O tema é polêmico e estritamente médico, mas interessa aos que possuem familiares acometidos de doenças terminais, sobretudo aos que buscam o melhor caminho para o enfrentamento do câncer, que surpreende parentes e amigos próximos do doente.
Com a cautela devida, por não ser versado na ciência de Hipócrates, buscamos a opinião de especialistas para ilustrar a discussão. É conhecida a célebre frase do pintor grego Apeles, dirigida a um sapateiro que, ao analisar, extrapolando os seus conhecimentos, a obra do artista como um todo, foi repreendido: “Sapateiro, não vá além das sandálias”.
O assunto ressurgiu para debater as alternativas para o tratamento da doença que vitimou um conceituado jornalista em São Paulo, recentemente falecido, por falência múltipla dos órgãos, em consequência de um câncer no pâncreas, com metástase no fígado, em estágio avançado.
A escolha da terapêutica reativou a discussão sobre a melhor das opções para combater a patologia. É que a matéria estimulou um debate nacional sobre os eventuais riscos da mudança da quimioterapia pela aceitação de métodos sem bases científicas, como dietas, ervas, acupuntura e meditação.
É possível que, para a mudança da medicação foi considerada a agressividade da quimioterapia, que é o tipo de cura que combate o câncer por meio de drogas que inibem a multiplicação celular. O paciente teria comentado que “as drogas que me aplicam mais parece que vão me matar que me salvar”.
É preciso entender o desespero e a aflição do enfermo e inexistem meios de impedir que as pessoas façam as suas próprias escolhas. Apesar de se respeitar a alternativa do paciente, as estatísticas mostram que a fuga de tratamentos acertados, em regra, não leva a bons resultados.
Com a nova opção decidida, o tratamento quimioterápico foi retirado, após a primeira sessão, para ser adotada a chamada dieta cetogênica, que abole carboidratos e açúcar para destruir o tumor. Porém profissionais experientes consultados afirmam que a terapia adotada não tem eficácia comprovada e não é eficiente para substituir o tratamento padronizado.
Explicações de profissionais elucidam que a dieta adotada não impede o crescimento do tumor, pois não é a glicose que causa o câncer, mas as alterações celulares.
Terapias alternativas sem evidencias científicas são importantes como tratamento complementar, para confrontar os efeitos colaterais da quimioterapia, porém devem ser mantidos os tratamentos comprovados cientificamente.
Helano de Freitas, coordenador de pesquisa do A. C. Camargo, diz que no câncer de pâncreas com metástase, é raro que o paciente sobreviva mais de um ano sem tratamento.
O oncologista clínico André Sasse da Unicamp ilustra que vários tipos de câncer já são curáveis com a quimioterapia, não cabendo substituí-la por terapias alternativas.
Não será boa providência trocar uma terapêutica que funciona comprovadamente para 90% dos casos por outra que não funciona. É importante que a decisão final a ser tomada pelo paciente ocorra somente após o médico prestar todas as informações científicas.
Havendo possibilidade de cura, não há, segundo oncologistas, como se abrir mão da quimioterapia, mesmo com os impactos na qualidade de vida, sob pena de o câncer evoluir trazendo dor e sofrimento, embora qualquer apoio fora do tratamento convencional deva ser acolhido, desde que não prejudicial ao enfermo.
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