“As empresas japonesas, desde os primórdios, também aqui depositaram a energia de seu entusiasmo, contribuindo decisivamente para a transformação econômica, social e cultural de nossa região. MotoHonda, um orgulho da ZFM, a Yamaha, com capital amazonense, Semp/Toshiba, Fuji, são mais de quarenta empresas de alto nível, gerando emprego, renda, oportunidades e proteção florestal. Gratidão, gratidão pela amizade e parceria em favor da Amazônia.”
“Amigo é coisa pra se guardar debaixo de sete chaves”, diz a sabedoria do poeta. A sentença remete a uma das mais sólidas e fecundas amizades que a Amazônia e o Japão consolidaram através dos anos. É bem verdade que, por pressões federais durante a II Guerra Mundial, houve conflitos e perseguições policiais. Injustas e desnecessárias. Felizmente, em 2011, a Assembleia Legislativa do Amazonas fez uma sessão de desagravo, ao povo japonês e sua preciosa descendência na Amazônia.
O que importa, porém, é que em breve vamos celebrar o primeiro centenário dessa amizade, uma bela história fraterna, e frutuosa parceria, o elo de união entre dois grandes amigos e suas preciosas lições. Os japoneses desembarcaram na Amazônia quando o mundo experimentava os reflexos da famigerada Crise de 1929, nos Estados Unidos. Aqui os migrantes encontraram uma estagnação socioeconômica dramática decorrente do esvaziamento do Ciclo da Borracha e da incapacidade administrativa do país oferecer alternativas promissoras para a batalha da recuperação das oportunidades perdidas.
Nesta semana, uma visita de cortesia levou a direção do CIEAM e alguns conselheiros, ao encontro do Cônsul-Geral do Japão em Manaus, Masahiro Ogino, uma presença histórica e parceira no Amazonas, fator de integração e fortalecimento dos laços de união e colaboração. Estavam presentes também a Vice-Cônsul adjunta, e os seguintes visitantes: Luiz Augusto Barreto Rocha, presidente do CIEAM e Lúcio Flávio Moraes de Oliveira, presidente executivo da entidade, e os conselheiros Iuquio Ashibe, Rebecca Garcia e Joao Batista Mezari.
O presidente do Conselho Superior do CIEAM, Luiz Augusto Rocha, juntamente com o Presidente-Executivo, Lúcio Flávio Morais de Oliveira e o Conselheiro Emérito, Iuquio Ashibe, receberam com honra a visita do Cônsul-Geral do Japão em Manaus, Masahiro Ogino, e da Cônsul-Geral Adjunta, Reiko Nakamura, no CIEAM.
É impressionante o volume de iniciativas listadas pelo setor de comunicação do Consulado, onde se destacam as ações a favor do meio ambiente, educação, empreendedorismo, entre outras, que apenas confirmam o vigor cultural, educacional, científico, tecnológico e inovador deste parceiro e sua atenção muito especial com a Amazônia.
Essa aproximação começou quando primeiros colonos vieram para Tomé-Açu (1929), no Estado do Pará e, em Maués (1930) e Parintins (1931), no Estado do Amazonas, de acordo com o pesquisador Alfredo Homma. Naquele momento, a economia regional da Amazônia era essencialmente extrativista e em estagnação, devido à crise da borracha, que chegou a participar como terceiro produto de exportação do País. O sucesso da colonização japonesa decorreu do modelo baseado na introdução de recursos da biodiversidade exógena, numa época em que era um comportamento normal.
Recursos genéticos da Amazônia eram levados para outras partes do País e do mundo e por sua vez os migrantes trouxeram de outros locais para a região. Enquanto o mundo se debelava com uma crise econômica sem precedentes, em 1929 Japão inaugurava da Amazônia o a presença construtiva e harmoniosa que se consolidou nas décadas seguintes.
Um novo ciclo de pujança se iniciou no Vale amazônico, o ciclo das fibras, que a II Guerra Mundial interrompeu. Depois, o Ciclo de hortifruti, ensinando nossos agricultores que é possível criar soluções agrícolas em quaisquer direções, de excelente qualidade, sabor e vigor. Mas não só de agricultura se consolidou a presença obstinada de nossos irmãos nipônicos. Na silvicultura, no reflorestamento, na engenharia florestal, na dinâmica do carbono, a tal ponto que, hoje, o intercâmbio de Ciência e Tecnologia entre os dois países são motivo de avanços robustos e benefícios recíprocos.
