Manaus, 27 de julho de 2024

O Amazonas no Diário de Vargas

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Getulio Dornelles Vargas, ditador e presidente da República, líder político da Revolução de 1930, não descuidou de registrar os principais fatos ocorridos ao longo de seus períodos de governo, especialmente após o movimento militar que impediu a posse de Júlio Prestes na chefia do governo federal.

Publicado pela Editora da Fundação Getulio Vargas anos depois de sua trágica morte, em 1954, episódio que modificou os rumos da política nacional em momento crucial em que os acontecimentos o levariam a renúncia e a prisão de familiares, o livro permite contextualizar algumas questões de interesse de parlamentares, partidos e governos estaduais, entre eles os do nosso Estado.

Tendo aquiescido à indicação de Floriano Machado e Juarez Távora, Getulio nomeou Álvaro Maia para a interventoria federal amazonense, no vigor dos seus primeiros 30 anos, o que há de ter favorecido o estabelecimento de grave crise com o Poder Judiciário com a “demissão” de desembargadores em razão de ordem de habeas corpus indesejada pelo governante e parte da população. Isso se resolveu com a demissão de Álvaro e a readmissão dos desembargadores. Getulio lamentou o fato e mais tarde renovaria os laços com Álvaro e faria dele o “governador” mais longevo do Amazonas.

Outra nota do Diário se refere a Cunha Melo, em 1933, deputado pelo Amazonas, o qual, pela segunda vez, rejeitou a sua nomeação para ministro do Supremo Tribunal Federal, mas, tempos depois obteve nomeação para o Tribunal de Contas da União. Esse fato, alardeado positivamente pela imprensa local, não corresponde aos registros do STF que se referem a Francisco Cunha Melo e não a Leopoldo Cunha Mello que, segundo se sabe, pretendia mesmo era ser governador do Estado nas eleições indiretas de 1935.

Organizadas em partidos políticos as forças tradicionais e as mais recentes se uniram para impedir que Cunha Mello e Álvaro Maia indicassem o interventor que deveria suceder a Rogério Coimbra. Os mais aguerridos nessa questão foram os membros do Partido Trabalhista Amazonense que saíram anunciando vitória com a nomeação de Nelson de Mello, então secretário de Segurança de Pernambuco que, convidado para o cargo, demorou-se a aceitar o convite-imposição de Vargas, o que o presidente anotou com alívio diante da encrenca.

Adiante, ainda em 1933, Vargas lamenta ter de cancelar a visita que faria a Manaus depois de estar em Belém do Pará, certo porque foi obrigado a retornar ao Rio para recepcionar visitante ilustre, estreando o avião “Granf Zepelin” em voo de Recife ao Rio e deixando os trabalhadores manauenses desencantados.

São inúmeros os registros que faz a respeito do andamento da Assembleia Nacional Constituinte, aquela que ele convocou para reduzir a pressão dos paulistas em prol da redemocratização do País e nomeação de um dos seus para a interventoria. As intrigas e futricas dessa assembleia valem uma boa leitura e alguma diversão aos que imaginam conhecer os meandros dos governos e da vida partidária. Aqui e ali há anotações sobre a representação amazonense, notadamente o deputado do PTA e a luta em favor da cabotagem brasileira e seus entreveros com o ministro José Américo de Almeida; e, vez em quando, os achaques de Cunha Mello tido como pavão na Constituinte e depois no Senado da República pela grande influência que passou a deter.

No período em que os constituintes deveriam escolher o novo presidente da República, por via indireta, no qual Vargas se “fazia de morto para melhor passar”, em várias ocasiões foram levantadas outras candidaturas, todas elas de militares, chefes ou partícipes da Revolução de 30 ou ministros do governo. Em meio a esse fuxico os trabalhistas do Amazonas reunidos no PTA, exigiam fidelidade de seu deputado, comandante Luiz Tirelly em relação a Vargas. O velho Getulio duvidava de tudo e fingia acreditar em todos, mas registrou acreditar que Tirelly não trairia.

Confesso que foi uma delícia ler, reler e anotar à margem do Diário de Vargas, uma fonte curiosa e interessante para os pesquisadores devorarem e descobrirem muitas outras anotações que nos interessam de perto.

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