No tempo em que alguns esperam e anunciam o fim dos jornais impressos pelo mundo, dei-me a recuperar um pouco dos registros históricos sobre a organização de entidade dos jornalistas em Manaus, estes que são os grandes artífices de transferir a informação ao grande público, sempre fiéis à verdade, procurando relações sérias com fontes confiáveis e prestando, assim, um serviço de elevado interesse coletivo.
Instigados pelo barão de Sant´Anna Nery, um dos nomes mais ilustres do Amazonas do tempo do império E que durante muitos anos residiu e representou a região na Europa, especialmente em Paris, e que na ocasião se encontrava em Manaus, animou o interesse de vários jornalistas da época a se reunirem para a formação de uma organização de classe, proposta ou ideia que vinha sendo cogitada e propalada a boca pequena, desde há muito, por Fran Pacheco, outra figura de projeção nacional que residiu e trabalhou em Manaus na época áurea da borracha.
Com o estímulo do barão, estes escritores se reuniram em 1.º de novembro de 1889 em evento que também serviu para festejar Sant´Anna Nery que chegara no vapor “Jerome”, com mais ou menos 50 anos de idade, depois de ter sido orador e conferencista no Congresso Literário Internacional de Paris, formar-se em Direito em Roma e em Ciências na cidade Luz. Na terra em que sua família (Silvério e Constantino, seus irmãos) eram senhores poderosos, ele se transformou em líder deste movimento de jornalistas formando a associação que pode ter sido a primeira entidade de profissionais de imprensa amazonense.
A sede utilizada para a reunião da organização da Associação foi na Avenida Epaminondas, n.º 6. Por lá estavam João Barreto de Menezes – o rebelde filho de Tobias Barreto -, Raul de Azevedo, Alberto Moreira, Fran Pacheco, Silvério Nery, Hannibal Porto, Raimundo Nery e Armando Berredo, todos eles nomes de primeira da intelectualidade local e figuras exponencias do jornalismo manauense.
A Associação juntava-se a outras organizações importantes que existiam na capital, como a Academia Nacional de Belas Artes, o Conservatório de Música, seis jornais com circulação diária e regular, a Escola Normal, o Ginásio Pedro II e a Biblioteca Pública, esta que fora iniciada em 1871 funcionando no consistório da igreja matriz.
Estavam às vésperas da queda do império que viria a acontecer em razão do golpe militar de 15 de novembro de 1889, e, sem conseguirem prever esse fato, ainda debatiam as necessárias mudanças no Gabinete Imperial, os riscos de um Terceiro Reinado com o conde d´Eu, as dificuldades das relações dos militares com os barões, condes, conselheiros e a Família Imperial, a defesa da permanência do imperador, mesmo abatido e doente, tudo isso como assuntos que estavam em todas as rodas de conversa, nos cafés, nos entreveros políticos entre conservadores e liberais, e, quase sempre, nas entrelinhas dos jornais ou em manchetes de veículos de representação partidária.
Mesmo iniciada pelos principais do jornalismo amazonense de então, impulsionada por um dos nomes mais conceituados da época, com o nome de Associação de Imprensa Amazonense, dela não se tem notícia de vida longa, mas a forma de representação desses profissionais da escrita e da palavra não se modificou muito, e, tempos depois, outras entidades do gênero foram organizadas como a Associação Amazonense de Imprensa, de vida longa e profícua, formada por nomes do maior respeito intelectual e moral, tudo culminando com a fundação do Sindicato dos Jornalistas que, ainda agora, e com muito empenho, resiste a todas as tempestades da modernizada das relações de trabalho e de convivência associativa.
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