Na quinta-feira passada comemoramos mais um dia do Amazonas. Flores foram depositadas com muita justiça no monumento ao Tenreiro Aranha, nosso primeiro presidente, que fica ao centro da Praça da Saudade, uma das mais lindas da capital. No entanto, a melhor forma de celebrar o nosso estado, Colosso do Norte, é relembrando aqueles que o construíram e que fizeram dele o que hoje é no corpo da nacionalidade. Em 1850, vale lembrar, a maioria esmagadora de nossa população era indígena. Uma boa parte dessas etnias já havia sido descidas e destribalizadas, restando poucas que se mantinham isoladas. Quando a borracha começou a dar sinais de valorização o Amazonas era quase um deserto demográfico, com suas populações tradicionais dizimadas por séculos de escravização, práticas predatórias e pela política repressiva do Império no combate à Cabanagem. A conjugação de períodos de seca e depressão econômica levou o nordeste brasileiro, especialmente o estado do Ceará, a participar com o maior número de imigrantes, que a partir de 1877 foram chegando desordenadamente. Pouquíssimos puderam se estabelecer em Manaus, pois na capital só ficavam aqueles que tinham emprego ou dinheiro já que os pobres não eram bem vindos na capital dos coronéis de barranco. De qualquer forma, os nordestinos mostraram sua tenacidade e capacidade de sobreviver, se mesclaram com as populações tradicionais e enriqueceram a cultura regional, interpretando o grande vale através de seu colorido folclore, da música, da culinária e literatura de cordel. Sem os nordestinos sequer teríamos a linda cidade cartesiana quer era Manaus, obra do maranhense Eduardo Ribeiro, um negro. Nunca nos esqueçamos disto! Logo nos primeiros anos do ciclo da borracha, empurrados pelas perseguições, fome e discriminação, judeus sefarditas marroquinos aportam no nosso estado, a maioria procedente de Tanger, Tetuan, Fez, Rabat, Sale e Marrakesh. Era uma imigração bem preparada, com homens e mulheres educados para o trabalho, que logo ocupariam nichos empresariais, especialmente no comércio, na exportação e importação, na indústria e na cultura. Outra importante corrente foi a dos sírio-libaneses. No final do século XIX, levas inteiras de homens e mulheres deixaram suas cidades e aldeias, como Baalbeck, Ghazir, Dimen, Beirute, no Líbano, e Ayo, Hamma e Damasco, na Síria, para reconstruir sua existência aqui na terra de Ajuricaba. Gente persistente, apegada ao sentido de família, sóbrios e inteligentes, logo estavam concorrendo com os outros imigrantes, superando as barreiras do preconceito e formando novos costumes e introduzindo novos valores culturais. Foram os sírios-libaneses que trouxeram para a região o sistema do crediário, trazendo para um mercado elitista a população pobre. Outros grupos étnicos e culturais também vieram contribuir para a formação de nosso estado. Dos europeus, além da constante e ininterrupta imigração portuguesa, há que se destacar a presença dos italianos. Oriundos em sua grande maioria de cidades e vilas do sul da Itália, especialmente das empobrecidas províncias do Mezzo Giorno, Potenza e da Sicília, os italianos se destacaram na Amazônia nos campos da educação, arquitetura, música, comércio e indústria, artes cênicas e na introdução, junto com os espanhóis, dos primeiros movimentos operários organizados. Os últimos grupos de migrantes estrangeiros a chegarem no estado foram os japoneses, que introduziram novas técnicas agrícolas. E não nos esqueçamos da constante presença dos afrodescendentes, aqui trazido, como escravos e que se estabeleceram na Praça 14 de Janeiro, trazendo a poderosa cultura africana. Por isso mesmo, este é um estado que não pode admitir intolerância ou qualquer forma de preconceito racial. Esta é a lindeza de nossa tradição cultural. Parabéns Amazonas!
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