Pronto, não houve jeito! O “Imperador de todos os Mundos” bateu o martelo. Os súditos mais fiéis, os lambe-botas, os vira-latas, os capachos e o séquito triste da humanidade, os que vivem como aves de rapina sentiram-se contemplados por seu salvador ter saído em defesa da desumanidade, da desgraça alheia e da desesperança, que sustentam a concentração de renda nas mãos de um punhado de ricos, cujas fortunas pessoais e negócios são maiores até que o PIB de muitos países chamados de desenvolvidos. A terra tremeu envergonhada, as ondas se elevaram em ameaças de tsunami, o lixo dos oceanos foi mandado de volta para orla de praias e os Desafortunados de Gaza emitiram seus últimos suspiros à espera da comida que está virando “bomba” a matar inocentes. Mais uma vez os ricos ganharam com as taxas impostas ao comércio mundial. A negligência nos cuidados com a natureza e até mesmo com a falta de empatia pelos que sofrem fome pararam no mesmo lugar enquanto poderosos jogavam golfe e calculavam taxas, insensíveis aos apelos do mundo real.
Nada, no entanto, foi mais catastrófico e humilhante que o sussurro envergonhado dos negociadores apressados em servir, enfrentando “mares nunca dantes navegados”, voltando para casa de mãos abanando ou decepcionados diante da força que ninguém ousa contestar. A Ordem Executiva emitida pelo governo americano é peremptória, cumpra-se! Seu teor carrega o asco da ignorância, da vingança descabida e injusta, mas, também, da ameaça em caso de descumprimento das vontades que a justificam. Numa avaliação jocosa, contém o seguinte: “Fica decretada, para vigorar em todo mundo, a partir de Zero Hora do dia tal, uma Nova Ordem Mundial, imposta contra todas as nações. Caberá à esquadra soberana a fiscalização de seu cumprimento, em todos os mares e oceanos por onde trafegam navios carregados de mercadorias; ficam isentos aqueles que conduzam ouro, incenso e mirra (as chamadas terras raras) a serem ofertadas como presente à sua majestade”. A Ordem assinada por Trump é uma modalidade sacrílega e reversa da benção especial dada pelo Papa da Igreja Católica a partir de Roma, Urbi et Orbi. A ordem presidencial é supremacista e a benção papal é perdão e misericórdia. É inacreditável que atos tão abomináveis sejam praticados com tanto requinte e prepotência em tempos de paz. Confirma, assim, o que já foi tantas vezes dito e aplicado a situações tão adversas: “tudo que é sólido se desmancha no ar” (K. Marx e F. Engels. Manifesto Comunista, 1848). O alento dado por estas palavras é a de que as contingências históricas marcam as instituições e o processo histórico enfrentado diuturnamente pelos povos no seu processo de vida, mas estes são capazes de reconstruir novos mundos, um novo momento histórico e até destruir a opressão às liberdades e a força dos tiranos.
O caso brasileiro, confrontado com os demais, é único. O decreto “imperial” segue o roteiro persecutório das ameaças contidas em comunicados anteriores buscando intervir na nossa soberania, na independência entre poderes e na idoneidade dos nossos juízes. O problema que nos é colocado não é meramente econômico, é político, ideológico e indigno. Sopesando os fatos e suas consequências, resta-nos pouco a fazer diante da conformação dos outros, imediatamente. Não demonstrar indignação é impossível, porém é preciso reconhecer que este foi o mundo que construímos, no qual estamos inseridos e com modos próprios de acomodação, onde até a infâmia é permitida para aniquilar o “inimigo”. O que se espera em momentos como este é a coesão em torno de objetivos: resistir a chantagens, operar com todos os meios possíveis para a contenção dos danos e aliar-se aos que não aceitam essa teoria absurda de um “Destino Manifesto”, utilizado pela potência americana para aniquilar as demais nações ou submetê-las ao seu domínio. Essa teoria, tão cara aos Estados Unidos da América, é um novo fundamentalismo tomado como bandeira pela direita conservadora republicana e, mais ainda, pela sua extrema direita, além do beneplácito da direita conformista Democrata, que já o adotara no passado. E, sem dúvidas, é tão pernicioso quanto seus congêneres, que tantos tormentos já causaram à humanidade!
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