Manaus, 23 de novembro de 2024

Beiradão, beirada, beira de rio

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Recebo e-mail de meu amigo e irmão Dr. Antônio Loureiro nos lembrando que os meninos e meninas de nosso tempo ouviram muitas vezes, como cantiga de ninar:

Murucututu da beira do rio./ Murucututu da beira do rio./Quando sapo canta ô maninha. /É porque tem frio. Ou ainda: “Murucututu de cima do telhado./ Murucututu, de cima do telhado./Vem pegar este menino, que ainda está acordado. Essa versão, possivelmente mais urbana e diversificada, é de fazer qualquer curumim morrer de medo e pegar logo no sono.

De acordo com Dr. Loureiro as crianças do alto Rio Negro ainda ouvem e cantam assim. Não é mágico?

Murucututu é o nome de uma coruja bem pequena. Para alguns ela traz sorte. Reza a lenda, de origem indígena, que Murucututu seria a mãe do sono. Seu papel é fazer adormecer as crianças que demoram a dormir. A lenda diz ainda que Murucututu “empresta” o sono para as crianças.

Muito conhecida também é a música da Cuca: Nana neném que a Cuca vem pegar/ papai foi para roça/ mamãe foi trabalhar. Mas não é tão amazônica como a nossa Murucututu. É mais do sul/sudeste. Mesmo porque temos poucas “roças” por aqui. Planta-se nas várzeas e igapós.

Ah! Sim! Temos a beira do rio. A beirada, os beiradões. Um dos clássicos de nossa literatura amazonense é o livro Beiradão, de Álvaro Maia, poeta e escritor. Álvaro Maia foi governador e senador por nosso Amazonas. Nessa obra, relata fatos e personagens das beiradas do Rio Madeira, onde nasceu. O Beiradão, a beirada, a beira do rio é onde habita as Murucututus.

O beiradão é tão marcante, tão importante que virou gênero musical. Virou um ritmo típico das beiradas, das beiras dos rios. O beiradão é expressão cultural diversificada. Envolve também dança e festas às margens dos rios. Onde moram as murucututus, claro.

Ah! Mas as coisas mudam! Há uma nova versão para a música do murucututu. Substituíram o mucucututu pelo Sapo Cururu. Que também mora na beira do rio e tem até mulher.

Sapo cururu da beira do rio/ quando o sapo canta ô maninha/ é porque faz frio. A mulher do sapo / Deve estar lá dentro /fazendo rendinha, ô maninha, para o casamento.

Não é só isso. Agora chamam os beiradões, as beiradas, a beira do rio de orla! Eu até concordo que o sapo cururu possa morar na beira do rio, como a murucututu. Agora, chamar beira de rio de orla! É muita pavulagem!

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