Elaborada em homenagem aos 104 anos da Escola Estadual Coronel Cruz, de Itacoatiara. Lida pelo Autor em sessão especial da Câmara Municipal de Itacoatiara, no dia 31/03/2023).
No século XIX, dois acontecimentos memoráveis da história brasileira foram a proclamação da Independência, em 1822, e a outorga da Constituição de 1824. A Independência livrou o Brasil da condição de colônia e a primeira Carta Magna do nosso País trazia a ideia de um sistema nacional de educação e prescrevia que a educação primária seria gratuita para todos os cidadãos.
Logo depois, dom Pedro I (1798-1834) baixou a Lei da Instrução Pública, de 15 de outubro de 1827, regulamentando pontos importantes para o funcionamento da educação em todo o Império, estabelecendo procedimentos nesta área, de norte a sul, e abrangendo temáticas como: expansão de escolas públicas, método de ensino, salários para os professores, currículo, admissão e repetência.
Além de determinar a construção de escolas de primeiras letras “em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos”, a Lei imperial de 1827 previu a abertura de “escolas só para meninas sob a égide de mestras” (título das educadoras, à época). A inserção de mais pessoas do sexo feminino no setor educacional – uma área então dominada pelos homens – era uma proposta inovadora, talvez revolucionária e, como tal, trouxe grande inquietação às elites imperiais.
Dom Pedro II (1825-1891) herdou o trono em 1831, aos 5 anos de idade, depois que seu pai, dom Pedro I, abdicou e deixou o País em exílio. Até a coroação do novo imperador, aos 14 anos, o Brasil foi governado por regentes nomeados pelo Congresso. Embora conturbado, o período representou o início da formação intelectual de dom Pedro II, o qual, no dia 18 de julho de 1841, foi coroado Imperador do Brasil.
O governo de dom Pedro II favoreceu a construção de espaços de cultura e saber nas diversas regiões do País, possibilitando o acesso às instituições com destaque para a educação, aí incluídas as escolas normais destinadas à formação de professores, sendo esses estabelecimentos considerados “pontes naturais para a entrada de mulheres no ensino superior”. Uma das primeiras construídas no Brasil foi a Escola Normal de Manaus (atual Instituto de Educação do Amazonas), instalada em 1882.
O golpe militar de 15 de novembro de 1889, liderado pelo marechal Deodoro da Fonseca (1827-1892), derrubou a Monarquia e instalou a República. O Brasil ingressa em uma nova dimensão política. O governo representativo foi instaurado e colocou-se em questão o modelo educacional herdado do Império, que privilegiava a educação da elite em prejuízo da educação popular primária e profissionalizante.
Na vigência da Constituição de 1891 foi instituído o sistema federativo de governo e a responsabilidade pela educação foi atribuída aos governos estaduais. Reformas pontuais mantiveram a gratuidade de ensino e definiram o ensino seriado, assim organizado: escola primária composta pelo 1º grau, para crianças entre 7 e 13 anos, e de 2º grau, para alunos de 13 a 15 anos.
Em 1896, funcionavam na cidade de Itacoatiara seis escolas primárias: cinco do sexo masculino e apenas uma do sexo feminino. No interior do Município, eram três escolas para meninos e três para meninas. Os professores eram contratados pelo Estado e a remuneração mensal dos que trabalhavam na área urbana correspondia a 320 réis (valor aproximado em moeda de hoje: 40 reais); e a dos professores do interior, a 280 réis (equivalendo atualmente cerca de 35 reais).
Esse tabu de gêneros – escola para meninos e escola para meninas – sempre foi um problema nacional. Teve origem no período colonial, fortaleceu-se no Império e se expandiu na República. Produto do modelo pedagógico em que meninos e meninas estudavam em escolas separadas, as tais escolas singulares só entrariam em declínio depois da década de 1950, quando as escolas públicas passaram a ser mistas. O ingrediente fundamental para uma educação de qualidade foram as escolas isoladas, as quais, embora nascidas no Império, foram disseminadas no período republicano. Sem dúvida, a união de meninos e meninas em sala de aula potencializa as aprendizagens e ajuda a formar vínculos que podem se tornar amizades para toda vida.
