“Hoje, como em muitas outras oportunidades, estamos todos convocados ao cumprimento do direito-dever cívico do voto”
Não é de hoje que o povo amazonense é chamado às urnas para escolher seus governantes e seus representantes nas diversas casas parlamentares. Bem antigamente, ao que se tem notícia, a primeira delas foi para escolher deputados às Cortes de Lisboa, ainda quando era Rio Negro, e depois, seguidamente, conforme as leis da época. Durante grande parte do período imperial, por exemplo, não votavam as mulheres, os índios, os menores de 25 anos e quem não tivesse certa renda anual, porque os colégios eleitorais eram altamente seletivos e sem representatividade proporcional à população.
O que se sabe das antigas eleições, mesmo daquelas realizadas na Primeira República (1889-1930), portanto, antes do Código Eleitoral de 1932, é que havia de tudo que fosse falcatrua para que o resultado fosse obtido em favor do partido que estivesse no governo. Compra de votos, mapismo, bico de pena ou atas fraudadas, negociação de cargos, inscrição e comparecimento de eleitores mortos, para não falar das ameaças e das confusões à bala muitas vezes estendidas até à posse do governante eleito.
No período imperial, no qual a igreja católica tinha maior influência sobre o eleitorado e às elites políticas, a composição do corpo de eleitores e a votação era feita nas juntas de paróquia, sob a direção do pároco e do juiz de paz e a coleta dos votos era tomada logo após uma celebração religiosa, mas, mesmo assim, quase nunca se dava em harmonia entre os diretamente interessados, fossem coronéis ou candidatos em nome dos coronéis.
Verdade que o regime republicano procurou aprimorar o sistema eleitoral brasileiro, ano após ano, basta ver que nos dias correntes, depois de muitas alterações nas leis e experimentos em todo o processo os eleitores são cadastrados pela justiça e identificados pela impressão digital, o voto e a apuração são eletrônicos, ou seja, o aparelhamento da justiça e do processo eleitoral é dos mais modernos, rápidos, e, segundo a grande maioria dos entendidos afirma, é seguro e capaz de assegurar a confiabilidade do voto.
O atraso estaria na organização partidária, no financiamento de campanha, no comportamento de grande parte do eleitorado que ainda se submete a falsos líderes e se curva a interesses pessoais, e, cada vez mais, no afastamento de pessoas que, preparadas adequadamente para representar a população e servir, com altivez, competência e dignidade no exercício do mandato político, seja ele parlamentar ou executivo, cada vez mais têm se esquivado dessa missão porque, infelizmente, a política se transformou em um lodaçal, a manchar a honra de muitos, salvo justas e honrosas exceções.
Hoje, como em muitas outras oportunidades, estamos todos convocados ao cumprimento do direito-dever cívico do voto, e em circunstâncias ainda mais particulares porque para um mandato complementar, o que não se trata de novidade na nossa história visto a deposição de Thaumaturgo de Azevedo em 1892 e a nova eleição e posse de Eduardo Ribeiro em Circunstâncias de luta armada com cavalaria e armas em punho, e não só com ataques desabridos pela imprensa partidária e discursos inflamados em praça pública e nas tribunas legislativas. Nos dias correntes os embates mais duros são travados no mundo virtual, a ferro e fogo, muitas das vezes aproveitando o anonimato ou com prevalência de falsos nomes, além das propagandas oficiais em rádio e televisão nem sempre propositivas.
Na rede mundial de computadores e nos tribunais as pelejas avançam em ritmo acelerado e algumas vezes ultrapassam os prazos normais do processo de escolha nas urnas, demandando advogados e mais advogados, teses ‘e mais teses, que são, na verdade, argumentos construídos com base na interpretação das reis e na jurisprudência dos tribunais e cujos resultados são cada vez mais imprevisíveis pela forma como grande parte da justiça brasileira vem se posicionando, gerando o que se chama de insegurança jurídica.
Ainda assim, vamos às urnas!
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