Andou por Manaus e muito produziu na imprensa, deixando amigos e sobressaindo adversários e inimigos ferozes, um português de boa cepa chamado Manoel Fran Paxeco, que se transferiu para as terras do Juruá para servir ao governo de Thaumaturgo de Azevedo quando da resolução do problema das terras do Acre, questão esta levada a efeito por ação do Barão do Rio Branco a qual subtraiu ao Amazonas enorme território e boa parte de sua receita, contribuindo para enormes padecimentos da nossa população com a queda da economia da borracha.
É fato que em tais regiões mais distantes do centro desenvolvido do país havia tudo por fazer, e não era possível contar com muitas pessoas experimentadas em assuntos relativos à administração pública, sendo comum, portanto, o deslocamento de figuras exponenciais, notadamente da imprensa, para a prestação de tais serviços aos novos governantes.
Exilado no Brasil, Fran Paxeco esteve em atuação em São Luiz do Maranhão, notadamente na imprensa diária, estabeleceu polêmica com grandes sábios da época como Sílvio Romero e Teófilo Braga, conviveu com Celso Magalhães que também conviveu com Pedro Freyre, Eduardo Gonçalves Ribeiro e Aloisio Azevedo, e foi muito depois dessa experiência na terra que sabe bem cultuar a Língua Portuguesa que Paxeco se deslocou para o Alto Juruá para exercer militância política, ocupar cargo relevante na administração do Departamento e onde, segundo ele revela em cartas e anotações que surgem em livro recentemente publicado, sofreria perseguição dos Nery, referindo-se a Silvério José Nery, governador e senador pelo Amazonas e senhor do cutelo daqueles anos, além da perseguição criminosa de juiz, delegado e outras autoridades da localidade.
Os padecimentos foram de toda a ordem em razão da condenação por crime de adulteração de livros de registros e interesses do governo do Alto Juruá, cuja mazela depois foi comprovadamente desmentida por Thaumaturgo de Azevedo, que era o governador da época. Foi levado à prisão, conduzido ao manicômio no Juruá, em Manaus e no Rio de Janeiro, perseguido, ofendido, agredido, surrado diariamente com chicotadas, transformado quase em cadáver ambulante, mas terminou por ser inocentado e libertado por ordem de habeas corpus expedida pelo Supremo Tribunal Federal, muito tempo depois da prisão, a qual foi cumprida mais de dois meses depois de expedida pela autoridade competente.
Essa trajetória, que por Manaus foi contada durante muitos anos de maneira diversa da defesa que faz Carlos Gaspar em larga pesquisa que fez editar sob o título “O Senhor Fran Paxeco”, o qual chegou às minhas mãos graças a atenção especial do preclaro amigo desembargador Lourival Serejo, presidente da Academia Maranhense de Letras, livro no qual o autor revela um Fran Paxeco como jornalista combativo, que foi cônsul de Portugal no Maranhão, presidente honorário da Escola de Bela Artes, lente honorário da Faculdade de Direito, fundador da Academia Maranhense, e que em 1939 sofreu acidente vasculhar cerebral que o privou da escrita e da fala, vindo a falecer em 1952, depois de haver enfrentado desafetos que lhe serviram “o pão que o diabo amassou”.
Vou degustar essa edição primorosa com paciência, embora esteja interessadíssimo em ler nos pormenores, e, como deseja o nobre escritor e magistrado Lourival Serejo, confio que hei de modificar a opinião que sobre Paxeco construí pelas leituras de outros autores e de notícias e artigos de jornais manauenses da época em que atuou em nossa cidade.
O livro redime Fran Paxeco.
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