Dois exemplos merecem ser destacados entre as universidades japonesas e instituições amazônicas. Um deles são as pesquisas conjuntas sobre o biochar, o biocarvão.
Os pesquisadores da Coordenação de Pesquisas em Ciências Agronômicas (CPCA) do Inpa, Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia, cultivam laços de intercâmbio para divulgação de trabalhos para prospecção dos benefícios da terra preta, ou biocarvão, com o intuito de conhecer as técnicas de produção e uso desse extraordinário fertilizante no Japão e na Amazônia.
Os japoneses têm uma cadeia de produtos para diversos cultivos de espécies. Lá é produzido em escala, com a mesma configuração química e nutricional da terra preta dos índios da Amazônia. Esta é uma nova tecnologia agrícola dos asiáticos, usando resíduos de carvão, proveniente da palha de trigo, de arroz, de grãos, a quantidade descartada, para melhorar condições físicas, químicas e biológicas do solo. O nome disso é inovação e sustentabilidade.
O outro exemplo, inclui a JICA, a agência de cooperação japonesa, mais a Universidade de Tóquio que contratou um consórcio de 32 instituições globais de pesquisa para estudar, sob a coordenação do cientista Niro Higuchi, como se dá a dinâmica do carbono na floresta amazônica, seus mecanismos, fatores, processos e resultados. Um projeto pago pelo governo do Japão É o projeto Cadaf, o mais arrojado estudo sobre a dinâmica do carbono em nossa floresta.
Projeto Cadaf
Um manancial de informações para orientar o melhor jeito de interagir e proteger a floresta. Desde então, o Manejo Florestal Sustentável, longe de ser uma ameaça à saúde florestal, é a melhor forma de revitalizar o bioma e utilizar seus serviços a favor do clima e do bem-estar das pessoas. Em breve, a Comissão ESG do CIEAM vai trazer os primeiros resultados dessa aproximação Academia Economia e Ecologia a partir dos estudos do projeto Cadaf.
A construção do Polo Industrial de Manaus, de onde saem os insumos que fazem rodar mais de 80% da economia regional, deve muito à presença japonesa na consolidação dessa economia de acertos chamada Zona Franca de Manaus, onde os investidores japoneses se envolveram desde a primeira hora. Não apenas no fornecimento de tecnologia para o Distrito Agropecuário, a oferta de produtos de qualidade para a Zona Franca Comercial, e principalmente para a implantação do Polo Industrial de Manaus.
As empresas japonesas, desde os primórdios, também aqui depositaram a energia de seu entusiasmo, contribuindo decisivamente para a transformação econômica, social e cultural de nossa região. MotoHonda, um orgulho da ZFM, a Yamaha, com capital amazonense, Sony, Panasonic, Semp/Toshiba, Fuji, são mais de quarenta empresas de alto nível, gerando emprego, renda, oportunidades e proteção florestal. Gratidão, gratidão pela amizade e parceria em favor da Amazônia.
II
Neutralização do carbono, proteção florestal e sustentabilidade industrial, os novos caminhos da ZFM
A parceria entre o CIEAM, SUFRAMA e Laboratório de Manejo Florestal do INPA representa um importante passo na busca por soluções para os desafios socioambientais na Amazônia. A aproximação entre o programa de Manejo Florestal Sustentável do LMF-INPA e a comissão ESG do CIEAM, mostra que ambos os grupos estão evoluindo em direção a objetivos mais amplos. O LMF-INPA está expandindo sua visão além das árvores, enquanto o CIEAM está olhando além da indústria, ou seja, construindo um futuro que já começou na Zona Franca de Manaus. Esse encontro é promissor, beneficiando não apenas a economia, mas principalmente a floresta.
Entrevista com o cientista Niro Higuchi LMF-INPA
Coluna Follow-up – Na Amazônia, academia e economia deveriam atuar mais entrelaçadas neste desafio chamado esfinge amazônica. Com descrever esta aproximação do programa de Manejo Florestal Sustentável que você dirige e a comissão ESG do CIEAM?
