Manaus, 21 de novembro de 2024

Crônicas do Cotidiano: As Sete Pragas e a política brasileira

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Para início de conversa, prometo que a crônica não fará mau uso do texto bíblico do Êxodos, tratando das Dez Pragas do Egito (e não sete, como muitos pensam), mas também não nego que nele inspirei-me em algum sentido. Sobretudo na sua heurística para facilitar a compreensão do contexto. Somente para rememorar, as Dez Pragas lançadas pelo Deus dos Hebreus sobre o Egito buscavam convencer o Faraó de que a escravidão dos judeus era uma ignomínia, tal como o é hoje, em qualquer lugar, mesmo na forma análoga, como se tem constatado nas propriedades de latifundiários e bacanas aqui no Brasil. E são as seguintes: 1. Transformação das águas do Rio Nilo em sangue; 2. Invasão dos sapos; 3. A invasão de piolhos, pulgas e mosquitos; 4. Horda de animais selvagens; 5. Febre animal; 6. Propagação de furúnculos; 7. Invasão dos gafanhotos; 8. A tempestade de granizo; 9. Escuridão total; 10. O flagelo final. E o resultado delas, todo mundo sabe: o Faraó levou a pior, Moisés atravessou “a pé enxuto” o Mar Vermelho e conduziu o seu povo à Terra Prometida. Até chegar à atualidade, temos a Bíblia inteira, sua negação por hereges e a história da opressão na tal chamada civilização judaico-cristã, passando por povos diferentes até retornar à Palestina, onde a discórdia humana novamente gera o “terror”, sem que ninguém o segure.

Como para os “historiadores oficiais” não existe evento sem causa, no Brasil não foi um Deus que mandou as pragas, mas quem as rogou. Pode ter sido Dona Carlota Joaquina, que nos detestava; Dona Maria I, que mandou enforcar e esquartejar Tiradentes, ou, ainda, um puxa-saco qualquer de Dom Pedro I, após a abdicação ao Trono do Brasil. Fato é que alguém as rogou e disse: Vocês ficarão livres e buscarão a democracia, mas…! E aí vêm as Sete Pragas Brasileiras: 1. …Pairará sempre sobre vossas cabeças um “poder moderador”, que de vez em quando trabalhará em favor do atraso; 2. Em momentos de sucessão, do príncipe, do mais votado ou do ditador, a multidão de fanáticos manipulados pelas elites econômicas, políticas, religiosas ou armadas, aglomerar-se-á em preces, ajoelhada sobre a Bandeira do Brasil ou em marchas caudalosas, clamando ao Deus ex-machina pela indicação de um “ungido”, condutor do rebanho dos verdadeiros donos do poder; 3. Num futuro distante, depois de alguns avanços tecnológicos, um filho brilhante daqueles que deixaremos aqui perpetuamente, dirigirá um banco famoso, superior ao Banco do Brasil criado por nosso Dom João, e se colocará contra o progresso da manufatura, do pleno emprego e a favor da mais alta taxa de juros, que elevará nossos ganhos à distância e criará, também, um instrumento de Pagamento muito veloz que será usado por outro herdeiro nosso, na expedita transferência de Emendas Parlamentares para “amigos da causa”, que renderão frutos a dez por um, irrigando a corrupção e os próximos pleitos. 4. Os Partidos Políticos não terão lado e nem conotação ideológica que os impeça jurídica ou moralmente a permanecer com seus ideais renovados e preferirão um lugar ao centro para que possam pular, de quando em vez, para o lado mais conveniente, garantindo interesses próprios, tornando-se “carne de sua própria carne” e impedindo a morte política de seus primogênitos; 5. Os candidatos à Alcaides não incluirão em suas plataformas de governo o Saneamento Básico porque o sistema lhes garantirá os escravos ou seus equivalentes: para carregarem os penicos cheios de excrementos para os ribeirões; para proverem as bicas com água potável; e para levarem a sujeira das cidades aos lixões a céu aberto, sem prejudicar os negócios de aluguel de “carroças coletoras do lixo” e de “pipas d’água”; 6. A pretexto de ilustração cultural, os intelectuais orgânicos da nação, provenientes das classes dominantes, macaquearão as ideias eurocentristas mais retrógradas sobre os povos dominados e interpretarão a atualidade sempre pelo viés oficial da “cordialidade positiva” e da “democracia racial”, o que facilitará o embranquecimento a longo prazo, prorrogando o quanto mais possível as desigualdades sociais e o racismo; 7. A concessão dos meios de comunicação será dada às famílias escolhidas da elite e serão os fies guardiões do discurso domesticador e mistificador das verdades, para “garantia da lei e da ordem” e do domínio da consciência das massas. Não tenho certeza do nome da pessoa que rogou essas pragas, mas que elas vêm se materializando não resta dúvida!

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