“Casos de plágio são repetitivos entre algumas figuras até bastante conhecidas por esse Brasil gigante, bem como entre alguns acadêmicos antigos”.
Nas andanças que tenho feito, quase sem cessar, em meio a centenas ou milhares de papeis e anotações antigas para redescobrir informações preciosas sobre os fundadores da Academia Amazonense de Letras, deparei-me com registro da disputa de autoria de poema bastante conhecido, travada há muitos anos, envolvendo ninguém menos do que o famoso simbolista brasileiro: Jonas da Silva.
Casos de plágio são repetitivos entre algumas figuras até bastante conhecidas por esse Brasil gigante, bem como entre alguns acadêmicos antigos; posto que sempre ouvi dizer que um deles teria sido levado a escrever dois discursos para a mesma posse à vista de o orador encarregado da saudação de recepção ter-se negado a fazê-lo, diante da constatação de que havia longos trechos plagiados de autores famosos. Verdade ou mentira, não posso afirmar, repito o que soube e me foi dito pelo próprio orador, até porque não me contou em confessionário.
Neste caso corria o ano de 1914. Curioso registro da redação de um Almanaque dava contade carta do leitor Abdon de Macedo, enviada de Natal do Rio Grande do Norte, questionando que o soneto “Coração”, publicado pela mesma revista em 1912, trazia a assinaturade Eduardo de Araújo, como se ele tivesse sido o autor, quando, na verdade, era poema da lavra de Jonas Fontenelle da Silva, aliás, o mais aplaudido de toda a sua produção literária.
Caso sério, porque envolvia também um belo poeta do Rio Grande, formado em direito na Universidade de Coimbra e que havia deixado centenas de poemas escritos em caderno que ficara sob a confiança de um dileto amigo, o Dr. Arthur Pinto da Rocha o qual, por sua vez, dera conhecimento do fato a Abílio Freitas para quem enviara alguns sonetos.
E foi Abílio que enviou o poema para publicação no Almanaque, dando Eduardo Araújo como autor.
Alfredo F. Rodrigues, editor do Almanaque, não titubeou em procurar esclarecer os fatos e dar nota bem detalhada de como tudo se passara, sem incriminar o belo poeta Riograndense nem desmerecer o verdadeiro autor, o piauiense que se projetou no Rio de Janeiro e viveu em Manaus até falecer.
Ao ver a notícia entre meus apontamentos de biografias de logo tomei um susto. Estive pensando como deveria fazer para revelar o assunto sem macular a memória do nosso ilustrado poeta, aquele que primeiro rompeu as modernidades do simbolismo carioca e, mesmo sem ter nascido no Amazonas, deu-nos a honra de viver e conviver nestas plagas desde os 11 anos de idade, deixou prole honrada, ilustrou a Academia com seu nome e sua presença singular e simples.
Avançando na pista inicial do assunto, constatei que, na verdade verdadeira, tudo não passava de grande equívoco, daqueles que, um dia,se contados por língua maldosa e pessoa de má índole, pode vir à tona como se verdade fosse, até porque nenhum dos atores envolvidos poderá se defender. Por isso a história fica contada tal como sucedeu, e se alguém disser ao contrário, vai esbarrar no fogo do inferno como contava o amigo de priscas eras que gostava de abrir o seu caderninho de anotações raras, ou de lembranças mais pulsantes, para deitar falação sobre os causos passados nas hostes acadêmicas, e eu, jovem rapaz, ouvia com muita atenção.
O que fica de tudo isso é que o soneto “Coração” se torna ainda mais famoso não só porque emblemático na obra de Jonas da Silva como também porque acabou sendo copiado como se de outrem fosse sendo dado a público para circulação nacional sob a chancela de um gaúcho de boa cepa que, embora escrevendo muito bem e recebido pela crítica, não escreveu coisa tão bela.
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