(1993)
Não é saudação de políticos
Nem proselitismo de religiosos
Que te quero dedicar:
Apenas uma palavra!
Não te quero oferecer louvores.
Flores? Onde colocá-las?
Se não possuis vasos, jardins, alamedas!
Talvez, um dia, um túmulo em terra firme!
Não te quero exaltar
Com estranhos dotes altaneiros,
Nem te imputar a posse
De convicções suicidas
Dos faccionários.
Nem te jubilar quero
Com esquisitas menções honrosas
Dos que te colocam acima
De tuas reais medidas,
Para te seduzir,
Sabe lá com que intenções!
Também não penso em te censurar
À maneira das colonagens
Que aqui chegam de outras paragens
Conhecedoras de outros brasis (que não é o teu!)
Porque sei que não compreenderás
A homilia, o discurso, a dialética, o poema!
Assim como não compreendes bem
Porque te chama de indolente
Os que não te respeitam
A índole cautelosa
Ante as ameaças latentes
Rondando o teu jirau.
Se te esquivas
Diante de pressupostos civilizatórios,
Não é porque não te agrade o bom viver,
Nem porque não desejes ter uma vida sem malefícios,
Mas porque o teu proceder,
Deve fazer jus aos teus genes.
Os teus olhos acostumados
à luxúria da floresta,
não deixam que te rendas
ao modismo, à farsa e ao teatro.
Tu que só convives
com leis implacáveis
e um infeliz lapso
pode até significar
tua passagem sem vida
por cima das restingas brutas,
atulhadas de répteis!
É redundância eu te falar
No exotismo das flores
Pois sabes que, muitas delas escondem
Letais ascídias, traiçoeiras e reais.
Que posso te oferecer,
Além do que pode oferecer outro igual?
Em tua face, continua estampado
o ceticismo que é a tua identidade.
Teus olhos mudos
Orbitam pelos estirões,
Denunciando um mistério a mais no planeta:
Um fragmento da raça humana
Tão perdida em suas variações!
Em teus lábios, estão retidos
Um grito e um sorriso,
Deixados pelo ancestral venturoso
Que guardas para outras gerações!
Tua voz de um silêncio gritante
Que agoniza nos beiradões,
Não a ouve quem te seduz, quem te rodeia,
Quem te faz um cerco irreversível,
Diminuindo teu mundo, cada vez mais!
Para onde foi tua herança de fartura das várzeas,
De que falavam os antigos relatores?
Hoje, os novos senhores, até de cobram pela falta de perícia,
Incapacidade para defender teu solo!
Cobram-te por ontem e por hoje!
Como? Se nunca dispões
Da propícia montaria
Nos momentos cruciais!
O teu mundo é grande demais
Para que tu possas guardá-lo adequadamente.
Aliás, nem sabias que precisava ser guardado,
Ou mesmo que ele te pertencia!
És tu o estranho guardião
De tuas próprias riquezas,
Que, de direito natural, seriam tuas,
Não fosse tanto falatório,
Fazendo com que acredites
Que todas essas coisas
Pertencem à Humanidade!
Ora, a recíproca é verdadeira, pensarás!
Pois sim! E por que as benesses da humanidade
Não te pertencem também?
Exigem de ti que guardes
Toda a biogenética e os bancos enigmáticos
De dados insuspeitáveis que – dizem! – salvarão a humanidade!
Como podes guardar tão valiosos tesouros
Se não podes nem com o impaludismo
E a verminose consome tua prole.
Dois males que, por si só,
Obrigam-te a declinar
De tão graúdas responsabilidades.
E talvez não seja de todo ruim
Desconheceres o que te mandam guardar.
Diante de tantas potencialidades em tua mão,
Ficarias ambicioso e perdulário,
Igualmente aos pseudo-sábios que te pesquisam,
E não te dizem tudo o que sabem,
E escondem de ti o mais importante!
Como poderias conviver com poder
Do nióbio-titanato?!
Já te apresentaram a bauxita,
A quernita, a psilomelanita, a terita?
Nomes de fêmeas não são!
Nem mesmo das partes delas.
Talvez até sejam
Modernas denominações
Das Novas Amazonas
Provocando guerrilhas
Nos laboratórios globais,
Personagens de uma história anunciada
Que certamente não será a tua!
Interessa-te, isto sim, a linha horizontal
Marcada na ribanceira
Onde a ariramba faz o ninho
E pela qual sabes a meteorologia
Da estação seguinte.
A enchente e a vazante
Merecem toda a atenção!
Se o Sol, de amazônico ouro, ainda pousa em teu rosto
Como um irmão que te conhece;
Se a Lua, de plurais faces
– que nem poronga viajante no céu da madrugada –
Ainda te vigia, indicando o perigo;
Se o Rio, de obscuras águas,
Ainda te mostra, na líquida espera,
O alimento substancial,
Tens todo o direito de permanecer (ainda) a salvo
Das loucuras dos civilizados
Das bolsas de commodities,
Das grandes negociatas,
Até um dia, quando acordares
Para ser feliz ou infeliz,
Capitalizando (não há outra saída!)
Tem imenso império depositado nas águas,
No subsolo, nas plantas
Da tua Amazônia!
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