Manaus, 21 de novembro de 2024

Crônicas do Cotidiano: O império, o complexo de vira-lata e o cinismo da mídia

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Todo mundo foi pra lá! Montaram estúdios, colocaram os meninos para estudar, contrataram até comentaristas americanos para dar maior autoridade à cobertura, puseram de plantão seus jornalistas de confiança para vigiar o Presidente da República, aguardando a sua manifestação preferencial sobre os candidatos com o fito de condená-lo perante a Nação. Quando liguei a TV, na manhã da eleição, deparei-me com o escarcéu, comentários tolos, previsões ridículas e subserviência dos nossos repórteres e comentaristas, como se americanos fossem. Ora nos levavam para o Texas, depois para Nevada; nos transportavam para o Alaska e voltavam para a Pensilvânia. Passavam pela Virgínia e atravessavam para a Califórnia. Enquanto chegavam do outro lado, davam conta das consultas que estavam sendo feitas em alguns Condados sobre aborto, maconha, financiamento habitacional, mudança de bandeira etc. Com tanto conhecimento sobre os EUA, às 18 horas considerei-me apto a passar em todas as entrevistas que me garantiriam o Green Card. Com a vitória de Trump, meus planos ruíram face a uma iminente promessa de expulsão.

Depois de tanta “vergonha alheia”, fiquei pensando: o que nos leva a pagar esse mico tão grande? Zapeei os canais internacionais e não vi tanto frenesi quanto aquele que animava nossa mídia, embora todos estivessem preocupados. Afinal, assistimos, em tempo real, a oclusão de um ovo nazifascista naquela que foi a primeira Democracia do Mundo Moderno e que, pelo alto nível de alienação em que se encontra no momento, custa a todos perceberem quão frágil, egoísta e cheia de problemas não resolvidos é a nação que vem se defrontando com as exigências da extrema direita mais violenta das Américas e com as mudanças no jogo de poder mundial.

Você sabia que um Condado parece com os nossos Municípios? Você sabia que os 538 delegados são escolhidos pelo partido vencedor, mas tais delegados podem trair o partido na hora da confirmação do voto de seu Estado? Você sabia que a Pensilvânia é um microcosmo eleitoral dos EUA, como inventaram que no Brasil esse papel é de Minas Gerais? Que o mandato dos deputados federais é de dois anos? Que no país nem sempre é crime comprar voto? Que o Presidente pode ser até um condenado pela justiça? O mais vergonhoso de tudo isso é que os mesmos repórteres, com tanta sabedoria sobre os EUA, infelizmente não sabiam nem pronunciar o nome correto das nossas cidades. E provaram isto quando da cobertura das eleições municipais recentes. Nem precisavam. Por ordem de cima, concentraram seus esforços, apenas, na Eleição para a Prefeitura de São Paulo, só para divulgar o Tarcísio para o Brasil, tratando o resto como uma “bagaceira” que não merece crédito. Pergunte a um repórter desses americanizados onde fica Itacoatiara? Não Sabe! Mas, agora sabe, na ponta da língua, o nome de todos os Condados da Pensilvânia à Califórnia. O complexo de vira-lata o impede que se interesse pelo Brasil. Este só lhe chega pelo Teleprompter com os vícios de apuração, com as recomendações dos patrões ou com a má-fé dos “Comentaristas Abalizados”.

Os que ficaram por aqui, no modo cínico de ser, avaliaram as palavras do Presidente da República, favoráveis à derrotada, antes do pleito, como indignas de um Chefe de Estado, pois poderiam comprometer os interesses do país. Por causa disso, o mercado pode cobrar-lhe por todos os revezes à nossa economia, devido a essa “bestagem”, como se os Presidentes Eleitos dos EUA tivessem o Brasil como prioridade de sua política externa. Além do mais, na campanha, Trump, ao referir-se ao Brasil, foi bem claro: dará apoio à extrema direita e sobretaxará nossos produtos exportados para os EUA, tal como procedeu no mandato anterior. Cá com os meus botões, essa rica cobertura da eleição americana foi proposital: deixar no escuro a discussão dos nossos graves problemas e não se posicionar sobre a carnificina que o Centrão está impondo ao Governo Federal para satisfazer os apetites do mercado, na questão dos juros, do orçamento e do Arcabouço Fiscal. Cerrar seus microfones para essa pauta, sem dizer a quem serve, indo cobrir os EUA, esconde a traição à sua audiência e ao povo brasileiro. Afinal, o mercado é o maior comparsa da mídia!

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