A escola primária consolidou-se na sociedade brasileira como instrumento de seleção e classificação dos indivíduos, determinando as relações dos sujeitos com o mundo e com o universo sociocultural. O percurso histórico que seguiram as escolas mistas, iriam se consolidar nos grupos escolares marcando a proposta modernizadora do projeto de educação do Brasil.
De acordo com o professor emérito da UNICAMP, Dermeval Saviani, “[…] Os grupos escolares constituíram um fenômeno tipicamente urbano, já que no meio rural ainda predominaram as escolas isoladas por muito tempo. O grupo escolar foi uma escola eficiente para a seleção e a formação das elites […]. Os grupos escolares também eram conhecidos como escolas graduadas, já que possuíam turmas seriadas”.
O primeiro grupo escolar criado no Brasil foi em São Paulo em 1893. O modelo escolar paulista foi implantado no Rio de Janeiro em 1897 e logo se espraiaria por todo o País. Os primeiros cinco grupos escolares de Manaus foram construídos entre 1898 e 1910. No início da República, os grupos escolares se tornaram a vitrina da educação no Brasil, constituindo-se como base da organização escolar por todo o século XX.
Na Primeira República (1889-1930) a educação escolar tornou-se instrumento para formação do cidadão, no sentido de solidificar o regime republicano. A escola de nível primário passou a aparecer no debate político em todo o País. Ela consolidou-se na sociedade brasileira como instrumento de seleção e classificação dos indivíduos, determinando as relações dos sujeitos com o mundo e com o universo sociocultural.
Durante o governo estadual de Silvério José Nery (1858-1934), no período 1900-1904, foi implantado nas escolas de primeiras letras o sistema de educação por etapas, que consistia em: (a) curso preliminar ou jardim de infância, ministrado nas escolas maternais; (b) curso elementar nas escolas rurais; (c) curso médio nas escolas singulares e grupos escolares; e (d) curso superior, prioritário na capital do Estado.
Em 1903, no Município de Itacoatiara funcionavam treze escolas primárias, sendo sete para meninos e seis para meninas. Na cidade eram quatro escolas masculinas e três femininas; e no interior, três masculinas e três femininas. Nesse ano, a professora Luiza de Vasconcelos Dias (1883-1962) fora nomeada professora da escola mista do bairro da Colônia. Um ano antes (1902), Luiza de Vasconcelos fizera estágio na Escola Normal de Manaus. Ainda em 1903, o botânico e livreiro Abdias de Paiva (c.1882-1927) fora nomeado pelo governo do Estado para ministrar a 1ª cadeira do sexo masculino de Itacoatiara.
No período compreendido entre 1915 e 1930, a Diretoria de Instrução Pública e o Conselho Estadual de Instrução, sediados em Manaus, superintendiam todas as etapas do ensino, inclusive as escolas particulares. Ao longo desse período, disputando a melhor colocação no quadro escolar, funcionaram em Itacoatiara as escolas dos eméritos Vicente Geraldo de Mendonça Lima (1881-1976) e Cassiano Secundo de Oliveira (1864-1932). O primeiro, cearense, foi tabelião, secretário da Intendência (Câmara Municipal) e da Superintendência (Prefeitura); montou a Escola Minerva em sua própria residência, à Avenida 7 de Setembro. O segundo, paraense, agrimensor, intendente (vereador) e autor da planta topográfica de nossa cidade, instalou sua escola no prédio histórico da rua Álvaro França, defronte à Praça Vital de Mendonça, ex-Delegacia Geral de Polícia e atualmente sede da ADEFITA.
