Manaus, 27 de julho de 2024

Mais sobre subdesenvolvimento

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Continuo com mais verbetes sobre o subdesenvolvimento.

IMPONTUALlDADE: Uma das coisas que mais surpreende os brasileiros quando viajam ao exterior é a pontualidade das pessoas. Nos Estados Unidos, país bastante informal nas relações interpessoais como o Brasil, a pontualidade herdada dos ingleses é irrepreensível. Quando você recebe um convite para uma recepção ou coquetel, no convite vem impresso a hora de começar e encerrar. E todos cumprem à risca. Na Europa as pessoas são tão pontuais que parecem brotar do chão ao mesmo tempo no local onde acontecerá o evento para o qual foram convidadas. Ninguém tenta entrar no teatro depois de começado o espetáculo. Aqui em Manaus um governador foi convidado para assistir à estreia da ópera de Richard Wagner, O Crepúsculo dos Deus, e chegou tão atrasado, mas tão atrasado, que suspeito que pensou que o nome da obra prima do compositor fosse A Alvorada dos Deuses. Devido a impontualidade generalizada, os médicos aqui não agendam mais as consultas, porque ninguém chegava na hora certa. Esta é uma das coisas mais irritantes e nefasta para a clínica médica. Se você necessita de uma consulta médica, se prepare para mofar durante horas no consultório, pois os próprios médicos esqueceram o que é ser pontual. A minha impressão é que o índice alto de hipertensão arterial em nossa cidade vem desta irritante prática, subproduto da impontualidade. Porque se você não está passando bem e tem de suportar horas e horas a espera de um atendimento, à tendência é o agravamento do quadro. Isto é Subdesenvolvimento.

BIBLIOTECAS: Se algum dia na Inglaterra desaparecer todas as referências sobre a literatura daquele país, as bibliotecas públicas podem preencher a lacuna. A UNESCO, através do CERLALC, órgão para o livro e leitura, recomenda que a cada 100 mil habitantes é necessária uma biblioteca pública. Aqui em Manaus, cidade com cerca de três milhões e trezentos mil habitantes, há apenas duas. Uma modesta, da Prefeitura, e a outra do estado, alojada em prédio majestoso dos tempos em que os administradores sabiam o que era viver numa cidade. Hoje a cidade está no rabo da fila em termos de leitura e bibliotecas públicas. Isto é subdesenvolvimento. BARULHO: Outra coisa que surpreende os brasileiros no exterior é a calma e o silêncio. Nada de buzinas de motoristas histérico ou caminhonetes carregando pesadas caixas de som e poluindo o ambiente com música brega.

Aliás, tem um energúmeno que passa aqui pela Rua Saldanha Marinho todas as manhãs, às seis horas da manhã em ponto, explodindo os nossos ouvidos com um repertório que lhe assegura um lugar no inferno, se é que há justiça neste mundo. Como se não bastasse, temos os comerciantes desta barelândia estridente que, creio eu, acreditam que quando menor o poder aquisitivo mais surdo é o pobre freguês. Bem em frente ao prédio onde moro, há uma casa que reúne vários cubículos especializados em vender roupas femininas de má qualidade, um restaurante e, ó portento, uma sex shop. Para desgraça nossa o proprietário é um amante da publicidade indigente.

Aparentemente, quando está abastado, contrata um miserável que portando um megafone fanho anunciam os artefatos em promoção.

Quando está menos abastado, é a vez de um pobre coitado que bate palmas no pé dos ouvidos dos incautos transeuntes e grita com uma voz digna do Pavarotti. Como os cubículos dependem do público feminino, o furor do sex shop espanta a mulherada, que até devem se interessar pelas ofertas, mas são produtos que exigem discrição. Como se não bastasse tantos decibéis à solta, cuidado com os bares e restaurantes, se você os procuram para dois dedos de prosa, esqueça. Quando não tem banda de rock ao vivo tocando do lado de sua mesa, o som é para estourar os tímpanos. A impressão é ninguém mais conversa aqui. Isto é …

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