Manaus, 26 de julho de 2024

O que há por trás?

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Na quinta feira 08/08/2013, um jornal local estampou na primeira página, fotos de prédios históricos abandonados indicando, na manchete que eles voltariam a ser públicos. Fiquei matutando sobre o que está por trás da notícia e fui levado a concluir que essa é mais uma “maracutaia” para lesar o povo destruir nossa história.

Qualquer pessoa consciente e conhecedora de nosso passado sabe que aqueles prédios jamais poderiam ter sido privatizados e abandonados, por fazerem parte de nosso tempo pretérito e que, certamente, foram construídos com dinheiro público. Pessoas instruídas sabem que naquele tempo dinheiro vivo e vantagens eram dadas para que empresas estrangeiras se instalassem em Manaus e enriquecessem por conta do ciclo da borracha. Essas benesses, contudo foram dadas para favorecer o fausto da “belle époque” que só beneficiou a classe privilegiada, cujo domínio começou a ser contestado por Ajuricaba hoje tido como origem seminal da Cabanagem a mais importante luta contra o colonialismo que persiste até hoje.

Minhas lembranças

Minhas lembranças da infância e juventude atestam que um daqueles prédios mostrados na primeira página do jornal era sede do serviço de bondes e que, do outro lado da Praça, ficava um pavilhão coberto apelidado de “Tabuleiro da Baiana”, copiando o nome de uma instalação semelhante existente no Largo da Carioca, no Rio de Janeiro.

Qualquer povo civilizado sabe a importância de preservar sua história e por aqui, manifesto meu repúdio aqueles milhares de turistas que saem de Manaus para visitar a Europa onde vão ver e tirar fotos diante de prédios e monumentos antigos preservados em respeito ao passado e em homenagem ao futuro. Na volta essas mesmas pessoas, em nome da usura, desmerecem nossos prédios e monumentos, deixando-os em lastimável estado de abandono.

É chocante

Em alguns sábados, pela manhã, vou ao Instituto Geográfico e Histórico (Presidido pelo Dr. Antonio Loureiro) e passo em frente ao antigo Hotel Cassina apodrecido e abandonado. Todos os dias passo próximo ao Colégio Estadual do Amazonas e minha revolta se exacerba ao ver árvores crescendo no alto da fachada daquela Escola por onde passaram centenas de Professores e milhares de Estudantes que glorificam nosso passado.

Livre pensar é só pensar

Essa frase do Millor Fernandes libera minha mente para refletir sobre o que vejo e ouço, usando também a teoria das liberdades substantivas criada por Amartya Sen, – prêmio Nobel de Economia – e criador do IDH, um indicador de desenvolvimento que se opõem aos dados do PIB, um índice que tem o preço de tudo e o valor de nada.

Por conta dessa liberdade, fiquei matutando sobre a devolução para o acervo de bens públicos, daqueles prédios podres e fica claro, para mim, que agora talvez eles sejam restaurados, com dinheiro do povo e um custo superfaturado. Certamente o Estado foi dominado por migrantes que enriqueceram (noveaux riches) e agora mandam em nosso passado, em nosso presente e em nosso futuro. (A história se repete).

E como pensar leva a pensar que leva a pensar, lá me vi associando esse desrespeito com a história com o movimento a favor do “estado laico”, encabeçado, principalmente por religiões não católicas. Primeiro quero dizer que sou apenas um católico estatístico, mas vejo o catolicismo como base de nossa história e que se esse movimento ganhar vulto nosso passado se apagará na mão desses fundamentalistas que querem um estado laico embora alimentem uma bancada evangélica no congresso nacional (com letra minúscula)

Jocosamente pensei que o Estado do Espirito Santo será denominado Estado Laico, Santa Catarina receberá o nome de um desses “santos” bispos de igrejas fundamentalistas, a Bahia de Todos os Santos será conhecida por Bahia dos Orixás , a cidade de São Luiz (Maranhão) será a cidade de Midas, e durante muitos anos, talvez séculos, tramitará no parlamento (com letra minúscula) um projeto para mudar o nome de São Paulo, de São Sebastião do Rio de Janeiro e de milhares de cidades do interior fundadas por missionários católicos. Aqui em Manaus, a falta de respeito e o fundamentalismo religioso se unem para depredar nosso passado e, quem sabe, naquele local histórico do centro não vai ser construída ou criada mais uma dessas igrejas que são inventadas todos os dias.

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