Foi na primeira década do século XX que Itacoatiara ganhou o seu primeiro grupo escolar, intitulado Vencesláu Brás e mais tarde redenominado Coronel Cruz. Tal e qual seus congêneres espalhados por todo o País, ele constituía um modelo de estabelecimento de ensino caracterizado pelo agrupamento de várias escolas isoladas. Outros similares só apareceriam em Itacoatiara quarenta anos mais tarde: os grupos escolares Gilberto Mestrinho, Fernando Ellis Ribeiro e Mendonça Furtado
O Grupo Escolar Gilberto Mestrinho foi construído em 1959 e, mais tarde, por imposição da política de quebra ao culto à personalidade adotada no governo militar instaurado em 1964, teve sua denominação mudada para Grupo Escolar Luiza de Vasconcellos Dias. Os grupos escolares Fernando Ellis Ribeiro e Mendonça Furtado datam de setembro de 1966. Todos eles, sem exceção de nenhum, face à promulgação da LDB de 1971 (Lei federal nº 5.692) – que modificou a estrutura de ensino, na qual o curso primário e o antigo ginásio se tornaram um só curso de 1º grau – foram extintos; tiveram sua denominação mudada para escolas estaduais de ensino fundamental.
Importante esclarecer: no Amazonas dos anos 1950, como em todo o Brasil, o ensino primário, ou instrução primária, que constituía o primeiro estágio da educação escolar, com 4 ou 5 anos de duração, era precedido pela educação pré-escolar, fase esta em eram adotadas as Cartilhas da Infância, ou Cartas de ABC, que representavam o método mais antigo de alfabetização.
À época, proliferavam as escolas isoladas, como eram conhecidas as escolas mistas, também classificadas como escolas de segunda classe, que reuniam meninos e meninas no mesmo espaço escolar, à busca de aprenderem a boa leitura e a escrita correta, além de conhecimentos elementares de ciências, geografia, história, matemática e outras ciências sociais.
As escolas isoladas funcionavam nas próprias casas dos professores. Nas cinco primeiras décadas do século XX, tais casas de ensino responderam pelo atendimento da maior parte da demanda por educação primária em nossa cidade.
Havia diferença significativa entre os materiais destinados ao grupo escolar e às escolas isoladas, e tais diferenças não eram somente em relação à quantidade de materiais, mas diziam respeito também aos tipos disponibilizados. Não havia, por exemplo, para as escolas isoladas relógios de parede, mapas, quadros para horários, mobiliário específico e demais objetos de apoio ao bom desenvolvimento do trabalho docente.
Denominava-se Pré-primário o período de alfabetização, quando as crianças eram conduzidas ao aprendizado da leitura e da escrita. Durante muito tempo, as crianças não foram consideradas como sujeitos de direitos. Viviam à margem da família e da sociedade. Somente a partir da criação do Estatuto da Criança e do Adolescente, em 1990, seriam consideradas como alguém que tem identidade própria, cidadãos e cidadãs de direito. Então surgiram as primeiras creches e pré-escolas que no começo eram filantrópicas e, somente mais tarde, se tornariam públicas.
O Autor desta crônica, quando criança, fez o Pré-primário em 1954 e o 1º Ano A em 1955, ambos com a professora Raymunda (Diquinha) Auzier Moreira (1913-1971); o 1º Ano B em 1956 e o 2º Ano Primário em 1957, com a professora Cleide Rattes de Oliveira (1933-1968); o 3º Ano Primário em 1958, na Escola Vicente Telles, dirigida pela professora Maria José (Zezé) Athayde (1918-1985); o 4º Ano Primário em 1959, na Escola Progresso, da professora Maria Ivone Araújo Leite (1931-2011): e o 5º Ano Primário em 1960, no Grupo Escolar Coronel Cruz, então sob a direção da professora Mirtes Rosa de Mendonça Lima (1923-1989).
Nessa época, em quase todo o Amazonas, as classes de ensino reuniam alunos de todas as idades. Com a criação dos grupos escolares as classes passaram a ser distribuídas em série. Mas não havia, como há atualmente, um sistema organizado de educação pública, centrado nas redes de ensino estadual e municipal. Nos anos 1950 a maior parte das crianças em idade escolar estava fora do sistema. A função do ensino primário era a simples alfabetização. Raro era o professor ou professora a possuir diploma de curso superior.
