Manaus, 7 de setembro de 2024

Morre Dom Cláudio Hummes, a voz da Amazônia

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“A devoção a Maria da Amazônia tem este significado: a mãe que acolhe, protege e ensina as implicações do ato de cuidar.”

O cardeal Dom Cláudio Hummes, arcebispo emérito de São Paulo, morreu hoje aos 87 anos na capital paulista. A informação foi confirmada em nota pela Arquidiocese de São Paulo. De acordo com a entidade, o religioso morreu após “prolongada enfermidade, que suportou com paciência e fé em Deus”. Em março deste ano, ele renunciou à presidência da Ceama (Conferência Eclesial da Amazônia) diante do agravamento de um câncer no pulmão, segundo informações do UOL Notícias.

Missão dada por Papa Francisco 

Dom Cláudio, reconhecido em São Paulo e na Europa como a voz da Amazônia, era devotado à região, sobretudo depois que Papa Francisco assumiu a liderança da Igreja. Há dois anos, quando completou 85 anos, e 6 anos de presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM e presidente da Comissão Episcopal Especial para a AmazôniaFoi dele a iniciativa do Sínodo da Amazônia, realizado há três anos, momento importante de exaltação da importância cultural, climática e socioambiental e de divulgação da problemática amazônica, do crime organizado, do desmatamento criminoso e das queimadas planejadas para expansão da fronteira agrícola.

Dom Cláudio, encarregado de assessorar a encíclica Laudato Si, do Papa Francisco, recebe, ao lado de Dom Sérgio, um exemplar do Amazônia, pioneiros e utopias. Foto: Jamile Alves

Missão e devoção

Em comum acordo com o Papa Francisco, voou para a Amazônia em 2014, para iniciar um trabalho pastoral da maior importância, a Rede Eclesial Pan-Amazônica/REPAM e a Comissão Episcopal Especial para a Amazônia. Quando esteve no Brasil, em sua primeira viagem ao Exterior, depois de escolhido pelo Colégio de Cardeais – Dom Cláudio liderou o movimento que culminou com a decisão de eleger o cardeal argentino – Papa Francisco convocou cardeais e bispos da América Latina para debater a Amazônia. Uma longa e detalhada conversa, revelou Dom Cláudio quando aqui chegou para contar sua delicada missão.

Sob as bençãos e imagem de Maria da Amazônia, e uma missionária nativa, Nazaré Silva, Dom Cláudio celebra a Amazônia. Foto: Jamile Alves

Amazônia sob a mira da Igreja

Tive a honrosa missão dada por Dom Sérgio Castriani e Padre Reneu Stephanello, de integrar o comitê de recepção a Dom Cláudio, um ilustre missionário, com a autoridade papal de conhecer e se comprometer com a Amazônia, sua gente, especialmente as populações tradicionais e indígenas. Foi um dia histórico, 30 de novembro de 2014. Um encontro marcante na minha história pessoal. Havia trabalhado com o cardeal nos anos 80, ocasião em que atuava na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, na coordenação do Departamento de Teologia sob a orientação de outra referência missionária Dom Paulo Evaristo Arns. Dom Hummes era arcebispo de Santo André, do ABC Paulista, Região Metropolitana de São Paulo. O Brasil passava por grandes transformações e tive a oportunidade de conhecer um frade franciscano como líder de uma Igreja que se voltava para o cristianismo primitivo através das Comunidades Eclesiais de Base.

Amazônia, desmate, queimadas e tráfico 

Foi esta a inspiração de homenagem a Maria da Amazônia, uma devoção simbólica e urgente, pois a região arde pelas queimadas e padece os açoites do crime organizado, do tráfico de drogas e de pessoas, do Comercio sexual e de órgãos humanos. Era um domingo de sol. Cheguei mais cedo ao Santuário Nossa Senhora da Amazônia, propositalmente situado no meio da floresta do Tarumã, um afluente do Rio Negro. Dom Cláudio foi encontrar-se com Dom Sérgio e padre Reneu, o pároco, líder e referência histórica do Santuário, hoje sob cuidados de padre Charles Cunha.

“Acolhe, protege e ensina a cuidar” 

Em sua pregação, durante a Missa, Dom Cláudio fez questão de relembrar a doutrina seguida pelo Papa Francisco, a quem ajudou na escolha do nome oficial do pontífice. “A Igreja é sempre a mesma, o mesmo Jesus Cristo, a mesma mensagem. Mas como atualizá-la de forma que seja uma mensagem para o mundo de hoje? Para que seja uma luz? É preciso trazer a Igreja para o tempo de hoje. Jesus não veio condenar, mas salvar. A Igreja precisa ser mais missionária”. E finalizou dizendo que desembarcou em Manaus para atualizar o conceito evangélico de missionário, do significado das boas novas para uma população empobrecida e os recursos naturais em processo de depredação. “A devoção a Maria da Amazônia tem este significado: a mãe que acolhe, protege e ensina as implicações do ato de cuidar.”

 

II

O Polo Industrial de Manaus será Bio ou TIC em 2073?

A indústria instalada em Manaus será em 2073, o adensamento, a diversificação e a regionalização da Biotecnologia em relacionamento sério com a Tecnologia e a Nanotecnologia desde que tomemos essas trilhas do conhecimento e do empreendimento, suas premissas, condições e viabilidade, em nossas mãos.

