O último duelo de sabre, no Amazonas
Pio Veiga foi um comerciante português e cônsul brasileiro estabelecido, nos confins do Brasil com o Peru, às margens do rio Javari, na cidade dupla brasileira e peruana de Remate de Males e N.S. de Nazaré, que hoje não existe e deu origem a Atalaia do Norte e Benjamim Constant.
Casou-se com Maria Accioly de Menezes, que os da geração anterior à minha chamavam de tia Maroca, a nova, pois existia uma anterior do mesmo nome, mãe do Diomar, chamada Maroca, a Velha, ambas nascidas no Ceará e irmãs da minha avó paterna Lili, já nascida no Amazonas.
O casal teve numerosos filhos, de que sabia os nomes, mas que o tempo me fez esquecer. Pio Veiga não confiava no futuro da produção da borracha, apesar de estar rico graças a este produto. Por isso quando um deles completava o secundário já se ia preparando para viajar, com destino à Europa. Frederico de Menezes Veiga estudou Agricultura, especializou-se em genética vegetal e criou a cana CB, que revolucionou a indústria açucareira de Campos, onde hoje existe uma praça com sua estátua; Raimundo, conhecido por Mundico, estudou Química na Alemanha, e nas minas de carvão do Ruhr, com a velha ideia de que o linhito do Solimões seria explorado um dia, depois morreu intoxicado com seus estudos sobre a rotenona: José esteve em Portugal aprendendo a administrar e controlar empresas, mas acabou dono do rio Ituxi, hoje dominado pelos índios. Foi deputado estadual por muitas legislaturas por Benjamim Constant e um dos caciques de Álvaro Maia; Liberalina (Libi) estudou no Colégio Sion, na Suíça, mas acabou envolvida na Grande Guerra, tendo recebido a mais alta condecoração francesa, como heroína: a Legião de Honra.
Fotografia da família de Pio Veiga e tia Maroca
Luiz de Menezes Veiga também estudou na Europa, mas eu nunca soube dos estudos que lá fez, sendo um funcionário de confiança da firma I.B.Sabbá, até o fim da sua vida. Porém ele deixou marcada uma história fabulosa às margens do Javary, quando ainda assim era escrito.
O fato é que Luiz sempre foi impetuoso e brigão, e sendo insultado por um oficial do Exército Peruano da Fronteira de Nazaré convidou-o para uma briga, ao que o oficial retrucou dizendo-lhe que só aceitaria um duelo de sabre, o que foi logo aceito, por ele.
Mal sabia o peruano que uma das coisas que Luiz aprendera, nos seus estudos pela Europa, fora a de lutar com sabre e, no dia e hora marcados todos compareceram à Remate de Males, para assistirem aquele embate armado extemporâneo, talvez o primeiro e o último realizado, nas barrancas do Javari.
Após poucos minutos de luta Luiz Veiga desarmou e feriu seu oponente, que se rendeu, perdendo aquele duelo feito por motivos fúteis. Foi considerado um herói nacional e só não recebeu uma medalha, por que elas ainda eram raridades, mas tornou-se um ídolo para os brasileiros da fronteira.
Hoje um filho de Luiz é o Brigadeiro Frederico Veiga, aquele de mais jovem idade que já atingiu esse posto, na Aeronáutica, pelas suas qualidades.
*Historiador. Membro das Academias Amazonense de Medicina e de Letras, e do Instituto Geográfico e Histórico do Amazonas.
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