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Como dito antes, a fundação do Grupo Escolar (atual Escola Estadual) Coronel Cruz ocorreu no início do século XX. Data de 1902 a ideia de se construir o imóvel. Em 18 de dezembro daquele ano, por determinação do governador Silvério José Nery, um servidor da Divisão de Obras do Estado foi designado para vir a Itacoatiara fazer a escolha do local que sediaria o estabelecimento. Sua construção exigiu vários estudos preliminares, como a medição da área e o orçamento da obra. O projeto, depois de pronto, foi levado à apreciação e aprovação das autoridades superiores.
Finalmente, em fins de 1914, na administração do governador Jônatas de Freitas Pedrosa (1848-1922) foi iniciada a construção do edifício, concluído em 1918, na gestão do governador Pedro de Alcântara Bacellar (1835-1927). Foi o primeiro prédio construído em alvenaria, especialmente planejado para sediar um estabelecimento público de ensino no interior do Amazonas. O segundo, do mesmo porte e igual característica, foi o Grupo Escolar Osvaldo Cruz, de Humaitá, no rio Madeira.
Prédio do Grupo Escolar “Venceslau Brás”, construído em 1919. Em 1932 passou a sediar a Prefeitura de Itacoatiara
Inaugurado no final de 1918, na administração do superintendente João da Paz Serudo Martins, o grupo escolar de Itacoatiara recebeu a denominação de Vencesláu Brás, em homenagem ao presidente da República Vencesláu Brás Pereira Gomes (1868-1966), que governou o País em 1914-1918 e foi responsável pela liberação dos recursos para a construção do referido imóvel.
Todavia, em 1923, o oficialismo estatal retirou do grupo escolar o nome do presidente Vencesláu substituindo-o pelo de Coronel Cruz, consoante o decreto nº 1.451, baixado em 15 de março de 1923 pelo governador César do Rego Monteiro (1863-1933), o qual, além de mandar “restabelecer” o antigo grupo escolar, trouxe à baila uma homenagem ao coronel da Guarda Nacional Miguel Francisco Cruz Júnior (c.1850-c.1923), que, desde a segunda metade do século XIX à segunda década do século XX, exerceu importante papel em Itacoatiara, com repercussões tanto na vida privada quanto na pública.
Patrono: Miguel Francisco Cruz Júnior – Coronel Cruz
Pernambucano, o novo patrono do grupo escolar tinha ascendência portuguesa. Seus antepassados estavam entre os mais antigos colonizadores que, a partir do século XVIII, se deslocaram de Portugal para o nordeste brasileiro e ajudaram a colonizar o alto sertão de Pernambuco. Miguel Cruz Júnior trabalhou muito e juntou bastante dinheiro. Com a perda dos pais e atraído pelo boom da borracha, resolveu aventurar em Itacoatiara. Chegou em princípios de 1870 e, desde logo, entregou-se aos negócios de compra e venda da borracha e de outros produtos regionais.
Formou entre os coronéis da Guarda Nacional, foi chefe político, administrador da Mesa de Rendas (1887-1889) e diretor do jornal O Conservador. Eleito intendente para o período 1890/1892, em seguida foi nomeado comissário executivo (prefeito), pelo interventor federal do Amazonas Thaumaturgo de Azevedo (1851-1950), cargo que assumiu em 13 de janeiro de 1892 e do qual foi destituído em 2 de março de 1892.
Coronel Cruz viveu a vida inteira na casa nº 2396, da antiga rua Silvério Nery, atual Luzardo de Melo, construída nos anos 1860 e que até hoje mantém os traços do período áureo da borracha. Referido imóvel sediou a Chácara Rocinha, uma grande área de terra repleta de plantações e criações, a qual dominava a maior parte do quarteirão central da então vila de Serpa – e que, nas primeiras décadas do século XX seria transferida à família de João Batista de Araújo Costa (1904-1986).
Casa nº 2396, da rua Luzardo Mello, em Itacoatiara, onde residiu o Coronel Cruz (da segunda metade do século XIX à segunda do século XX).
