Somos filhos do no Negro. Hoje é um rio cheio de vida, desde a agitada Manaus até as fronteiras do norte com suas muitas etnias bem organizadas e ciosas de suas tradições. No entanto, segundo os historiadores, por volta da metade do século XIX o no Negro Já estava totalmente despovoado. Quase todos os viajantes são unânimes em comentar a tristeza e a desolação de suas margens. Em 1851, O botânico Richard Spruce se encantou com as Anavilhanas, mas não deixou de registrar o seu espanto pela desolação da região.
Entre, São Gabriel e Manaus, encontrou centenas de cidades fantasma, ruinas e abandono.
Ficou tão impressionado, que Chegou a propor que no rio Negro passasse ser chamado de rio Morto. No ano seguinte seria a vez de Alfred Russel Wallace, que rendeu-se de amores pela paisagem, passou dias nos labirintos das Anavilhanas, mas também reconheceu a ausência quase que completa de habitantes.
Naquele ano de 1852, um comerciante chamado Pereira, e o Capitão Severino, reuniram grupo de Jagunços e atacaram um povoado Baré nas imediações da cidade de Santa Isabel Uma parte da aldeia foi subjugada, e eles voltaram com um homem e vinte mulheres e crianças amarrados, feitos prisioneiros. Surpreendidos na madrugada, muitos homens Baré sucumbiram aos tiros dos criminosos, mas um número significativo acabou por escapar, remando suas canoas para as Ilhas Anavilhanas onde se encontraram. O capitão Severino não andou a sentir a vingança dos Baré. Na manhã de 21 de Junho de 1852, ele estava numa casa flutuante nas proximidades de Santa Isabel, quando um grupo de canoas cheias de índios cercou a casa. Pensando que eles vinham comerciar, senhor absoluto de seu poder de aterrorizar aquela gente, o capitão abriu a porta da casa, vestindo apenas uma calça, o torso nu, e perguntou o que desejavam.
Foi imediatamente flechado e morto pelos Baré, que também incendiaram as casa após amarrar os moradores para que não escapassem das chamas. Depois da ação, voltaram a se refugiar nas Anavilhanas. Um mês depois, o comerciante Pereira regressou e ficou sabendo da tragédia. Reuniu uma nova tropa de matadores, e rumou em duas grandes canoas para as ilhas. Rodou quase dois meses, e não encontro ninguém.
Até que no dia 4 de outubro de 1852, ele viu na praia de urna das ilhas, praia incipiente de areia das águas que começavam a baixar, o seu cachorro de estimação, que ele pensava ter morrido no incêndio da casa flutuante. Aproximou-se com cautela da praia, e mandou um dos homens pular em terra para resgatar o cão.
Assim que o homem pisou na areia, caiu morto, atingido por um dardo envenenado. O comerciante Pereira sabia que eram os Baré, pois este povo era exímio no uso da zarabatana, embora costumassem usar esta poderosa arma quase sempre para a caça. Gritou para que as canoas se afastassem da praia, mas uma nuvem de dardos caiu sobre eles, fazendo enorme estrago Em dez minutos tudo se resolveu, e os Baré deixaram seus esconderijos, beijaram e celebraram o cão que os havia involuntariamente ajudado, e capturaram as duas canoas. Uma semana depois, o corpo do comerciante Pereira foi visto por uma família de índio hohodene, que contaram às autoridades de Santa Isabel o macabro encontro. De acordo com os hohodene, o corpo do comerciante estava amarrado de cabeça para baixo, numa sumaumeira, sem roupas e já morto comido pelos pássaros. De fato, assim o corpo foi encontrado pelas autoridades. Vinte anos depois, a situação é ainda pior.
Uma série de surtos de messianismos ocorrem no rio Negro, provocando ainda mais fanatismo e derramamento de sangue. Em 1875, quando atravessava a região, o cientista Theodor Koch-Grünberg mostrou-se escandalizado com a situação caótica e decadente das povoações e mostrou-se descrente do futuro daquele pedaço esquecido de Brasil.