Manaus, 18 de junho de 2025

Crônicas do cotidiano: Faltou Leonardo da Vinci em Paris

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Chegamos à metade de mais uma Olimpíada e, desta vez, em Paris, cidade-luz, berço das lutas libertárias e, também, das luxúrias e encantamentos nos dois últimos séculos. Entretanto, temos um porém: as Olimpíadas, onde quer que aconteçam, como paradoxo, apresentam as contradições do mundo e carregam, como diriam os menos otimistas, uma urucubaca. Lembrem que o terrorismo mostrou a sua face nas Olimpíadas de Munique (Alemanha, 1972), quando, em 05 de setembro, foram feitos reféns e mortos pelo grupo Setembro Negro, onze integrantes da equipe olímpica de Israel. Vale lembrar, ainda, que, na mesma Alemanha, nos Jogos de 1936, foi mostrada ao mundo “a supremacia branca alemã e a excelência do nazismo como ideologia e prática de governo”, contraditada, por um lado, pelo atleta velocista americano e negro, Jesse Owens, vencedor da medalha de ouro, irritando Adolfo Hitler que, por outro lado, já não escondia o seu ódio belicoso contra o resto da Europa. Para nós brasileiros, as Olimpíadas de 2016 no Rio de Janeiro, apesar das 19 medalhas conquistadas, melhor escore nas competições até hoje, é sinônimo de más lembranças. O tal legado da Olimpíada foi vendido como esperança a justificar uma miríade de progresso. Tudo seria desmontado depois dos jogos e generosamente distribuído em todo o país, criando novas praças desportivas. Nos endividamos, os patrocinadores ganharam o seu e a farra dos políticos terminou, para alguns poucos, em cadeia; e, sob a euforia dos jogos, tramou-se o Golpe que derrubou a Presidente da República, em 31 de agosto de 2016, ressuscitando o ânimo da nossa extrema direita e desencadeando a crise na qual ainda estamos mergulhados. Essa Olimpíada do Rio trouxe como novidade a Questão Ambiental para o centro das discussões, desde a organização do evento. Assim, teríamos como legado a despoluição da Baía de Guanabara, o cenário de todas práticas desportivas aquáticas de longo percurso dos atletas. Não deu para fazer muita coisa. Inventou-se de tudo para recolher o lixo, tapar esgotos que desaguavam nas praias e diminuir a podridão das águas, mas, na hora “H”, o serviço ficou incompleto e tudo ficou para um depois. Mas, a grande tragédia mesmo viria na edição seguinte (2021): o mundo viu espantado a primeira Olimpíada sem a presença de público, em Tóquio (Japão), em meio à Pandemia de Covid-19.

Paris (2024) prometia o maior espetáculo de todos os tempos, porque sabe fazer isso desde os tempos de Francisco I, quando o Rei Francês foi buscar em Roma e hospedou no Clos Lucé, “um solar de tijolos vermelhos…que ficava ao lado do castelo de Francisco I, no vilarejo de Ambroise, localizado no vale do Loire” o mais completo arquiteto dos grandes espetáculos: artista, engenheiro, pintor, ambientalista (antes que a palavra, o conceito e a ideologia existissem), anatomista e gênio da humanidade Leonardo da Vinci (1452-1519), que no dizer de Walter Isaacson, seu biógrafo (RJ: Intrínseca, 2017, p. 530), “era a melhor fonte do mundo no que dizia respeito ao conhecimento experimental – ele poderia ensinar praticamente qualquer assunto existente ao monarca, desde o modo como os olhos funcionam até os motivos que fazem a Lua brilhar. Em troca, o artista também poderia aprender com o rei jovem, erudito e elegante”. Se vivo estivesse e fosse o organizador do evento de Paris, os atletas disputariam a parte do triatlo nadando no Rio Sena, sem o perigo anunciado pelos infectologistas de serem acometidos por leptospirose. Teria drenado os pântanos, impedindo que o lixo e os coliformes fecais desaguassem nas cercanias da Île de France. Da Vinci, quando pintou “A Última Ceia” no refeitório da Igreja de Santa Maria delle Grazie, em Milão, foi perseguido pelo prior da Igreja com reclamações ao Duque Ludovico, que contratou a obra ao artista, dizendo que era pouco esforçado. O religioso encrenqueiro e o Duque enfezado tornaram-se um estorvo na vida do pintor e a considerada obra-prima carrega o selo da intolerância dos opressores, confirmando as palavras de Jesus nas quais foi inspirada: “um de vós há de me trair”. Por certo, em sendo o gênio responsável pela festa da abertura, não escaparia à intolerância dos extremistas franceses, que quase derrubaram o Governo Macron às vésperas da Olimpíada, xingaram a festa de abertura, sinalizaram que o inferno está próximo e fecharam os olhos para os que espalham o terror genocida aos imigrantes, o ódio mortal à paz e à democracia.

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