Coronel Cruz deu início à construção do Cemitério Divino Espírito Santo, no bairro da Colônia, substituindo ao Cemitério São Miguel, local atualmente dominado pela Capela de São Francisco de Assis, no centro da cidade. Faleceu em meados de 1923, aos 73 anos.
Em 1929/1930, na administração do prefeito Isaac José Perez (c.1876-1945), cinco centros escolares foram postos a funcionar: as escolas municipais Herbert de Azevedo, Isacc Perez, Agnello Bittencourt, Dorval Porto e Efigênio de Salles, a primeira no Lago do Batista e as demais na cidade. Dois anos depois, a segunda teve seu nome mudado para Escola Aureliano Paes de Andrade, a qual, em 1932 foi encampada pelo Grupo Escolar Coronel Cruz.
Em 1932, durante a gestão do prefeito Gonzaga Tavares Pinheiro (1890-1978), o Grupo Escolar Coronel Cruz foi transferido para um prédio de madeira onde funcionou a escola Isaac Perez (ex-Cadeia Pública), ao lado da Igreja Matriz, sendo no edifício original instaladas a Prefeitura e a Câmara Municipal, que antes funcionavam nos altos do Palacete Aquilino Barros, sito à rua Quintino Bocaiuva.
Por fim, em 1948 o Grupo Escolar Coronel Cruz passou a funcionar em sua nova e definitiva sede, um prédio em alvenaria sito à rua Monsenhor Joaquim Pereira, número 186, que faz frente para a Praça da Catedral. O lançamento da pedra fundamental do prédio ocorreu em 27 de julho de 1946, na Interventoria federal de Júlio José da Silva Nery, e a cerimônia de sua inauguração, presidida pelo governador Leopoldo Amorim da Silva Neves (1898-1953), deu-se em março de 1948. Referido imóvel sofreria, posteriormente, várias reformas adaptando-se às novas realidades.
Segundo Prédio-sede do Grupo Escolar – 1948
Desde que entrou em funcionamento, em 1919, até os dias atuais, a Escola Coronel Cruz integra a rede de ensino do Estado do Amazonas. Nesta, como em todas as escolas do País, até o surgimento da LDB de 1971, vigorou o Curso Primário (4 ou 5 séries). Foi na vigência desse sistema que, em 1960, matriculei-me no antigo grupo escolar onde concluí o 5º ano primário. No ano seguinte, submeti-me ao exame de admissão ao ginásio. Vitorioso, ingressei na Escola Comercial de Itacoatiara (atual Escola Vital de Mendonça), onde concluí o curso médio (1961-1964). Minha curta permanência no Grupo Escolar Coronel Cruz – apenas um ano – resultou numa bela experiência, forjou em mim um grande amor por esta Escola!
Em sua trajetória de mais de um século, a Escola deu guarida a cerca de 30.000 estudantes – um número muito expressivo, muito superior a um terço da população atual de Itacoatiara (avaliada em 110.000 hab). No começo (1919) eram apenas uns 80 alunos divididos entre os turnos da manhã e da tarde. Meio século depois (1969), já eram 240 (resultado de seis turmas, três em cada turno). Em 1993 contavam-se 300 alunos; em 2003, eram cerca de 350. E, finalmente, neste mês de março de 2023, são 478 alunos e alunas matriculados: o somatório de dois turnos (matutino e vespertino) vezes 8 salas resultando em 16 turmas. Nessa simples amostra de pesquisa quantitativa revela-se a pujança da Escola Coronel Cruz!
Atual Prédio-sede do Grupo Escolar
Em todo esse largo período, aqui mourejaram (e/ou mourejam) centenas de brilhantes profissionais (professores e professoras, servidores e servidoras), que – os quais, no passado e no presente – muito deram (e dão) de competência, de altivez, de dedicação e amor à esta instituição.
