Valho-me do texto original do meu saudoso e prezado amigo Rodolpho Guimarães Valle – um dos oradores mais brilhantes que ouvi -, texto que me foi entregue por ele quando do seu adoecimento terminal e que se constitui de conjunto de biografias de maçons ilustres do Amazonas, e o faço para redescobrir aos olhos dos mais curiosos um pouco da trajetória de Feliciano de Souza Lima e de Leonardo Antônio Malcher. O primeiro, nascido na nossa terra no ano da grande seca nordestina (1877), e o segundo, na região do Pará, muito tempo antes (1830) mas que tiveram a possibilidade de legar expressiva contribuição à instituição maçônica e às entidades de estudos e práticas do Espiritismo.
Feliciano teve atuação destacada no campo educacional, lecionando no Ginásio Amazonense “Pedro II”, na Escola Agrotécnica da qual também foi secretário, na Faculdade de Agronomia e na Faculdade de Direito da qual foi diretor e figura fundamental no salvamento da instituição após a extinção da Universidade Livre de Manaus. Na magistratura, foi juiz de casamentos e juiz de órfãos da comarca da capital. No campo da benemerência, integrou a Associação Beneficente do Asilo de Mendicidade, precursora da Fundação Dr. Thomas, criada pela Maçonaria, da qual foi presidente do Conselho Administrativo e era reconhecido pela conduta harmoniosa e cuidados com os menos favorecidos.
Ingressou na Maçonaria em 1901, e por muitos anos foi secretário, desdobrando-se em trabalhos relevantes, de tal modo expressivos que conquistou a medalha de ouro da Loja “Conciliação Amazonense”, de onde foi venerável em parte da fase da Primeira Guerra Mundial (1914-1915) nos quais a Casa teve papel relevante em conscientizar a coletividade diante das agruras e inseguranças do movimento armado.
Foi Grande Secretário, Presidente do Tribunal de Justiça Maçônico, membro da Comissão de Negócios Interiores do Grande Oriente Estadual do Amazonas e diretor da Escola “Gonçalves Ledo”, para letramento infantil e de adulto, criada ao tempo do grão-mestre e desembargador Gaspar Antônio Vieira Guimarães (1923), época em que o Poder Público não conseguia dar conta de atender a todos os jovens em idade escolar.
Por seu turno, Leonardo Antônio Malcher pode ser considerado um dos nomes de trajetória mais relevante na história do Espiritismo no Estado. Foi comerciante, proprietário, major da Guarda Nacional, o que era posição respeitável, mas por título adquirido a base de investimento financeiro, sendo ressaltado como cidadão de feitos benemerentes.
Na Maçonaria teve ingresso em 1879, na mais antiga e primeira Casa da entidade, a Loja “Esperança e Porvir”, ajudou a regularizar a Loja “Conciliação Amazonense”, atuou na instalação do Consistório de Sublimes Príncipes do Real Segredo e comissões de obras, mas sempre esteve presente em atos de solidariedade humana, notadamente junto aos enfermos, com atuação até 1913, quando de seu desencarne.
O que os destaca e os une, portanto, e confere razão para terem sido reunidos em um só artigo, é a caridade e o amor ao próximo, com os quais marcaram as suas passagens humanas, em época em parte coincidente, na mesma cidade, é isso o que deles dizem os biógrafos que os conheceram nas práticas do cotidiano e os que os sucederam em algumas das mesmas missões, não a ponto de desconhecerem as situações de atrito político-social em que estiveram envolvidos, e que são naturais da vida terrena.
Nas instituições maçônicas que frequentaram e para as quais contribuíram decisivamente, vários registros dão conta dos trabalhos de benemerência que desenvolveram nas lojas e em entidades civis sem fins lucrativos, embora de temperamentos, posses e posição social diferentes.
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