Niro Higuchi – Os dois grupos distintos dão o primeiro passo de aproximação. Eu acho que são dois grupos distintos em fase de mudança ou de flexibilização. O Laboratório de Manejo Florestal (LMF) do INPA começa a perseguir objetivos além da árvore e o CIEAM, no mesmo caminho, começa a buscar objetivos além da indústria. O encontro foi inevitável. Ganharão todos e, em especial, a floresta. Afinal, esta é a primeira missão científica reunindo cientistas do INPA e lideranças empresariais com o objetivo replicar estudos na margem direita da estrada vicinal ZF2, que pertence à SUFRAMA. Esses estudos envolvem monitoramento de longo prazo da floresta, coletando dados importantes sobre ciclagem de água, carbono e energia.
FUp – Desde 2014, quando foi entregue ao governo japonês o resultado do projeto CADAF, sobre a dinâmica do carbono na floresta, grandes mudanças e avanços foram anotados neste setor. Quais avanços você considera mais importantes?
Niro – O projeto Dinâmica do Carbono da Floresta Amazônica (CADAF, sigla em inglês) foi financiado pelo governo japonês durante o período 2009-2014 e foi executado pela cooperação entre o Instituto de Florestas e Produtos Florestais do Japão (FFPRI, sigla em inglês) e o LMF-INPA. Durante a execução do CADAF, o governo japonês aprovou um mecanismo para mitigação de suas emissões por meio de projetos da modalidade REDD. Em 2011, o Japão realizou dois estudos de viabilidade na Amazônia, um no Acre e outro no Amazonas. Nos dois estudos, o método utilizado foi o do CADAF.
FUp – Através de vídeos didáticos o Laboratório de Manejo Florestal busca envolver a opinião pública no debate da descarbonização emergencial. O que esperar do setor produtivo para que essa consciência climática seja ampliada?
Niro – Esperamos uma mudança de atitude em relação às emissões de gases de efeito estufa para a atmosfera. A conscientização per si só não basta; há necessidade de ajudar a floresta a exercer o seu papel de removedor de CO2 da atmosfera por meio da fotossíntese. Além disso, também é preciso utilizar tecnologias que emitam menos e, mais importante, os humanos têm que reduzir as suas emissões diretas e indiretas.
Os vídeos didáticos feitos pelo Laboratório de Manejo Florestal é uma estratégia de mobilização. Assim como é essencial que o setor produtivo, através da Comissão ESG, siga avançando seus alertas em relação às emissões de gases de efeito estufa, mostrando a cada um que é necessário fazer bem sua parte. A conscientização só ocorre quando é seguida por ações concretas que permitam assegurar a capacidade da floresta em absorver CO2.
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FUp – Entre os propósitos que reúnem academia e economia da ZFM, algumas iniciativas estão em andamento. Quais você considera mais importante?
Niro – Talvez, a mais importante é a decisão tomada pelo CIEAM e SUFRAMA em utilizar uma parte do distrito agropecuário, ainda protegido, para neutralizar o carbono emitido pelo Polo Industrial de Manaus. De quebra, essa área protegida servirá também de um importante abrigo para a biodiversidade. A ideia do consórcio CIEAM, SUFRAMA e instituições de ensino e pesquisa é consolidar o vale da biodiversidade e dos serviços ecossistêmicos.
FUp – Neste fim de semana, ocorrerá a primeira missão científica reunindo cientistas do INPA e lideranças empresariais. Qual é o escopo principal desta iniciativa?
Niro – A ideia principal é replicar os estudos que estão sendo realizados pelo INPA à margem esquerda da vicinal ZF2, para o lado direito da vicinal, que pertence à SUFRAMA. Do lado do INPA há estudos de monitoramento da floresta desde 1980 e estudos mais recentes relacionados com ciclagens de água, carbono e energia. Os trabalhos de campo envolvem coletas no solo, nos troncos, raízes e folhas das árvores e acima das copas das árvores.
Para isso, há uma grua de 26 metros de alcance que se desloca em trilhas dentro da floresta e uma torre de 51 metros de altura, que está aparelhada para coletar dados da troca gasosa entre a biosfera e atmosfera. Com esta iniciativa, a Comissão ESG do CIEAM já pode mobilizar o setor produtivo da ZFM na direção da demonstração da efetiva possibilidade de neutralização do carbono emitido pelo Polo Industrial de Manaus.
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