– Vô?
– Oi!
– Eu tenho a Carta da Espada Dourada… e o senhor tem os Poderes do Ar, tá bom?
– Tá bom! E o que é que eu faço com os meus Poderes do Ar?
– O senhor pode fazer Ventania, Tempestade, Tornado, essas coisas…
– Entendi.
– Vô?
– Oi!
– Eu tenho mais… sabe o quê?
– O que mais?
– Os Poderes da Água!
– E o que é que faz quem tem os Poderes da Água?
– Faz Tsunami, vô!
– Tá bom! Quem começa?
– Eu, vô!
Não há tempo para pensar em táticas ou estratégias. Forças da água aproximam-se rapidamente de mim, na forma de um tsunami destruidor. E eu? Êpa! Eu preciso descobrir – e bem rápido! – como me safar do perigo. Resolvo transformar-me num tornado e, com minha voz de Tornado, vou logo avisando ao Tsunami que eu sou um Tornado do Mal… que é melhor ter cuidado comigo!. Meus braços (desengonçadamente!) se esforçam num rodopio nada convincente tentando passar por potentes dínamos, intimidadores de tsunamis! (mas quando já?).
O Tsunami, de tão próximo, está a ponto de alcançar o pescoço do Tornado. Mas o Tornado é quem surpreende o Tsunami com um raspão nos ombros. O Tsunami dá um recuo para escapar. O Tornado sorri, divertindo-se com esse lance favorável, entretanto, mantém-se alerta lembrando que está tratando com um esperto Tsunami. Tsunami que é tsunami não se acovarda facilmente comraspõezinhos nos ombros. Além disso, precisa recuperar o moral perdido pelo humilhante recuo. Dito e feito: o Tsunami saca da Carta da Espada Dourada. (Puxa vida! Havia me esquecido dessa arma!). E o Tsunami, com uma estocada certeira, atinge o coração do Tornado, que sabe logo que foi ferido ao ouvir o brado vitorioso do Tsunami:
– Acertei teu coração de vento, seu Tornado do Mal! (“coração de vento”, como se sabe, só pode pertencer à mesma categoria que “pé de vento” e “cabeça de vento”).
Pois bem, o Tornado, com o coração de vento ferido, começa a rodopiar rumo ao Infinito. Mesmo baqueado, lembra-se de indagar ao Tsunami para aonde vão os tornados quando morrem. Se não seria para um buraco negro? E o Tsunami responde que buraco negro é para onde vão as estrelas caducas. Tornado quanto morre vai para a Dimensão Vermelha!
– Vermelho? Não! – esforça-se em protesto o Tornado. – Dimensão Vermelha não combina com as cores do meu time de futebol – reclama o Tornado em causa própria.
– Tá bom, seu Tornado Morto. Então, pode ir para a Dimensão Azul – (como todo vencedor, o Tsunami se mostra generoso). – Mas primeiro tem que passar pelo Portal Colorido, ouviu?
– Que seja! Que seja! – diz o Tornado, conformando-se com a sugestão, já que, no estado em que se encontrava, não tinha mesmo qualquer poder de barganha.
Trato feito! O Tornado se despede, com voz quase sumida:
– Adeus, mundo velho; adeus, velho mundo; vou-me embora desta terra, onde abunda raimundo!
O Tsunami sai em disparada, cantando vitórias aos quatro cantos da casa. Vai desafiando pelo caminho qualquer força natural que ouse aparecer. Acontece que a outra Força Natural presente na casa está ocupada preparando o jantar, indiferente aos acontecimentos cósmicos. O jeito é o Tsunami retornar à sala para ver se o Tornado topa outra. Mas o Tornado ainda se encontra em franca recuperação, sentado no piso, analisando a situação do entorno. E o Tsunami mais combativo que nunca está ali à sua frente lançando novo desafio.
O Tornado pensa nas forças da terra e nas do fogo, pois já se viu que com as do ar não foi páreo para o Tsunami. Propõe, então, ao Tsunami que lhe seja repassada a Carta da Espada Dourada. Proposta imediatamente recusada com todo o rigor. (como se sabe, todo vencedor precisa ser rigoroso). Naquelas circunstâncias, o Tsunami era quem, evidentemente, estava dando as cartas. Bem entendido: não todas as cartas, pois, a Carta da Espada Dourada era absolutamente inegociável!
– Senhor Tornado Morto! – esclareceu o Tsunami. – A Carta da Espada Dourada não pode ser simplesmente repassada. Ela tem que ser conquistada, ouviu?! E no momento não está em disputa. Entendeu?
– Entendi, sim, Senhor Tsunami! – murmura o combalido Tornado, sabendo que sem essa tal carta, não vai adiantar aceitar novo desafio. E que Carta: mágica, invisível e onipresente! Lembra do que aconteceu a pouco? A Carta aparece do nada e: zuk! zuk!. Foi direto ao coração do Tornado!
Ufa! Que alívio chegou dos céus, ou melhor, da cozinha. Era a Força Natural que preparava o jantar e agora surge na sala assumindo a situação.
– O jantar está servido! Os dois já pra mesa!
Tsunami e Tornado param tudo. Sabem que, com essa Força Natural que acaba de dar o ar de sua graça, não tem conversa mole!
Visits: 34