Manaus, 19 de junho de 2025

Lancha “Silvanery”

Lancha “Silvanery”
Lancha “Silvanery”

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“Afeito à propriedade de terras no interior (…), em 1913 ou pouco antes, Silvério mandou fabricar uma lancha-automóvel que foi experimentada por ele (…)

Dentre as muitas estripulias de poder, prestígio e esbanjamento de dinheiro que Silvério Nery, o ex-governador e ex-senador da República andou fazendo por essa Manaus antiga, lá pelos idos de 1900, eis que surge uma bastante interessante e inusitada para aquele tempo e para os dias que correm, testemunhada por autoridades civis e militares, por amigos mais próximos e por representantes da imprensa.

Afeito à propriedade de terras no interior, a sítios e fazendas, com um belo casarão na principal via da capital amazonense, aliás, coisas comuns para os poderosos da época, em 1913 ou pouco antes, Silvério mandou fabricar uma lancha-automóvel que foi experimentada por ele, dois filhos ainda menores, o segundo tenente Leonel Porto que. era ajudante da Capitania dos Portos do Amazonas, o tenente maquinista Luiz Tirelli, o comerciante José Silva, Fernando Silva que era funcionário da Delegacia Fiscal e dois jornalistas: Antônio Mendonça do jornal “O Tempo” e’ Pedro Serafim do “Jornal do Commercio”.

Todos os convidados foram recebidos pelo anfitrião e bem acomodados na lancha que, logo depois, zarpou em direção ao porto de São Raimundo Nonnato e de lá seguiu para o lugar chamado de “Ponta Pelada”, no qual anos mais tarde seria instalado o primeiro aeroporto de Manaus. A viagem foi feita sempre em alta velocidade, ou como preferiu o jornalista que nos dá conta da façanha: “desenvolveu extraordinária velocidade, verificando-se a sua excelência,” e, por isso mesmo foi considerada uma embarcação sólida e com aperfeiçoamentos modernos.

Tratava-se do barco-automóvel de quinze metros, denominado de “Silvanery”, motor “Pauhard Levassor” de 60 H.P., com dois metros e sessenta centímetros de largura, calado de menos de um metro, casco de teck “double bordé”, revestido de cobre até a linha d’água.

A cabine era .de acaju, teto encrustado, como se fosse um “vagon-leito”, e por fora era coberto de linóleo forte. Na proa a caixa de correntes de ferro, um grande armário com gavetas, catres para equipagem, luz elétrica fornecida por um dínamo adaptado ao motor e uma bateria de acumuladores. Na cabine havia dois sofás de patinha estofada que podiam ser transformados em leitos, uma mesa desmontável e ventiladores. Havia cozinha e lavatório. Em ré estava um salão com bancos estofados e assentos em- couro de porco. Na proa, o mastro, dois ventiladores e holofotes de navegação.

Este mimo que agradava o bom viver do senador, governador e manda-chuva que liderou a política estadual com grande influência no piano federal ‘por mais de trinta anos graças a suas relações no Congresso e especialmente com o senador Pinheiro Machado, esse mimo particular foi mandado fazer em Paris pela empresa “A. Tellier & Cia., Neuilly-He de la Jatte”, uma das mais consideradas firmas especializadas em embarcações da Europa de então.

Rodopiando pelo rio Negro naquele dia solene, os embarcados, pouco depois dos primeiros volteios e demonstração de força, velocidade e equilíbrio do barco, convidados especiais foram servidos com um lanche para lá de bacana no qual rolou Champagne da melhor qualidade servida para diversos brindes e homenagens.

E eu que pensava que depois de muitos e muitos anos pesquisando e reunindo informações sobre esse velho político amazonense já sabia de tudo ou quase tudo de sua história pessoal, eis que sou surpreendido com mais esta proeza singela, sim … proeza singela, porque para quem era governador e ao mesmo tempo residia na Europa participando de banquetes e mais banquetes com industriais e investidores europeus e norte-americanos, mandar fazer em França um barquinho-automóvel desses, não deveria causar espanto a ninguém.

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