Importante referir o desempenho das seguintes antigas mestras, no largo período de 1920 a 1950, quer em sala de aula, quer no exercício da direção escolar: Inocência Vasconcelos; Maria da Costa Ferreira; Carmelita Cruz; Francisca de Menezes Fonseca; Mirtes Rosa de Mendonça Lima; Maria da Costa Ferreira; Olga de Oliveira Brandão; Alayde Lima da Costa; Olga Rego de Morais Figueiredo; Maria Odethe Albuquerque Silva; Izabel Rodrigues de Menezes; Marina e Neuza Teixeira, quase todas habilitadas pela antiga Escola Normal de Manaus. Aquele foi o período áureo da Escola, em que ela se firmou no contexto da educação amazonense.
Dando continuidade à meritória atuação desses antigos gestores, no período posterior a 1950 assumiram os seguintes diretores e diretoras, igualmente merecedores da nossa admiração e do nosso respeito:
Maria Aldezir Auzier Barreto: gestora da Escola em 1951; Nair Matos da Rocha Lima: 1952; Telezila Lima Lopes da Silva: 1952; Maria Aldir Auzier Barreto: 1953; Amélia da Costa Benarrós: 1954/1955; novamente Mirtes Rosa de Mendonça Lima: 1957 a 1967; outra vez Maria Aldezir Auzier Barreto: 1968 a 1974; Nilton Carlos Carmo de Lima: 1974; Mariana Monteiro de Alencar: 1978 a 1980; Sebastião Roberto Pereira de Nazareth: 1980 a 1982; Maria de Lourdes Silva dos Santos: 1982/1983; Dilma Martins da Costa: 1983 a 1986; Maria do Rosário Batista França: 1987; Maria José Alves Amazonas: 1987 1997; novamente Sebastião Roberto Pereira de Nazareth: 1998 a 2000; Ireide Maria dos Santos Travasso: 2000 a 2012; Kenny Marinho Isper Guedes da Silva: 2013 a 2018; Vilma Roma Alves: 2018; Maria Luiza da Silva Ribeiro: 2018 a 2022; novamente Kenny Marinho Isper Guedes da Silva: 2022; e Ocilena Pereira Rodrigues da Silva: 2022 até os dias atuais.
Enfim, cumpre a todos e a todas itacoatiarenses, sem nenhuma exceção, o dever de destacar o papel transformador deste secular templo do saber. Neste mais de um século, a Escola Coronel Cruz ajudou a desenvolver as habilidades socioemocionais de milhares de meninas e meninos que, mais tarde, se tornariam membros ativos da sociedade, seres históricos e sociais com capacidade de promover mudanças tendentes a melhorar suas vidas pessoais, familiares e da sociedade de modo geral.
Da relação de ex-alunos e ex-alunas que se destacaram nos mundos social, político, econômico, cientifico, artístico e cultural do Amazonas, exemplificamos: Raymunda de Menezes Vasconcellos Dias (1908-1980), vereadora, primeira mulher do Brasil eleita para esse cargo, em 1935, ex-presidente da Câmara Municipal de Itacoatiara; Vicente de Mendonça Júnior (1921-2009), deputado estadual e ex-procurador-geral do Estado; Antônio Vital de Mendonça (1925-1955), vereador, deputado estadual, patrono da Rodovia AM-010 e da Escola Vital de Mendonça; João Valério de Oliveira (1928-1973), vereador, advogado e deputado estadual; Osório Alves da Fonseca (c.1931-2005), biólogo e ex-diretor-geral do INPA; Euler Esteves Ribeiro, médico, deputado federal, ex-secretário estadual de Saúde e atual reitor da FUnATI; Elson José Bentes Farias, poeta, ensaísta, escritor, ex-secretário estadual de Educação e ex-presidente da Academia Amazonense de Letras; Marinildes Costeira de Mendonça Lima, juíza de direito, desembargadora e ex-presidente do Tribunal de Justiça do Estado; Antônio Batista, compositor e cantor romântico; Paulo Roberto de Paiva (1940-1987), advogado e ex-diretor do ITERAM; Francisco Auzier Moreira, juiz de direito e desembargador do Tribunal de Justiça; Ary Jorge Moutinho da Costa, juiz de direito, desembargador e ex-presidente do Tribunal de Justiça; Jurandir Cleuter Barros de Mendonça, deputado estadual e proprietário da Rádio Difusora de Itacoatiara; Pedro Bezerra Filho, procurador de justiça do Ministério Público do Amazonas; Walmir de Albuquerque Barbosa, professor e ex-reitor da UFAM; Antônio Nelson de Oliveira Neto (1947-1999), engenheiro, vereador, gestor do Porto de Manaus e da Administração das Hidrovias da Amazônia; Alberto Yannuzzi Neto, médico e vereador; e Raimundo Nonato Gusmão, o popular Natinho, compositor e cantor de MPB.
