A Academia Amazonense de Letras, fundada em 1918 com o nome de Sociedade Amazonense de Homens de Letras vai comemorar no próximo janeiro, e por todo o ano vindouro, o seu centenário,
Os festejos deverão estar à altura das tradições da Casa de Adriano Jorge que foi seu primeiro presidente, permanecendo no posto por sucessivas reconduções, por 30 anos.
Sonhada em noites altas de boa conversa entre Benjamin Lima, José Chevalier e Péricles, Moraes, poderia ter sido como tantas outras tentativas que a precederam, sem vingar, fruto do idealismo de sonhadores e letrados, eruditos mesmo, que ainda resistiam ao desastre da economia da borracha e ao abandono da cidade de Manaus.
Passados tantos anos, estando pujante e forte, representativa do escol das letras e da literatura amazonenses, olhando e aprendendo com esse passado nem sempre de intensa atividade, é possível cogitar que a academia perdurou fundada em vários alicerces vigorosos como a boa escolha dos nomes de fundação; o empenho para uma convivência sempre amigável e fraterna pelo menos entre a grande maioria dos seus membros; a existência de uma sede própria que tem servido de polo catalisador dos interesses da sociedade e reunião dos acadêmicos; a plêiade de ilustrados cultores das boas letras que têm ocupado as suas poltronas azuis, mesmo que alguns tenham tido curta permanência; a capacidade de renovar seus quadros sem guardar mágoas ou dores nem daqueles que, algum dia, nos arroubos de antes a rejeitavam publicamente; e, mais ainda, a contribuição decisiva de governantes e da sociedade que compreenderam a relevância da entidade.
Criada pela presidência com aprovação da Diretoria e da Assembleia Geral uma comissão especial formada pelos ex-presidentes e o decano da Academia traçam, paulatinamente, os festejos comemorativos do centenário os quais, conforme os tempos que vivemos e a história da instituição deverão ser solenes, ricos em contribuição literária e artística, mas sem ostentação.
Urge, para maior brilhantismo da programação, que haja um despertar coletivo para a representatividade do evento, aliás, trata-se da segunda entidade cultural a alcançar a marca centenária, vez que o Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas está, ainda agora, no curso de iguais festejos.
Casa de literatos por excelência, mas também daqueles que, afeitos à literatura e às letras também foram e são médicos, jornalistas, juristas, advogados, magistrados, religiosos católicos, judeus e protestantes, professores, químicos e cientistas sociais a constituírem um mosaico curioso inclusive de maçons e profanos, que, durante muitos anos não concedeu primazia à companhia feminina em suas poltronas, mesmo tendo aberto uma fresta com a escolha de Violeta Branca bem antes do cinquentenário de fundação, e somente em tempos bem modernos tem acolhido poetas, jornalistas, filosofas, professoras e cronistas, e até elevado a primeira mulher à sua presidência. Vinha sendo, portanto, por longos anos, uma casa de “senhores”.
No centenário há de ofertar lições aos que depois de nós romperem seus umbrais para dela cuidar, e que sejam igualmente zelosos com a tradição e as honrarias, atentos aos fazeres e dizeres que a caracterizam para que, cada qual continue sendo a boa semente fiel ao ideal inquebrantável que reuniu os príncipes que a moldaram ainda nas noites de dezembro de 1917.
Somente assim haverá um brilho azul e dourado permanente na Academia Amazonense de Letras: uma estrela centenária.
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