Manaus, 21 de novembro de 2024

Crônicas do cotidiano: Fui no Itororó beber água e não achei…

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Canção popular, ciranda de roda, brincadeira de crianças; de autoria desconhecida, de domínio público, embora alguns a tenham reivindicado como sua ou feito alterações; é uma unanimidade nacional e, por isso mesmo, dela me faço dono momentaneamente para iniciar uma reflexão, não tão profunda como gostaria, mas na forma que me é possível fazer. A partitura musical registrada pelo Maestro Heitor Villa-Lobos, em 1926, imortalizou-a. Tocada ou cantada, remete-nos à infância e às brincadeiras onde sem querer aprendíamos que o egoísmo e a vilania não compensam.

Na brincadeira do Itororó, o último a entrar na roda fica sozinho, porque não tem mais a quem chamar. Parece ser esta a sina do ex-Presidente da República, que foi ao Itororó dos Quartéis, animado por seus instintos autoritários e acompanhado por vivandeiras, e se deu mal. O golpe não veio, a reeleição não veio e os processos estão chegando numa velocidade nunca vista e o medo da solidão acende a luz vermelha. Os fatos desvelados parecem batatas quentes e ninguém as quer em suas mãos, a começar por aqueles que beberam do precioso líquido ouvindo o barulho das cachoeiras, que jorram do poder enquanto é poder. Quando as águas se tornam turvas, ninguém as quer beber e nem nelas quer navegar. Temos aí o prado dourado das convicções e o pântano enganoso da política. Por isso, tudo em nosso mundo é relativo, Caro Ministro, desde quando Albert Einstein nos revelou a sua Teoria da Relatividade. A inelegibilidade do Ex-presidente e a Relatividade da Democracia foram pratos cheios na ilha da fantasia. Tanto a Direita quanto a Esquerda continuam tendo pesadelos com a Ditadura do Maduro. A inelegibilidade é real, já a tal relatividade da democracia é espuma de lastro de caravelas. Em paralelo, correu, Brasil à fora, o patrulhamento à memória de Elis Regina, feito pela esquerda festiva pela segunda vez.

A Direita no Brasil não é fenômeno novo, aliás nem é fenômeno, é parte estrutural do Estado. Seu apego a tudo que é autoritário, rebarbativo e patrimonialista, traduz-se, respectivamente: na crueldade para com os vencidos e subalternos; em bajular o que considera culturalmente superior (daí sua adoração ao eurocentrismo, até nas suas formas perversas como o higienismo e o nazifascismo); defesa do latifúndio, na forma atual, com milícias, com grileiros, com contraventores, com militares golpistas etc, que fazem sumir suas origens maléficas num processo de apagamento da sua maldade social, assim como o fizeram os ricos traficantes de escravos. São muitos os filhos dessa gente que subsumiram e ascenderam aos aparelhos de estado  para  proteger  seus negócios. Por outro lado, a frágil esquerda tupiniquim guarda alguns líderes articulados com ilustres filhos das burguesias locais que, para infortúnio dos pais, viraram ovelhas negras da família, mas guardam consigo a fantasia de serem o “Engels” dos partidos; algumas lideranças que ainda acreditam na “ditadura do proletariado”; outros, ainda, autoritários quando assumem qualquer fragmento de poder; e até misóginos, quanto podem, tanto quanto os conservadores de direita; todos imaginando viver a luta de classes aos moldes tradicionais do início do sec. XX. Assim, fica difícil renovar quadros na esquerda. Visto desse modo, se pode perguntar: então, sobra com pureza d’alma o Centro, a Centro Direita ou a Centro Esquerda? É ai que mora o que não cabe mais nessas separações bestiais, nas quais os analistas políticos continuam insistindo. E precisamos renovar o pensamento! Mudar as estratégias de poder! Reconhecer a pluralidade e as novas formas de ação!

Para não ficar sozinho no meio da roda é prudente conhecer as ideologias, os preceitos religiosos medievalescos, os falsos garantismos e a ciência tola dos dominadores para livrar-se dos que têm sede de poder; descartar os antirrelativistas, que querem um mundo parado para si; e  livrar-se da quadratura dos círculos ideologizados, que funcionam, apenas, como moinhos de consciências e alavancas de poder dos que estão dentro deles. A crise da democracia se deve à falta de vergonha dos que a manipulam, ao nosso analfabetismo político e ao cinismo de parte dos que dizem nos representar, maculando, assim, a boa política, essa nobre arte de governar com o povo!

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