Nobre em eventos da Academia Brasileira de Ciências

FUp – O INPA conseguiu registrar em torno de 100 patentes no período em que Adalberto Val e você dirigiram a instituição. Quais os benefícios à sociedade são repassados para a sociedade com esses resultados e por que tudo isso não costuma ter continuidade na região? 

E.M.P. – Este fato exige esclarecimentos. Na época mencionada, percebemos que o INPA tinha muita contribuição para dar à sociedade. Acontece que grande parte disso era uma contribuição difusa, ou seja, na medida em que é gerado o conhecimento, é repassado para seu programa de pós-graduação, são feitos workshops e outros formatos de serviços para disponibilizar o conhecimento, criando um circuito endógeno. Percebemos, então, que era difícil identificar a origem do conhecimento e sua desejável encaminhamento para a sociedade poder adequá-lo a seus propósitos.

Exemplo disso é aquicultura. São poucas ou praticamente nenhuma pessoa que atribuem ao INPA o início de criação de peixes em igarapé, mas de fato o processo iniciou no INPA. Criou-se coordenação com o objetivo de estimular inovação e tecnologia social. Iniciou-se uma série de movimentos internos estimulando patentes, inovação etc. O resultado é o que você cita em números de patente.

pirarucu amazônia

Um dos peixes símbolos da bioma amazônico, o Pirarucu

Mas isto é e deve ser um processo dinâmico, interativo na busca de sempre procurar parceiros e identificar oportunidades. O desafio é também negociar as patentes ou transferir o conhecimento. Pelo que soube, salvo engano, a atual gestão do INPA reduziu a importância da pós-graduaçao locus em que são geradas a informação e os processos de reconhecimento da inovação.

No caso do AmIT, no momento não se pensa em patente. A preocupação é outra e os indicadores serão outros. Os indicadores devem estar ligados às transformações sociais e econômicas resultantes das ações que o AmIT venha desenvolver.

Por isto, os desafios e as questões a serem abordadas pelo AmIT devem estar contextualizadas e ter um tratamento transversal do problema. Isto requer um diálogo constante com os diferentes segmentos socioeconômicos envolvidos na questão. Disto podemos concluir dois pontos fundamentais; 1) Não é recomendado tratar um problema isoladamente; 2) Os eventuais problemas devem fazer parte de um sistema que tenha organicidade, com uma solução local.

Finalmente é bom destacar que o AmIT não pretende competir com as instituições existentes, que tem desenvolvido pesquisa sobre o bioma amazônico. Mas, pelo contrário, pretende fazer colaborações para usar estas informações em processos de tecnologia avançada.

FUp – Como está sendo pensada a mobilização da comunidade científica local, nacional e mundial e quais são as fontes de financiamento já comprometidas?

E.M.P. – A estrutura proposta para o AmIT não é pequena. Eu diria que está proporcional ao desafio que o instituto pretende enfrentar. Cada país tem um local do AmIT e terá ainda módulos flutuantes para permitir desenvolver algumas atividades mais próxima possível do seu objeto de estudo. Mas isto tudo só terá vida e resultados positivos com a participação dos segmentos socioeconômicos atuantes na região.

Neil Palmer/CIAT – Flickr

O AmIT atualmente está na fase de contratação de especialistas para realizar diagnósticos nas Amazônias Brasileira, Peruana e Colombiana com foco nas suas áreas de atuação, componentes e respectivas ações prioritárias. Em seguida, a atividade será desenvolvida nos outros países amazônicos. Diante destas informações, deverão ser convidados “players” importantes para o diálogo e participação nas atividades do AmIT.

Em paralelo, outras iniciativas estão sendo implementadas destacando-se, neste caso, dois eventos: A Semana do MIT no Brasil em Manaus a ser realizado em agosto e a Semana da Amazônia no MIT nos Estados Unidos a ser realizado em setembro. Em ambos os eventos serão convidados os setores econômicos, social e acadêmico para à luz do diagnóstico realizado, promover diálogo com MIT e AmIT e desenhar ações conjuntas e interativas. Eventos semelhantes serão realizados no Peru e na Colômbia.

Na semana do evento, especialmente em Manaus, serão realizados cursos e palestras. Cursos de curtíssima duração no nível da graduação para identificar talentos locais e investir neles para que no futuro próximo possamos contar com as inteligências locais. Na palestra serão abordados pelos professores do MIT, alguns assuntos relacionados as áreas escolhidas pelo AmIT para que os segmentos socioeconômicos da Amazônia vejam as oportunidades existentes para soluções dos problemas locais. Em seguida, teremos uma mesa de “instrução” quando as partes interessadas possam interagir e produzir um protocolo de intenções.

Em paralelo, devemos fazer algumas visitas ao setor empresarial, acadêmico e governamental para apresentar a proposta do AmIT e ouvir, juntamente com os professores do MIT, as expectativas e os anseios em relação a vinda do Instituto.

