Manaus, 4 de julho de 2024

Crônicas do cotidiano: A complexidade da economia e o cinismo à luz do dia

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Vejo no meu espelho cristalino uma grande confusão: um dragão vestido de técnico arrebatando as estrelas do firmamento enquanto é servido o banquete para os vencedores do certame. A interpretação dessa visão, como tudo, depende do lugar onde se está. Estamos no Brasil e o que se deduz da imagem é o obvio: a separação entre técnica e política é falsa! É a coisa mais cretina que se ouve todos os dias, toda hora, a iludir uma multidão de consumidores de notícias em todos os veículos de comunicação, incluindo a internet. “A decisão do Banco Central do Brasil, ao manter a taxa de juros para a economia brasileira no percentual tal, foi uma decisão eminentemente técnica”: mentira! No Banco Central, em nenhum país do mundo, mesmo nos países onde a sua independência dos poderes executivo e legislativo existe, a tomada de decisão não deixa de ser um ato político, pois acontece dentro e em função da Economia Política, que, só pode ser considerada assim, onde existe Estado, ente jurídico, que serve, também, para regular a economia e evitar que o “monstro” chamado “mercado” – ou “mão invisível”, usurpe as estrelas no céu e coma o doce sozinho. No estado liberal, leva em consideração as variáveis e interesses de poder econômico e político que se digladiam no cotidiano, motivadas pelos acontecimentos nos mercados internos e externos, na natureza, nas relações de poder no mundo das trocas globais, objetivas ou não. Em sendo este o caso brasileiro, falar, portanto, em medida técnica do Banco Central é falácia, da mesma forma que dar a ele independência total é dar-lhe um status de poder, o quarto poder da república, facilmente manipulado pelo mercado com a desculpa indecente de sua independência e tecnicidade para agir “melhor”. Toda vez que o Banco Central aumenta ou diminui a taxa de juros toma uma medida política, que atinge toda a economia, todas as relações de troca formais do mercado e afeta a vida de todos os cidadãos. Dizer que isso é técnico, apenas, é imbecilidade ou má-fé. E ouvimos isso todos os dias pela boca de áulicos do mercado ou por seus prepostos batizados de “comentaristas econômicos” na mídia. Não é preciso ser formado em economia para dizer isso. À luz do sol, qualquer brasileiro sabe que será afetado por uma medida do Banco Central do Brasil; sabe que isso afetará o seu bolso, a sua comida, as suas dívidas de cartão de crédito, o financiamento da casa própria, a passagem do meio de transporte que usa, a vida das empresas e poderá até influir no seu emprego ou na sua demissão.

A rentabilidade do capital financeiro depende da ação da política econômica do governo e do poder desse setor em influir na regulação das taxas de juros, pois seus donos vivem de renda, parte advinda dos juros da rolagem da dívida pública, isto é, do Estado Brasileiro, e das dívidas dos brasileiros em geral. Os bancos privados emprestam ao Estado quando a arrecadação em impostos não cobre seus gastos; quando há furos no Orçamento da União, quando poderes estranhos sequestram parte do orçamento (emendas parlamentares RP2), ou ocorrem fatos excepcionais para os quais não há previsão orçamentária nem fundo financeiro para cobrir gastos deles decorrentes. Ter conhecimentos sobre essas relações do Estado como os agentes financeiros do mercado é mais uma razão para não acreditar na “potoca” de que o sistema financeiro privado pode decidir sozinho os destinos da economia do país, e que vai agir com seriedade, equidade e honestidade.

Falando dos seres humanos que atuam no campo institucional, as capacidades técnicas que reúnem dados, fatos, tendências e opções para tomada de decisão política, temos que considerar que estes entes não são despidos de paixões, de ideologias e interesses pessoais. E vejam o perigo! São conhecedores de todos os “sigilos de estado”, da vida financeira de pessoas e conglomerados econômicos do país, e seus atos nem sempre se revestem de total isenção e lisura, embora sejam monitorados e sujeitos aos rigores da lei. O governo está encurralado e enfrenta um problema que não lhe adveio das urnas, mas da maldade da nossa elite, que tem o condão de mando no Congresso e na mídia e não atende aos interesses coletivos. Ao invés disso, investe no terror, no pânico recessivo e, para orquestrar a trupe, promove banquetes e deles não nos deixa nem as migalhas!

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