“Nos últimos meses temos sido surpreendidos pela despedida de pessoas que dedicaram a vida a boas causas, contribuindo para nosso desenvolvimento e para a vida sociocultural amazonense. Com isso vamos caminhando para maior empobrecimento, seja nas relações pessoais e nas entidades culturais, científicas e empresariais”
Um dos jornalistas de maior respeitabilidade em nossa terra foi Aristophano Antony o qual, a cada vez que se dava um desenlace de quem efetivamente havia contribuído com a vida amazonense, cuidava com zelo e seriedade de publicar o necrológio, que era, ao mesmo tempo, página de saudade e de homenagem.
Nos últimos meses temos sido surpreendidos pela despedida de pessoas que dedicaram a vida a boas causas, contribuindo para nosso desenvolvimento e para a vida sociocultural amazonense. Com isso vamos caminhando para maior empobrecimento, seja nas relações pessoais e nas entidades culturais, científicas e empresariais.
Antes, pouco antes, já perdemos José Azevedo, misto de empresário, diplomata, artista e diretor de cena, e há pouco eis que se despediu Guilherme Aloisio Oliveira e Silva, agente de boas relações institucionais, empresário e jornalista, líder de sua geração, e, em seguida, Joaquim Marinho, Luís Vitali, Fábio Marques, Oscar Ramos e, agora mesmo, Luiz Maximino de Miranda Corrêa Neto.
Sentindo as perdas, vinha guardando silênciorecolhido nas minhas saudades, revivendo as lembranças que cada um desses amigos foi deixando em mim, mas, relendo um dos artigos de Aristophano reverenciando a vida e a obra de Jonas da Silva, já lá se vão muitos anos, senti vontade quase incontida de registrar o quanto devemos a essas pessoas, cada um no seu campo de atuação, na realização de seus sonhos, na construção de suas relações pessoais e de família na edificação de contributo coletivo que, sem dúvida, honra as suas memórias. Para cada um o Amazonas deve páginas de gratidão.
José Azevedo atuou no Teatro do Luso e no Teatro Juvenil, preparou gerações de jovens, fez fortuna pessoal e não perdeu a simplicidade e a dedicação à terra que o acolheu, dando de si o extremo do seu amor. Guilherme, carregando esperanças que jamais o abandonaram, multiplicava as facetas da vida dedicando-se a afazeres familiares e coletivos, mas, diverso do pai, não buscou a política partidária. Marinho, o português.
caboclo, armazenou coleções preciosas, fez e aconteceu no mundo das artes, da radiofonia do cinema, do teatro e da agitação cultural, e se despediu sem se aperceber das últimas mudanças do mundo do rock. Vitali, impetuoso, deixou o seu Teatro Pombal para que fosse continuado – como deve ser -, mas formou gerações para o palco e para a vida. Fábio, discreto, deixou de lado o mundo da televisão e do jornal, protegendo-se do stress natural desses caminhos, mas não conseguiu fugir da despedida precipitada que lhe estava reservada. Óscar, cansado de uma luta quase insana para aprender e ensinar, ensinar mais do que aprender como ele gostava de fazer, sentindo, quem sabe, a proximidade da hora final, andou rebelde, andou recolhido, andou saudoso, andou apaixonado, produziu, andou … andou … até parar de vez na cidade que o adotou. Luiz Maximino, o senhor de muitos mundos, elegante como poucos, homem da cidade luz e das terras distantes de Portugal, das estórias da floresta e das conversas inteligentes, se despediu longe de casa e sem o aconchego dos amigos, quem sabe para fazer par com sua própria história de embaixador do Amazonas, aquele que deu a própria fortuna de herança para a propagação das artes.
Eis como empobrecemos, muito mais do que o leitor possa imaginar.
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