Outra iniciativa, já discutida é a criação de um espaço cibernético Amazônico, onde se pretende convergir de forma organizada oportunidades de negócios, banco de dados, apoio às pesquisas e outras atividades que venham contribuir com o desenvolvimento humano das populações da Amazônia. E ainda há as tratativas para ocupar um espaço físico na cidade que possa promover essa articulação com a sociedade local.

II

TV LAR, 59 anos do sonho Azevedo

Integrante destacado do setor varejista e industrial, Azevedo vai ser encontrado sempre e com singular dedicação nas reuniões do que era chamado de Santa Aliança, a gestão articulada do setor privado do Amazonas através de suas lideranças nas entidades de classe. Era neste contexto que José e também Antônio Azevedo passaram a atuar em sintonia pela integração no setor privado, insistindo sempre na necessidade de interiorizar o desenvolvimento como o melhor modelo e estratégia de preservação/conservação da Amazônia.

Há 59 anos, Brasil passava por fortes transformações e o Amazonas seguia isolado e dependente da boa vontade federal. A base econômica era o extrativismo e algumas indústrias de beneficiamento de produtos da floresta, As casas de aviamento, ou os grandes armazéns dos J, todos de origem portuguesa, J.A. Leite, J. G de Araújo, J. Amorim, que abasteciam o beiradão amazônico, eram vestígios melancólicos do fausto da Borracha.

De suntuoso, apenas o conjunto arquitetônico da Belle Époque puxado pelo Teatro Amazonas e demais arroios do governador Eduardo Ribeiro e sua visão cosmopolita. Foi neste cenário que começa a se ensaiar o Sonho José dos Santos Azevedo, o embrião de um programa empreendedor empurrado pelo ousadia impregnada de humildade e determinação de construir a saga Azevedo. O patriarca e seu sonho – uma unidade transformada em ícone – iniciavam trajetória vitoriosa de mudar para melhor a vida das pessoas e expandir o progresso na paisagem paradisíaca da Amazônia, o universo que ele adotou.

Vista panorâmica da cidade no final da tarde Descrição gerada automaticamente

O Teatro Amazonas

Omnia Vincit Labor

Extraída do fronstipício da antiga escadaria central do Colégio Dom Bosco, em Manaus, a frase em latim – visível a todos os alunos que subiam as escadas do Colégio Dom Bosco – ficou marcada no coração e mente de Azevedo. “O trabalho persistente vence tudo”, de um poema de Virgílio (70a.C. – 19 a.c.), a sentença descreve a jornada Azevedo, sua postura visionária e seu compromisso cívico com uma terra que passou a chamar de sua, o Amazonas das mulheres guerreiras, no centro da maior floresta tropical do planeta e sede da ZFM, Zona Franca de Manaus, o maior acerto fiscal da história da República para o desafio de redução das desigualdades regionais.

Aluno salesiano do Colégio Dom Bosco, onde foram forjados muitas lideranças empresariais e destacados entes públicos do Amazonas, desde os anos 20, quando foi fundado, o Colégio influenciou fortemente o futuro comendador Azevedo, que foi discípulo de Padre Agostinho Caballero, uma referência de bondade e solidariedade humana, e contemporâneo de Gilberto Mestrinho, três vezes governador do Amazonas. Estudaram lado a lado no Curso de Contabilidade, uma ferramenta escolar decisiva no desempenho de ambos pela vida afora. Tornaram-se grandes amigos.

NOSSA HISTÓRIA | Colégio Dom Bosco

NOSSA HISTÓRIA | Colégio Dom Bosco

O colégio Dom Bosco na década de 70

Vivíamos a Era do Rádio

Em ondas curtas e depois tropicais, o rádio era febre nos anos 60 na Amazônia, mas a televisão já fazia história com Assis Chateaubriand desde 1950. Quando teve início a primeira loja da TV Lar, sua instalação ocorreu na sala de estar da residência da família Azevedo em 1964, na Rua Henrique Martins, onde o patriarca, ainda jovem, consertava aparelhos de rádio. Manaus soube que a Seleção Brasileira de Pelé, o rei do futebol, fora bicampeã do mundo nas ondas do rádio. Por aí se deduz o destaque e a fama de José Azevedo no cotidiano de Manaus, a Cidade Sorriso, como era conhecida, com seus 160 mil habitantes.

Foto em preto e branco de grupo de pessoas lado a lado Descrição gerada automaticamente

Mario Lago com Lina Abeu, José Azevedo, Josaphat Pires, José Renato, Jerusa, Bia e Sebastião – foto: Abrahim Baze

Foto em preto e branco de pessoas posando para foto Descrição gerada automaticamente

Momento histórico da dramaturgia do Amazonas: Francisco Barbosa, Procópio Ferreira e José Azevedo no Teatro Amazonas em 1958 – foto: Abrahim Baze

Em pouco tempo, aquela loja de ambiente estritamente familiar, foi dado corpo e alma à veia empreendedora, escrevendo a cada dia um capítulo da história Azevedo. O cenário original era a Rua Henrique Martins, no Centro histórico de Manaus. A duas quadras, fica a Praça da Polícia, conhecida por conta do quartel que ali existia. A praça, Heliodoro Balbi, homenageia um advogado de origem italiana que honrava a categoria por seu espírito público e extrema ousadia na defesa da ética, democracia e cidadania. Para quem conviveu com José dos Santos Azevedo esses valores são recorrentes em sua trajetória e manifestações nas tribunas das entidades de classe do setor produtivo onde sempre brilhou. Daí tantas homenagens em sua trajetória de vencedor.

