“Não fiquei surpreso com a repercussão do meu “Mormaço” de domingo, onde comento a persistência com indícios de fadiga do material do modelo da Zona Franca de Manaus …
… A maioria dos comentários que recebi apoiava a minha perspectiva e, curiosamente, eram todos de amazonenses. Apenas um destoou do coro dos insatisfeitos e, pelas posições, não se tratava de nenhum dos meus sete leitores usuais. Em sua missiva remetida para o meu endereço eletrônico, propõe entre outras coisas que eu deveria ser indicado como inimigo número um do Amazonas, confundindo em sua síndrome de miopia histórica, o malfadado modelo da Zona com o próprio Amazonas. Só por esta posição já dá para desconfiar que o autor não seja amazonense. Um amazonense não seria capaz de fazer tão ofensiva comparação. O nosso estado tem uma longa história de lutas e desde sempre experimentou projetos de modernidade e surtos de prosperidade. Mas não vou insistir no assunto e passo a outra afirmação calamitosa e não menos ofensiva.
Segundo este senhor, que desconfio que seja estrangeiro, talvez um oriental do distrito, bem fornido em seu cargo de dirigente, já que seu texto não respeita pontuação, uma espécie de jorro de retórica repleto de lugares comuns, a nossa querida Manaus se tornou uma metrópole graças às benesses da Zona. Ora, ora, meu senhor! Manaus é uma metrópole desde 1890, mas graças ao modelo desastrado inventado pelos tecnocratas de Brasília, a bela cidade sorriso se transformou nesta imensa e pútrida favela. Nas palavras do grande Severiano Porto, um dos grandes criadores que amaram esta cidade, a favelização de Manaus criou uma ferida, uma úlcera urbana, que vai se transformar no futuro numa feia cicatriz. O modelo não deu certo aqui e em nenhum lugar do mundo. É um enclave, que drena tudo para fora e aqui nada deixa, só os graves problemas sociais.
Nem ao menos consegue manter um voo direto para o Rio de Janeiro e nesta mesma semana a TAM informa que a classe média não terá mais seu voo para Miami. Os chefões do Distrito Industrial não compram sequer pasta de dente aqui.
Esse modelo não tem competência nem mesmo para pavimentar as avenidas do Distrito Industrial, onde os terrenos foram dados de mão beijada. A tal taxa de serviço, que o STF acaba de derrubar por ser ilegal, e que rendia bilhões de reais, ia direto para Brasília alimentar os interesses escusos do Planalto. O missivista esperneia por que classifico o modelo como uma mera esteira de montagem e trabalho alienante no mais puro sistema taylorista. E ele mesmo demonstra o processo de makeup: cada componente é “montado” numa planta do Distrito e depois levado a uma linha final de montagem onde são parafusados por mão de obra que recebe até 14 vezes menos que um operário na matriz da mesma multinacional. A grande contribuição cultural é a perícia com que nossos operários manipulam a chave de fenda. Nenhum desses componentes foi criado aqui e nenhuma tecnologia aqui se produz neste modelo predador. O presidente da Bulova revelou que estava contratando cada vez menos trabalhadores na Suíça porque ali estava difícil encontrar idiotas que aceitasse as condições de trabalho e os salários que ele oferecia. Onde será que ele encontrou esses idiotas? A Zona Franca foi um ato autoritário de uma Ditadura, que não consultou ninguém de Manaus, imposto sem nenhum planejamento, sem a participação da Universidade Federal do Amazonas ou qualquer secretaria de estado? O resultado foi esse que o senhor não consegue ver e que está para além da janela de seu escritório. E tem mais, moro em Manaus, já morei em muitas cidades: São Paulo, Rio, Nova Iorque, Paris. Mas a minha cidade é Manaus, onde nasci. Compreendo que o senhor esteja defendendo o seu emprego, não o futuro de Manaus ou do Amazonas. E para completar o ultraje, pagamos imposto de renda e a Honda não!
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