Manaus, 3 de dezembro de 2023

Dependente do exterior

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Uma situação muito semelhante ao fenômeno observado na segunda metade do século XIX, com o comércio internacional controlado pelos ingleses. A Zona Franca, com sua estratégia ligada às multinacionais, ao comércio de importação e ao modelo agropecuário, abre ainda mais a região ao exterior, promovendo uma economia dependente, altamente espoliadora e prejudicial.

Esta dependência começa a demonstrar sinais de esgotamento, paralelo ao esgotamento geral da economia “milagrosa” da sociedade autoritária que dirige o Brasil hoje. Outro dado importante da Zona Franca, é que o seu caráter dependente começou a tirar o último poder de barganha da elite amazonense. Solução justaposta a uma cidade problemática que começa a absorver esta mesma cidade expelindo os representantes do extrativismo. O mais cultivado dos tiques da elite amazonense, a xenofobia, já é uma voz débil e ridicularizada pelos executivos das multinacionais. Esta xenofobia, típica dos velhos comerciantes, foi destruída e teve a sua influência liquidada pela invasão arrivista. Esvaziada do controle do mercado comercial e enrouquecida de tanto louvar o poder autoritário, como se a Zona Franca fosse uma panacéia, hoje começam a descobrir que são personagens em processo de abandonar a cena. Depois das medidas restritivas de 1975, esse afastamento compulsório vem se processando de maneira rápida e a tendência é para gerir a região sem intermediários mimados. Daí a Superintendência da Zona Franca ser uma espécie de “novo” poder dentro do Estado, administrada por executivos federais. A elite amazonense vai diluindo se quase sem saber e a pedra no caminho é justamente esse desvanecimento político.

É evidente que o capitalismo dependente que criou a Zona Franca não admite essa classe de procuradores que tudo transforma em foco de apetites particulares. Dando ênfase ao departamento da economia, isto é, à produção de bens de consumo, sobretudo eletrodomésticos e bens voltados ao mercado criado pela concentração da renda, a Zona Franca conta, no Amazonas, com três privilégios importantes.

Primeiro, uma mão de obra barata, retirada das frentes tradicionais do extrativismo e que desconhece os seus direitos mais elementares.

Segundo, abrangente legislação de incentivos e isenções que permite taxas de investime1to reduzido em relação à margem de lucro no final da operação. As mais importantes indústrias da Zona Franca são extensões de poder os complexos industriais. No que toca à divisão do trabalho, estas indústrias operam as fases finais de montagem e acabamento do produto. Fases que exigem maior mão de obra. Aproveitando a legislação, estas indústrias estabelecem um sistema de circulação compensatório de componentes, uma espécie de subfaturamento das peças, para que o preço final seja regulado pelo promissor mercado interno localizado no centro sul brasileiro. E assim, temos um parque industrial de “beneficiamento” produzi do em toda a sua capacidade e operando numa área onde as facilidades são, na verdade, uma conjuntura favorável. Em terceiro lugar, como extensões de grandes complexos, as indústrias da Zona Franca são administradas de maneira direta e seu capital pouco é afetado pela disponibilidade local. O triste legado dessa ilusão de prosperidade por renúncia fiscal foi a transformação da cidade de Manaus num câncer urbano que vai crescendo através de metástases que são as invasões, fruto do estertor da política populista de mentalidade extrativista. Outra herança perversa está na paralização das elites políticas, petrificadas perante esta esfinge chamada SUFRAMA, pois sem nenhuma ideia prática para superar o modelo caduco faz de todos nós um bando de patetas de baixo teor de consumos.

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