– De onde vens?
– Em vim Piripiri.
– Para onde vais?
– Eu vou pra Maracangalha.
– Com quem andas?
– Com as pernas seguindo a direção do nariz.
– Quem és?
– Um frangote depenado.
– O que te trouxe aqui?
– Bons ventos.
– Por que essa vestimenta?
– Deus dá o frio conforme a roupa.
– Então acreditas em Deus?
– Também sou filho de Deus.
– És enviado?
– Sou convidado.
– De quem és convidado?
– Do rei do qual sou amigo.
– Mas aqui não é Pasárgada. Onde pensas que estás?
– Num bom lugar para se viver em paz.
– Convidado para quê?
– Para um casamento.
– E quem irá se casar?
– Aquela que apanhou o buquê no ar.
– Com quem ela vai se casar?
– Com aquele que é feio, mas bonito lhe parece.
– Mas se casam só por isso?
– E por mais três coisas: dinheiro, interesse e amor.
– Quem tem o dinheiro, ele ou ela?
– Nenhum dos dois. As famílias dos dois é que são ricas.
– E o interesse é por quê?
– Por uma nonada.
– Mas também se casam por amor, não é?
– Todos se casam por amor. Depois descobrem que foi por outra coisa.
– És casado?
– Sou celibatário.
– Algum voto sagrado?
– Convicção pessoal.
– Alguma causa nobre?
– Causa comum. Cuidados comigo e com o outro.
– Que tipos de cuidados?
– Os recursos são escassos e, muitas vezes, não podemos bancar o outro sem pôr em risco a própria sobrevivência.
– Então, não possuis boas rendas?
– As minhas rendas somente a mim socorrem.
– Não pensas que é preciso trabalhar mais para se ter mais?
– Pouca gente enriquece trabalhando. A maioria, além de trabalhar, precisar tirar um tempo para ganhar dinheiro.
– Tem mais alguma coisa a dizer?
– Para o bom entendedor meia palavra basta.