Dá uma saudade e comichão danada, uma vontade louca de voltar, mas tudo isso logo depois é esmagado pela dura realidade dos dias correntes que é bastante outra e diferente daquela de até poucos anos passados.
Ao ver se aproximarem as eleições de outubro vem a tentação de falar de política partidária que, aliás, é uma formiguinha que fica me tentando todos os dias desde que deixei de exercer os mandatos que o voto livre e soberano do povo de Manaus me confiou por duas vezes.
Dá uma saudade e comichão danada, uma vontade louca de voltar, mas tudo isso logo depois é esmagado pela dura realidade dos dias correntes que é bastante outra e diferente daquela de até poucos anos passados.
Por isso vou me contentando em rever a história política do Amazonas, recuperando causos e episódios que ouvi contar desde as boas conversas com meu pai, na convivência com várias personalidades desse mundo particular dos partidos, e o que os jornais de antigamente contam em surdina quando retirados dos arquivos em que se encontram.
Em todas as eleições antigas que se realizaram no Estado sempre houve um puxa-encolhe danado no qual até os padres entravam no meio, seja quando presidiam as eleições realizadas nas igrejas, na época em que podiam ser candidatos, ao tempo em que foram proibidos de ter filiação partidária e, até mesmo, quando somente abençoavam os fiéis sugerindo, algumas vezes sutilmente, e outras, nem tanto, os seus candidatos preferidos, seja com dom Pedro Massa, ou quem sabe, desde Carvajal, se por lá já tivesse eleição.
No curso de tantos anos, desde aquele 1821 quando foram realizadas as primeiras eleições no território do Rio Negro para escolha dos deputados que representariam a Região na Assembleia das Cortes Portuguesas, sempre houve disputa acirrada, formação e deformação de grupos de interesse, organização de clãs e de claques, mas, ao que nos contam os jornais e os relatórios de governo, apenas uma vez os acordos foram feitos com certa paciência e alguma harmonia.
Trata-se da sucessão de Rego Monteiro, deposto pela revolução dos tenentes de Ribeiro Junior porque, depois de tanta confusão, quebra-quebra e prisão, eis que os políticos profissionais da época resolveram aceitar as cláusulas de adesão fixadas pelo Dr. Alfredo Sá, interventor federal, quem sabe porque se tratava de antigo chefe de Polícia de Belo Horizonte, ou soubesse jogar conversa fora sem reclamar.
As disputas acirradas na sucessão de Pedro Bacellar culminaram na imposição do nome de César do Rego Monteiro com as bênçãos do Palácio do Catete teriam contribuído, decisivamente, para os desmandos que, perante a história, ainda hoje o clã dos Rego Monteiro responde, sem que ninguém tenha cogitado de desvendar os episódios conforme o olhar e as razões do velho desembargador e professor piauiense, e tudo continua sendo estudado apenas pela palavra dos vencedores: os revolucionários, como sempre.
Depois de tanta “desgraça” e da intervenção federal liderada por um mineiro e regada a muita conversa, naquele ano de 1925 foi firmado um acordão reunindo as lideranças de todos os partidos e facções da época, desde o arquipoderoso Silvério Nery ao aguerrido coronel Guerreiro Antony, aos Bittencourt, aos Pedrosa, aos Bacel1ar e aos Salles, cada qual com sua tropa de choque e de bombeiros, todos eles em derredor da proposta de pacificação que incluiu a distribuição mais ou menos equânime dos cargos da Administração estadual e das prefeituras, e os cargos eletivos, na proporção do que era possível, incluindo ajustes e promessas para o futuro.
Desse “ajustamento de conduta político-eleitoral”, pode-se dizer, resultou a eleição de Ephigênio Ferreira de Salles para governador para o período de 1926-29, em sucessão mineira na gestão pública amazonense, incluindo a eleição de Lincoln Prates, aparentado próximo do interventor, para deputado federal, que passou como meteoro silencioso pela Câmara Federal, em nome do Amazonas.
Ao que parece, olhando à distância, as lideranças mais expressivas daqueles anos 1920-1930, para não darem com os burros n’água, resolveram ceder um milímetro de suas vaidades e interesses pessoais e dar ao Estado uma sobrevida de paz, depois de tantos assaltos e solavancos que eles mesmo vinham provocando, sem cessar.
Pena que durou pouco, ou quase nada.
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