Os nomes acima representam um pequeno percentual da extensíssima lista de alunos e alunas egressos desta centenária Casa. Pequena parcela do universo de homens e mulheres que, ao longo de todos esses anos – ainda infantes, deram início a uma trajetória de esperança nas salas de aula do antigo grupo escolar e, ao depois, comprometidos e comprometidas com seus objetivos, seguiram à busca de maiores e melhores horizontes. Venceram, destacaram-se!
Crianças de ontem e de hoje; adultos e adultas de amanhã que se elevaram e/ou serão elevados aos patamares da Educação, da Ciência, da Cultura e das Artes. São, foram e/ou serão futuros grandes profissionais, mestres e mestras, doutores e doutoras de Itacoatiara, a serviço do Amazonas e do Brasil!
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Referências
Azevedo, Fernando de – As origens das instituições escolares. In: Cultura brasileira: introdução ao estudo da cultura no Brasil. Parte III – A transmissão da cultura, 4ª edição. São Paulo: Melhoramentos, 1964.
Bitencourt Agnelo. Corografia do Estado do Amazonas. 1925.
Blog www.franciscogomesdasilva.com.br / matérias sobre o assunto nesse Portal.
Calmon, Pedro – História de D. Pedro II. José Olympio, 1975.
Leite, Marlindo Pires. Fazenda Panela D’Água: genealogia séculos XVII-XX. Belém do São Francisco, 1994.
Rizzini, Irma – A Expansão da instrução pública pelas fronteiras remotas da Amazônia (1870-1880). In: Revista Brasileira de História da Educação nº 10 julho/dezembro 2005.
Saviani, Dermeval. O legado educacional do “longo século XX” brasileiro. In SAVIANI, Dermeval (et. al.). O legado educacional do século XX no Brasil. Campinas, SP: Autores Associados, 2004.
Silva, Adailton Soares da et Souza, Aneilton Oliveira de – Política educacional no Brasil: do Império à República. In Rios Eletrônica – Revista Científica da FASETE, ano 5 n. 5 dezembro 2011.
Silva, Agesiláo Pereira da cf Relatório da Diretoria da Instrução Pública, in jornal Amazonas, de 2 de junho de 1889.
Silva, Francisco Gomes da. Pesquisas a respeito em vários livros desse Autor.
Site: https://1library.org/article/eram-escolas-isoladas(…)-caracterizacao-aspectos.
Site: https://pt.wikipedia.org/wiki/Ensino_primario.
Site: https:// franciscogomesdasilva.com.br/grupo-escolar-coronel-cruz/
Site: https://www.webartigos.com.br/artigos/familias-que-colonizaram-o-alto-sertao-de-pernambuco.
Site: https:/www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/glossário/grupo-escolar
Site: https://www.histedbr.fe.unicamp.br/navegando/glossario/grupo-escolar.
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Uma resposta
É notório a grande paixão desse historiador por Itacoatiara. Tudo o que se refere a esta cidade é de seu interesse desvendar, típico, de alguém que ama sua terra, suas e raízes amazônicas. Sou seu admirador por ter esse ardor de buscar sempre o mais profundo, pois o povo que não tem o olhar de sua história, pouco valoriza sua gente. É por isso, que em sentido oposto a isso, esse homem representa a alma de ser itacoatiarense, pois ele sempre se emociona ao saber e contar sobre Itacoatiara. Somos privilegiados por termos um cidadão de tão elevada magnitude, Francisco Gomes.