Manaus, 22 de novembro de 2024

As palmeiras da praça de Rosário e outros poemas da vida

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*Manoel Domingos

Continuação…

III. ALTERIDADES

EM JUIZ DE FORA

Da Rua Halffed ao Campus, havia diversos gemidos:
Um, do frio da meia-noite,
Outro, dos inconstantes calafrios
Das seis e das dezoito,
E isso era um açoite que me regrava afoito

Ao pegar “o pretão” para o ICHL,
E nas idas e vindas do refeitório-mirante,
Sentia-se na pele, de novo, frio e calafrio…
Constante.
Por isso escrevi um dia:
“Que terei feito por cá, terra de toda estação?”
Que não tenha feito por lá, na Pedra do coração?
Pois num só dia todas as estações se irradiam…
E era frio como diabo!

Seguia mesclando a galeria Constança,
Pela Batista de Oliveira,
Traduzi espaços sãos
Que até hoje não nos importunam,
Mas havia e há vagas para tantos SOS,
Meu Deus! Salvai o Paraibuna!

Com a saudade da banana frita
E do pirarucu… Chegava-me ao filé de traíra,
E ao tradicional angu,
Bons, como mel de jandaíra.

Vi o redentor no alto da Marechal,
Sinalizando querências,
Ao amigo Abi, japonês,
Que não ia à catedral.

Na Getúlio ou na Rio Banco,
Meus versos corriam frientos
Nesses paralelos flancos,
Pois não havia deveras cio,
Somente frio. Somente frio.

E o tempo não poupava cobrança…
Muitos amigos… As Scher, Gilvan,
Denise, Marisa e Paiva, entre outros,
Abordavam-nos entre Livros e cafés,
Na cilada do tempo, melhor era cobrir os pés
Deixando o pulso vivo a tudo aquilo
Que fui buscar… Na terra de Murilo.
—————————–(Junho/99)

REDONDILHAS PARA MAIORES E MENORES

Na madrugada de caos,
E véu de noite sem chão,
Ouvem-se gritos da vida,
Sibilos de solidão.
Vêem-se meninos… Meninas,
Cansados ao seio da fome:
Alvos distantes e presentes…
– Moço, não tenho nome!

Traindo o caleidoscópio,
Nas tantas flores opacas,
Nos poemas sem aquarelas,
Viram os alvos do ópio,
São “colados” sentinelas…

Na cor das loucas insônias,
No sono e no vago instante,
Fazem-se leve agonia
Cantando sonhos de dor…
Rimam falsas melodias:

“- Borboletinha querida,
Borboletinha amarela,
Trouxeste felicidade
Pra colorir minha janela?”

“- Borletinha, me leva
Nos ventos da enseada,
No acorde de um violeiro,
Ou num sonho passageiro.”

“ Borboletinha, eu quero!
Eu quero um tapete mágico.
E uma lua só pra mim,
Pra sair dessa agonia,
Ao pó de pir lim pim pim?”

Não reparem na elegia
Que ressalta tantas dores
Pois há na terra e há nos rios
Cantigas e dissabores.

Seguem sonhos, sinergias,
Mesclados nas cenas cruas,
Riem os meninos tristes,
Vagando ao clarão da lua…

Em canoinhas partiam.
Nos escuros becos seguiam,
Ali cantando ou chorando,
Levando a vida, sozinhos,
Queriam os sonhos… Queriam.

Manhã que não foi de sol,
Tarde deveras nublada… Vozes…
Vozes já sem canto,
Tempo sem noite enluarada.

São manhãs, tardes e auroras.
São porções e são repentes,
São lições para aprender,
São redondilhas da gente,
O que se pode fazer?

DITADO DE JANEIRO NO JAUARY

Senhoras da lida,
Do São Jauary
Têm úmido olhar,
Têm muita alegria,
Banhadas de orgia?
Não, quais, só de canto
E de muita alegria…

Senhoras sabidas
Que foram contar
A história da rua,
Puseram a dançar:

“Chuva de janeiro,
Que banha meu corpo,
Me traz fevereiro,
Com paz e conforto…

Cantavam e bailavam,
As outras senhoras,
E eu a escutar,
A velha que implora.
Não era lundun,
E nem Serafina,
Mistura de passos
De risos e abraços,
Em todo o terreiro…

“E dança da chuva,
Água de janeiro.”
Confronto das velhas,
Não é temporal
É o coro que soa
Da rua Oriental,

Senhoras brincantes,
Que em início de ano,
Com água da chuva
Molhadas gritavam:
“Chuva de janeiro
Da rua Oriental
Me traz fevereiro
Me banha, afinal.”

E a velha seguiu:
“Juntavam-se todas,
No Auto da dança,
E a lavra da chuva,
Armava a festança.

Janeiro de águas,
De cantos e risos
Presságio que farta
De cantos e rimas
O simples lugar,
É mera alegria:
Senhoras-meninas.”

Mil casas se foram
Pra longe daqui.
Moravam distante,
Já sem o mirante
Do rio pra assistir.

No tal Bairro Novo
Araújo Costa,
Ficaram os parentes,
Que eram das danças,
E sangue da gente.

“Chuva de janeiro,
No meu Jauari
É festa, é dança
Morremos aqui.”

Continua na próxima edição…

*Natural de Itacoatiara/Am. Poeta, professor e escritor. Membro da Associação dos Escritores do Amazonas, da Academia de Letras e Cultura da Amazônia, da Associação Brasileira de Escritores e Poetas Pan-amazônicos e do Movimento Internacional da Lusofonia. Professor efetivo da UEA. Mestre e doutorando em Letras pela UTAD (Portugal). Fundador da Sociedade dos Poetas Porunguitás.

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