Manaus, 1 de dezembro de 2023

Encontro com o passado…

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Quem visitar o Museu da Cidade, no Palácio da Liberdade, deve observar as escavações arqueológicas que nos remetem ao passado desta terra …

… Passado cheio de terríveis confrontos e muito sangue derramado. Aqui, na confluência do rio Negro com o Amazonas, viviam três grandes ações indígenas: os Munduruku, Muhra e Maau. Etnias aguerridas, exímias no uso de pequenas canoas, as três formaram um paredão de resistência que impedia a expansão portuguesa rumo ao Oceano Pacífico. Para romper esta barreira os portugueses montaram uma estratégia, atacando primeiro os munduruku, a Iseguir os muhra e, finalmente, a confederação organizada pelos manau. Este episódio ficou na história da região como a guerra dos 30 anos contra os povos indígenas do ocidente do Grão Pará. É o historiador português João Lúcio de Azevedo que fixa a data mais segura para marcar a expansão portuguesa em direção ao ocidente amazônico, a partir de uma carta de Vieira, onde está registrado o ano de 1657, ano em que os padres Francisco Velozo e Manoel Pires estiveram no Rio Negro. Eles tinham deixado São Luís em junho daquele ano, com uma escolta de vinte e cinco soldados e trezentos índios. Depois de superar a correnteza desfavorável do Amazonas, os jesuítas conseguiram entrar no rio Negro, manter contato pacífico com os tarumã, o que acabou rendendo seiscentos índios escravizados, que foram distribuídos entre os moradores de Belém. A Missão dos Tarumã, como ficou conhecida a empreitada, foi considerada de grande importância, repetindo-se no ano seguinte sob o comando do padre Pedro Pires e do próprio provincial dos jesuítas, padre Francisco Gonçalves, conhecido pelas suas virtudes, ‘apóstolo encanecido nas conversões, perito na língua da terra; tão modesto que por bagagem só tinha uma canastra, em que guardava o cilício, disciplinas e livros de casos de consciência que não dispensava para as dúvidas do confessionário; um dos prediletos do céu, que tinha prenunciado a aclamação de Dom João IV’. A piedosa virtude do provincial, padre Francisco Gonçalves, certamente foi fundamental para o êxito da expedição, já que todos regressaram sãos e salvos a Belém, com um carregamento ainda mais rendoso: setecentos escravos. O sucesso das viagens dos jesuítas aguçou a cobiça dos governantes. Em 1663, sob as ordens do capitão-mor do Grão-Pará, Ruy Vaz de Siqueira, o sargento-mor Antônio Arnau de Vilela internase pelas selvas e vai sair no rio Urubu, nas proximidades da missão de Saracá, recentemente fundada por frei Raymundo, da Ordem das Mercês. Era uma região densamente povoada, e logo os portugueses foram procurados por representantes dos Caboquena, Bararuru e Guanavenes, que vinham dizer que se seguissem até as cabeceiras do Urubu conseguiriam milhares de escravos. Os portugueses acreditaram e a tropa de resgate subiu o rio, com o sargento-mor Arnau de Vitela a computar os lucros. Não tinham chegado a viajar dois dias, quando os índios atacaram. Vilela perde a vida e quase todas a sua tropa, restando apenas alguns poucos soldados e o Frei Raymundo. Os sobreviventes se refugiaram na missão de Saracá, onde, sob o comando do alferes João Rodrigues Palheta, conseguiram repelir os índios e regressar a Belém. A notícia do ataque dos índios é recebida em Belém com consternação e revolta, e a administração colonial trata de revidar, organizando uma expedição para castigar aqueles índios rebeldes. O serviço é entregue ao calejado Pedro da Costa Favela, que a 6 de setembro, com trinta e quatro canoas, quatrocentos soldados e quinhentos índios, deixou Belém rumo ao alto Amazonas. Era o começo de um dos mais terríveis momentos do confronto entre a nações indígenas e portugueses. Pedro da Costa Favela carregava um histórico de violência contra os nativos.

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