Manaus, 21 de novembro de 2024

Antes que surja um pai

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Na “nova” sociedade amazonense, sempre que a natureza propicia algo bom ou quando as circunstâncias políticas sinalizam avanços econômicos (raramente socialmente densos), aparece uma quantidade enorme de pais da ideia, do fato, ou da perspectiva alvissareira. Um exemplo emblemático dessas causas naturais é o pulso de subida e descida dos rios amazônicos que se repete a cerca de onze mil anos e que provoca, aleatoriamente enchentes e vazantes que causam transtornos mais ou menos graves. A sociedade amazonense de raiz sabe que o nível do rio, mais cedo ou mais tarde começa a reverter a tendência, mas na “nova” sociedade amazonense (sic) minimizar os efeitos da enchente ou a vazante é fruto de um “sábio” gênio político. Infelizmente as coisas de importância essencial para o lado socioambiental por não terem chá de “baby” nem festa de batizado, ficam escondidas em arquivos mortos.

 

Na economia
No mundo econômico a Zona Franca de Manaus é um exemplo triste de falsa e múltipla paternidade. Só para situar a questão, registro que a Zona Franca foi instituída pela ditadura militar, pois a lei democrática (lei Pereirinha) nunca passou de um entreposto acanhado na região do “roadway”. Apesar da origem ditatorial a ZFM ganhou muitos pais entre os “democratas” e até mesmo ferrenhos comunistas se intitulam genitores do modelo. Como a memória é curta e a população é inculta, a malandragem política não revela que a ZFM foi uma decisão militar voltada para ocupação do território e manutenção da soberania diante das ameaças de internacionalização inerentes ao cenário de pobreza e miséria pós-ciclo da borracha, que contrastava com a riqueza do tempo dos ingleses. A estratégia fez uma adaptação do modelo “Empresa Colonial” que foi usado, p. ex., pela Holanda, em 1683 para manter a dominação sobre seu território no norte da América do Sul. Os exemplos são muitos e o da ZFM é apenas emblemático.

 

Os genitores
A profusão de genitores revela uma grave promiscuidade, pois com tantos parceiros, a mãe deve ser uma idosa prostituta que tem vergonha de aparecer por não poder identificar quem é o pai de quem, entre seus múltiplos “sons of a bitch”.

 

Antes que surja um pai
Por essa razão, antes que surja um pai da salvação do ensino de qualidade e da pós-graduação (stricto sensu) no Brasil, vou fazer um registro de justiça.

Nos anos de 1995/1966, quando estava em discussão no Congresso Nacional, a lei Darcy Ribeiro (9.394/66), o senador Antônio Carlos Magalhães apresentou uma emenda que, na prática, substituía o mestrado e doutorado por cursos de especialização na atividade do magistério superior, beneficiando as instituições privadas. Como Diretor do Inpa, na época, tomei conhecimento desse atentado e um dia, viajando para Brasília, encontrei no avião o Dr. Claudio do Carmo Chaves que era deputado federal pelo Amazonas e transmiti a ele minha preocupação com essa emenda que não ajudaria o ensino universitário a avançar na qualidade.

O Dr. Claudio Chaves, adotou essa luta e em Brasília contatou o presidente de seu partido (PFL) que era também presidente da Câmara, o então todo poderoso Inocência Oliveira que teve a coragem de enfrentar o “cacique” do partido (ACM), fazer um destaque, e aprovar o texto original.

Na época, combalido pelo câncer, Darcy Ribeiro compareceu à Câmara em cadeira de rodas e, ao final da votação, vendo seu projeto aprovado sem a emenda ACM, atravessou o plenário e foi abraçar o Dr. Claudio Chaves. Toda vez que o ilustre médico amazonense conta essa história (e ele a repete frequentemente), dá o crédito dessa vitória a mim, embora a glória seja inteiramente dele já que eu entrei nessa história assim como Pilatos entrou no Credo, apenas repassando uma tarefa que não podia realizar.

E antes que alguém surja do nada para recuperar essa história e incluí-la em seu sua falsa história de vida, deixo esse registro na mídia. O mestrado e doutorado são cursos e programas que promovem melhor qualidade de ensino, pois nas especializações (lato sensu) a quase totalidade das monografias, são muito ruins, são feita s por encomenda, ou são plágios criminosos e desavergonhados de trabalhos realizados por profissionais competentes, não havendo ainda um mecanismo rigoroso que puna os infratores e as instituições que os aprovam.

A pós-graduação stricto sensu no Brasil tem um grande pai – Darcy Ribeiro – e um grande padrinho – Dr. Claudio do Carmo Chaves.

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