Uma premonição da hora ou uma provocação a ser sugestivamente levantada no day after da ExpoAmazonia Bio&TIC 2022, encerrada no último dia 03 de julho? Realizado pelo Polo Digital de Manaus e Centro de Bionegócios da Amazônia (CBA), com a presença de um puxirum de voluntários e quase 20 mil interessados, o evento pôs na vitrine um repertório recorde de produtos e processos de inovação tecnológica. Curiosamente, este ensaio de intuições no atacado e que borbulha no varejo de tantas incertezas, é justamente a grande reclamação que se tem feito à Zona Franca de Manaus há 55 anos. Avançamos a despeito das pressões contra este programa de redução das desigualdades regionais e, por causa delas, bem poderíamos expandir essa movimentação promissora. Ou há outra alternativa?

O professor Augusto Rocha, da UFAM, talvez não tenha sido bem interpretado em seu último artigoAmazônia e as faltas de sensos, publicado EM 4.7.22, no BrasilAmazoniaAgora, quando descreveu a ExpoAmazonia como uma Feira de Ciências cheia de jovens e expectativas de negócios. É exatamente este o retrato do momento e é está a razão de nosso entusiasmo com o evento. Ele mostrou os ingredientes vitais de nossa transformação: o entusiasmo dos jovens, o destaque da importância da Ciência, e a geração de negócios e oportunidades. A imagem da feira como lugar onde vamos atrás do que precisamos para alimentar nossa caminhada confere à Ciência o estatuto de sua sacralidade e essência.

De vários pontos de vista, podemos dizer que o resultado do evento sintetiza a própria saga do Polo Industrial de Manaus. Um momento emblemático do evento chamou muito à atenção e se deu com dois resultados apresentados pelos alunos da Fundação Mathias Machiline, um projeto social que é a cara do programa ZFM. Focado na transformação social, o projeto começa em 1986, com a iniciativa do empresário Matias Machline, fundador do grupo Sharp, entusiasta da educação como vetor de mudança, ele criou a Fundação de Ensino e Pesquisa Matias Machline. Morreu 8 anos depois, num grave acidente mas o projeto seguiu aos trancos e barrancos como a ZFM. Passou pela Nokia, Microsoft, fechou as portas e reabriu em 2016, com a empresa Digitron da Amazônia, graças ao visionário e filantropo Sr. Sung Un Song. Os projetos da FMM apresentados na Expo Bio&TIC tem tudo a ver com a Amazônia: dois programas de inteligência artificial que monitoram no modo 4.0 um projeto de piscicultura, controle autônomo de temperatura, qualidade da água, o PH, etc. E o mesmo se deu com uma unidade de produção de farinha. Amazônia 4.0, a antecipação da utopia.

O convite, pois, é irromper o imobilismo, mesmo que o proibicionismo conveniente seja dominante, e o empreendedorismo latente tratado como fator recessivo na ótica das teleprioridades governamentais. A vitrine da ExpoAmazonia mostra uma componente irreverente das novas gerações. Ou será que precisamos de liberação burocrática para pensar, inovar, perverter a (des)ordem das imposições arcaicas, um PPB para copiar as soluções que a natureza tem a oferecer.

Um pouco de história do Amazonas… Em 1877, o botânico e filósofo inglês, Alfred Russel, nas suas expedições pelo Rio Negro, observava espécies para compreender a inteligência natural imanente à dinâmica evolutiva da biodiversidade. Como as plantas se reproduzem se não tem quem as semeie, indaga ele num de seus cadernos de notas: “Muitas plantas que não tem como disseminar suas sementes através da ação dos ventos – ou por outros mecanismos por possuírem sementes grandes que estão geralmente no interior dos frutos – desenvolveram frutas coloridas e brilhantes para atrair as aves e outros animais para consumi-las e assim disseminar as respectivas sementes. E quando as sementes são pequenas e de fácil propagação os frutos que envolve são raramente coloridos”. Sem essa inteligência natural não teríamos a floresta amazônica. Felizmente ela está aqui e à espreita de jovens irrequietos. Interpretá-la significa abrir a possibilidade de copiar as soluções que nos pode oferecer. Imaginemos fazer isso com os recursos da TIC!!! Em tempo: a citação está no acervo de Alfred Russel Wallace, e quem desejar conhecer vida e obra deste naturalista, recomendo Wallace-online.org, um acervo precioso e fascinante e gratuito.

Portanto, a resposta à questão imaginaria transparece óbvia: a indústria instalada em Manaus será em 2073, o adensamento, a diversificação e a regionalização da Biotecnologia em relacionamento sério com a Tecnologia e a Nanotecnologia desde que tomemos essas trilhas do conhecimento e do empreendimento, suas premissas, condições e viabilidade, em nossas mãos. A modulação fabril hoje em funcionamento na ZFM é a raiz, fonte e garantia deste movimento e não há em toda a Amazônia qualquer arranjo capaz de substituir seus acertos, conquistas e desafios. E quem estará convidado a integrar o mutirão estratégico, multidisciplinar e tático dessa evolução senão aqueles que se disponham a se tornar um dos atores na primeira pessoa do plural? Ou seja, quem quiser se submeter aos critérios que devem nortear essa navegação promissora da sustentabilidade comprometida com a prosperidade geral. Que tal?

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