Antônio Azevedo, o continuador

Ele nasceu um pouco antes da intervenção militar de 1964, um ano de reboliços políticos e sacolejos institucionais. Logo depois, em 28 de fevereiro de 1967, com o Decreto-Lei 288/67 estava criada a Zona Franca de Manaus, uma Área de Livre Comércio que tirou o Amazonas do marasmo econômico em que se encontrava depois do esvaziamento do II Ciclo da Borracha. Fundada em três pilares, Comércios, Indústria e Agricultura, o boom inicial se deu com o comércio de importados. O Brasil era um país fechado ao comércio internacional, por isso a ZFM foi uma explosão de negócios.

Foto em preto e branco de bebê Descrição gerada automaticamente

José dos Santos da Silva Azevedo aos 6 meses de idade em 1936 – foto: Acerva Abrahim Baze

Acompanhando o patriarca em sua caminhada de sucesso, Antônio Azevedo foi descobrindo o mundo a partir da oficina que ficava numa das dependências da casa, foi contagiado pelas referências do ambiente de empreendedorismo. Essa vivência que foi formalizada no que hoje seria menor aprendiz, teve sua carteira de trabalho assinada aos 12 anos. Desde criança, porém, pelo simples olhar em torno, entendeu o sentido do verso de Virgílio.

A dimensão tomada pelo sonho Azevedo

Nada como compartilhar condutas, crenças e vivências. Antônio teve que buscar soluções estratégicas, gerenciais, tecnológicas que a academia e as diversas economias do mundo podem oferecer. Seu pai havia se associado à Yamaha, fabricante japonês de motocicletas. Participação modesta, diza sempre o patriarca para não dizerem que ele queria ser melhor do que o calendário marca. Nunca foi. Como é comum aos sábios, José Azevedo sempre primou pela simplicidade e pela modéstia de seus costumes.

Olhando o conjunto de sua obra, mesclada e expandida com a agregação de valor do conhecimento acadêmico e operacional de seu sucessor, podemos deduzir algumas ponderações. Uma delas é a presença constante e atuante de José dos Santos Azevedo no processo de transformação regional a partir do Amazonas. Integrante destacado do setor varejista e industrial, Azevedo vai ser encontrado sempre e com singular dedicação nas reuniões do que era chamado de Santa Aliança, a gestão articulada do setor privado do Amazonas através de suas lideranças nas entidades de classe.

Era neste contexto que José e também Antônio Azevedo passaram a atuar em sintonia pela integração no setor privado, insistindo sempre na necessidade de interiorizar o desenvolvimento como o melhor modelo e estratégia de preservação/conservação da Amazônia. Antônio, nos últimos anos, focou um pouco mais no estudo, planejamento, mobilização dos atores sociais, para pensar, preparar e trabalhar na construção do futuro que já começou a partir de Manaus e tem se espalhado pelos mais distantes rincões amazônicos.

De Itacoatiara à Nhamundá, no Médio e Baixo Amazonas; de Borba a Apuí, no rio Madeira; de Barcelos a São Gabriel da Cachoeira, no rio Negro; de Iranduba a Fonte Boa, no Médio e Baixo Solimões; de Tonantins a Atalaia do Norte, no Alto Solimões e Japurá; de Beruri a Guajára, nos rios Juruá e Purus; em Presidente Figueiredo, Rio Preto da Eva e em quase todos os bairros de Manaus; de Boa Vista a Rorainopólis, em Roraima, tem sempre uma loja TVLar testemunhando o comprometimento dos Azevedo com a Amazônia e seu povo.

À essa que é a maior rede de varejo da região Norte junta-se ainda mais de uma dezena de concessionárias Yamaha, também espalhadas pela região, e mais o Manaus Plaza Shopping e a longeva sociedade na Yamaha Motor da Amazônia, e ter-se-á a dimensão que alcançou o sonho modesto iniciado pelo visionário José Azevedo, nos idos dos anos 60: um grande legado em prol do desenvolvimento regional, gerando trabalho e renda para milhares de famílias, recolhendo vultosos valores como tributos e fazendo-se presente em quase uma centena municípios.

E o sonho prossegue. Antônio, desde a primeira hora, integrou-se de corpo e alma no CODESE, Conselho de Desenvolvimento Econômico Sustentável e Estratégico de Manaus, um movimento que começou em vários municípios do país visando desenhar e implantar uma cidade para seus cidadãos, justa, fraterna, sustentável e próspera. Um ensaio, mais um, que descrevem a utopia Azevedo, que materializa um sonho, isto é, antecipar uma utopia de uma cidade, um Amazonas e sua articulação Amazônia a favor de sua gente, de mãos dadas e braços abertos, no modo Azevedo.

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