Manaus, 16 de setembro de 2024

As palmeiras da praça de Rosário e outros poemas da vida

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*Manoel Domingos

Continuação…

I SONETOS BEM INTENCIONADOS 

SONETO À VELHA SERPA

Velha, cheia de ousados possidônios,
Serpa, para os meus ávidos primores,
Tens a custódia de meus desamores,
ITACOATIARA, fizeras meus sonhos!

Com o tempo, os súcios da civilidade,
Escusos do dever para contigo,
Deixaram-te, contudo, ao desabrigo,
Quanta demência, ó nobre cidade! 

Com isso ficou grande o desconforto:
Os teus munícipes, as tuas vias…
Com grande penar, fico-me absorto.

E às vezes, não me tenho em alegrias,
Deliro… De delírios fico morto,
No ensejo, traço a SERPA destes dias.

Janeiro/1991 

SONETO PARA OS SEUS CUIDADOS 

Cuida de mim, ao menos na distância,
Quando se despojam a lua e o sol,
Quando se afastam as luzes do arrebol,
Cuida de um grito perdido na infância… 

Em toda esquina dessas avenidas,
Sigo esticando olhares e horizontes.
Cuida de mim que sob tantas pontes,
Fecho o olhar frio com tantas árduas vidas.
Desculpa meu jeito de vida hostil
No orvalho… Na grama… No lar relento
Canta uma elegia p’ra esse momento,

Dê-me o pão… O livro!… O amor que fugiu
Do rumo alado que não quis assim…
Faz um verso ao menos… Cuida de mim! 

SONETO INTRINSECO 

Há uma sombra interna em mim que chora,
A crua distância de um olhar sereno.
E, na orgia lerda de um canto ameno,
Faz-se nácar, a cor de uma aurora.

A aurora casta que num dia aos poucos,
Fiz navegar em sonho o brilho fausto
Do amor. Carpiu, corou, vivi e exausto
Da incapaz firmeza, cedi aos poucos.

Aos poucos na incerteza do sentir,
Ruí, no fino êxtase da vida,
Tripudiando a sina mal nascida.

Nascida e aposta, eu tentei seguir,
Mas vi no coração a vil querência:
O oco Amor na intrinseca existência.

Abril/1990

SONETO DO ARAÇA

N’água calma do Lago do Araça,
Após a foz do Lago do Batista,
Os Castros numa família altivista
Cresceram e assim formaram mais que um lar. 

Tios: Duquinha, João, Chico e Lourenço
Venciam na dureza relutantes;
Palmira e do Carmo dobravam o senso:
Queijo e farinha em suados instantes.

A rigidez do ancestral comedido,
Levara-lhes ao natural porvir,
Em gado e pesca…eitos bem vividos.

Babaçu era o campo dos seus ais,
Mato grosso, castanha e uxi:
Assim era o Araçá tempos atrás.

II. SETE SENTENÇAS

1. A ESPERANÇA

Eu já os vi no mormaço,
De costas para um rio,
Não era manhã, nem tarde,
Tinham sentidos da noite.
Eu os vi fazendo gestos,
De costas p’ra solidão,
Seus sentidos ambulantes,
Amarravam sua razão.

Eu os vi na madrugada,
De costas para a ternura,
Cantavam outras canções,
De incerteza e de amargura.

E na química surreal
Engatinhando na esquina,
De costas p’ra quem lhe quer,
Jovens semimortos sim,
Sem Deus, sem sonho e sem fé.

Há tempo! Ainda há tempo.
Talvez não seja tão tarde…
Jesus, bom senso e verdade,
Quer seus sonhos… Quer amá-los
Ele é seio e conversão…
E um dia os veremos dizendo:
“Vida, Sim… Droga? Não!”

Continua na próxima edição…

*Natural de Itacoatiara/Am. Poeta, professor e escritor. Membro da Associação dos Escritores do Amazonas, da Academia de Letras e Cultura da Amazônia, da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-amazônicos e do Movimento Internacional da Lusofonia. Professor efetivo da UEA. Mestre e doutorando em Letras pela UTAD (Portugal). Fundador da Sociedade dos Poetas Porunguitás.

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