Manaus, 19 de junho de 2025

Jardins botânicos.

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Um artigo de Nelson Sanjad, doutor em história da ciência, publicado no site www.academia.edu resgata a implantação de Jardins Botânicos na Europa, desde a metade do século XVIII, época em que as ciências da natureza (Botânica, Zoologia, Geologia e Agronomia) assumiram um “caráter utilitarista, sendo convocadas para fortalecer a economia, especialmente na área da agricultura e da mineração”. Muitos Jardins Botânicos foram construídos nessa época todos voltados, para experimentos agrícolas e também para serem lugares aprazíveis para o deleite das elites, embora também tivessem a missão de educar a população. Em Portugal, nos anos de 1790, foi criado o Jardim Botânico de Ajuda, direcionado para “coordenar a coleta e classificação dos produtos naturais provenientes das colônias” com esse projeto vinculado à uma política de Estado influenciada pela “doutrina econômica e filosófica que se baseia no conhecimento e no respeito às leis naturais considerando a terra como a única fonte de riqueza em um regime de liberalismo econômico”. (fisiocracia). Por essa razão incentivaram-se as coleções de produtos naturais e informações geográficas, expressas em mapas, ilustrações, memórias, etc., que passaram a ter importância estratégica para o conhecimento e gestão do território.

CONSEQUÊNCIAS

Essa direcionamento influenciou a reforma do ensino universitário associando-o à instituições científicas, incentivando a formação de coleções vinda de expedições pelas colônias, inclusive pela Amazônia entre as quais a de Alexandre Rodrigues Ferreira, cujos resultados foram inseridos em um livro publicado pela primeira vez em 1780, tendo uma segunda edição com 666 páginas, patrocinada pela Ufam e Inpa, em 2007. Esse naturalista foi duramente criticado pela falta de patriotismo por ter entregado para Portugal todo o material coletado durante suas viagens pela Amazônia parte do qual veio para o Brasil muitos anos depois, quando a Academia Real de Ciências de Lisboa resgatou e ordenou o que o tempo não destruiu, mandou fazer cópias e entregou esse acervo à Biblioteca Nacional do Rio de Janeiro.

NA AMAZÔNIA.

Na Amazônia, na década de 1790, Dom Francisco de Souza Coutinho implantou, em Belém, o Horto Paraense Botânico que, em seus 12.000 metros quadrados, recebeu mudas de “espécies nativas e exóticas trazidas do hinterland ou contrabandeadas de Caiena, destacando-se espécies produtoras de madeira para a construção civil e naval”. Ali foi incentivada a produção de mudas objetivando mudar a economia amazônica então sustentada basicamente, pelas especiarias e drogas do sertão, um projeto implantado pelo Marques de Pombal.

NO AMAZONAS.

No Amazonas, uma lei estadual (número 629/1883) – governo de José Paranaguá – criou o Museu Botânico de Manaus, instalado em 1884 sob a direção do naturalista João Barbosa Rodrigues que criou um Herbário com 10.000 exsicatas, além de 1.281 peças indígenas desconhecendo-se o destino desse acervo. Criou, também uma biblioteca com obras importantes e publicou uma revista científica – Vellosia – cujo último número (quarto) foi dedicado a um relatório de atividades. Em 1890, o governador Augusto Ximeno Villeroy decretou o fechamento do Museu, atendendo a pressão de Monsenhor Coutinho que reprovou a ideia de João Barbosa Rodrigues ter proferido uma palestra no Gymnasio Amazonense Pedro II, sobre a teoria evolucionista de Charles Darwin. Do acervo do Museu se salvou apenas parte da biblioteca que depois de vagar pelos porões de instituições de ensino acabou sendo resgatada pelo Dr. Djalma da Cunha Batista e hoje as obras fazem parte do acervo da Biblioteca do Inpa.

Cento e sete anos depois, em 1999, para tentar impedir a invasão da parte sul da Reserva Florestal Adolpho Ducke, o diretor do Inpa  – Ozorio José de Menezes Fonseca – em parceria com a Prefeitura de Manaus – gestão Alfredo Nascimento – criou o Jardim Botânico Adolpho Ducke, o primeiro Jardim Botânico da Amazônia, em uma área de 5.000 metros quadrados na face sul da Ducke com a implantação tendo ocorrido no ano 2000.

Difícil entender a razão que levou os gestores do Inpa e do Município a entregar o Jardim Botânico para uma ONG Museológica e mais ainda a desconsiderar o esforço da direção do Instituto e da Prefeitura, ao estabelecer a data de nascimento do local como o ano de 2000, esquecendo a real data de surgimento que foi a do lançamento de sua pedra fundamental, em 1997. Um dos grandes obstáculos para o Jardim Botânico foi a inexplicável nomeação, de Bresser Pereira para o Ministério da Ciência e Tecnologia, um burocrata que nunca entendeu a importância da Reserva Ducke e de um Jardim Botânico na Amazônia Central. Felizmente, apesar do encaminhamento adotado recentemente, o Jardim Botânico de Manaus permanece como uma obra minha e do então prefeito de Manaus Alfredo Nascimento, com uma participação efetiva do Dr. Wilson Wolter, então assessor da prefeitura cedido pelo Inpa. Hoje com a caducidade do modelo Zona Franca, o Amazonas deveria resgatar a fisiocracia do século XVIII, adapta-la à modernidade e voltar os olhos para as ciências naturais, único caminho para construir um projeto de desenvolvimento substantivo do Estado.

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