*Floriano Ferreira da Silva
Continuação…
C
Chega – A ponto de. É uma expressão que denota uma consequência de algo feito em demasia. Ex. 1 – Corri tanto chega eu fiquei tri cansado. 2 – Comi tanto chega fiquei empanzinado. 3 – O mauro pegou tanta chuva chega tava com o beiço roxo de tanto frio.
Cheiro verde – Folha de cebolinha, coentro e chicória. Temperos indispensáveis ao preparo das deliciosas caldeiradas de peixes.
Chibata – Coisa ou pessoa legal, bacana. O Jociney é muito chibata, pagou merenda pra todo mundo ontem.
Chibé ou Xibé – Comida simples e rústica, preparada apenas com água e farinha de mandioca. O caboclo come o chibé acompanhado de carne bovina seca e salgada ou carne de pirarucu salgado e seca e depois assada. O chibé compensa o excesso de sal da carne. Na falta da carne ou de outro alimento, o chibé é uma das únicas opções para matar a fome.
Chilique – Desmaio ou Piti. Ex. 1 – A Edinelza não comeu direito, se meteu a fazer regime, depois deu um chilique, passou a maior vergonha, bonito pra cara dela, acho é bom, bem feito, só deu pro dela. 2 – O filho do delegado deu um chilique ontem quando barraram ele (barraram-no) da festa, porque não queria pagar, disse que vai contar pro pai dele.
Chinelo ou sandália emborcada – Crendice e superstição. Alegam que chama atraso de vida para o dono do chinelo ou sandália. Há pessoas que não permitem de jeito nenhum que suas chinelas ou sandálias fiquem emborcadas.
Chispar – Fugir, correr.
Choca (ó) ou choco (ô) – Utiliza-se muito essas expressões no sentido de estragado ou podre. Ou, Também para expressar um estado de espírito de desânimo, de desinteresse. Ex. 1 – Maria, não pega dessa água do lago porque está choca. 2 – Esse ovo não presta, está choco. 3 – Acho que hoje não vou à festa, estou choco.
Chocolateira – Vasílha rústica feita de latas vazias de leite, por exemplo. Literalmente deveria ser a vasilha utilizada apenas para preparar ou servir chocolate, mas na Amazônia, na “chocolateira” se faz chocolate, chá e principalmente o café.
Chove não molha – Indecisão, indefinição. Ex. – O Erivelton com a Joelzia já estão há mais de dois anos dizendo que vão se casar, mas até agora nada, ficam nesse chove-não-molha.
Chuviscar – Chover fino, com pouca intensidade. Garoar.
Chuvisco – Chuva fina. Garoa. Ex. – Mariazinha, sai já desse chuvisco menina! Tu já tá toda mufina por causa dessa gripe e ainda está facilitando. Olha, olha.
Cipó titica – Espécie de vime. Tipo de cipó muito resistente e comum na Amazônia, muito resistente e que tem uma infinidade de utilidades, como para a confecção de paneiros, vassouras para varrer quintal e amarração (em tempos idos, na ausência de prego os caboclos utilizavam o cipó titica para amarrar os caibros e estruturas de suas casas). O cipó titica também é muito utilizado para artesanato, etc. O cipó titica merece a narração de dois “causos”. 1 – O primeiro é sobre o caboclo que chegou à cidade e a prima dele disse que tinha comprado umas cadeiras todas feitas em vime e mostrou para ele. Quando ele viu foi logo falando – Isso é cipó titica envernizado, vai querer me enganar é? 2 – O outro caso é do caboco que estava de coca (cócoras) na beira do cais, quando chegou um motor porrudão (barco grande) e o ajudante amarrou com cabo de nylon. Ao ver a admiração do caboclo ele perguntou – será que o barco tá seguro com esse cabo? E o caboclo retrucou – Sei não, se fosse cipó titica eu botava fé.
Cipoada – Lambada ou bordoada desferida com cipó. Ex. – Anastácio, para de malinar da tua irmã, senão vou já te meter a cipoada.
Ciscação – Ato de limpar o roçado ou o terreiro (terreno ao redor da casa) usando ancinho ou ciscador.
Cismado – Desconfiado. Veja “Cabreiro”. Ex. – Estou cismado que o motor de linha hoje não vem. Deve de ter desviado o caminho, vá vê que o furo por onde ele atalha o caminho está até o toco de tapagem.
Cobrelo – Dermatite ocasionada por algum tipo de inseto ou animal peçonhento que passe sobre a pele ou que tenham deixado vestígio sobre a roupa da pessoa.
Coçar frieira entre os dedos do pé no punho da rede – A frieira é ruim, mas a sensação é gostosa, sobretudo se o caboclo coçar as partes entre os dedos dos pés no punho da rede, parece que está chupando cana ou tendo um orgasmo. Veja Frieira.
Coceira na mão – Crendice popular, é como se fosse um prenúncio de que a pessoa está para receber ou ganhar um dinheiro inesperado.
Cocó – Penteado feminino em que se enrodilham os cabelos.
Cocoma – Girino.
Cóio – O mesmo que esconderijo. Lugar secreto. Ex. – O compadre Antonio só pesca tambaqui dos brutelos, também pudera, ele sabe onde é o cóio deles.
Coisar – Verbo que pode ter vários significados, dependendo da ocasião em que é utilizado. Usa-se muito para substituir o verbo que não se lembra no momento. Ex. – Joãozinho para de coisar essa bola, senão você ainda vai derrubar minhas panelas. Nesse caso, coisar está substituindo chutar.
Coivara – Pilha ou amontoado de galhos ou ramagens que sobraram da primeira queima do roçado. Obs. O caboclo ainda se utiliza do fogo para fazer seus roçados, procedendo da seguinte forma: Roça a mata mais baixa, depois derruba as árvores e quando as folhas ficam secas, ele ateia fogo. Geralmente nessa primeira queimada sobram galhos e troncos, então ele corta, com machado ou motosserra, esses galhos e troncos e os arruma em montes, que são as coivaras e depois ateia fogo, para limpar mais a área e assim realizar o plantio.
Colocar duas hastes pequenas de flecha na porta, para “desentortar perna” de criança – De acordo com a crendice popular, isso serve para “endireitar” as pernas das crianças. Funciona assim: a mãe pega uma haste de flecha e corta dois pedaços pequenos, do tamanho de cada perna da criança, amarra-os um ao lado do outro e pendura na porta principal da casa. A teoria dessa crendice diz que cada pessoa que passe, por aquela porta onde está o objeto pendurado, leva um pouco do “defeito” da perna da criança.
Colocar papel molhado na testa – A crendice popular diz, que colocar papel molhado com cuspe (saliva) na testa, principalmente de crianças, é “tiro e queda” para soluços.
Colocar sal no pires em cima do peito de defunto – De acordo com a crendice popular serve para que o corpo do defunto não fique muito inchado.
Colocar vela na cuia de bubuia no rio – Outro tipo de crendice popular muito utilizada pelos caboclos dos beiradões, é colocar uma vela acesa dentro de uma cuia e solta-la no rio, a fim de encontrar o corpo de uma pessoa desaparecida por afogamento. Segundo a crença, onde a cuia com a vela ficar parada é lá que o corpo está. Muitas vezes coincide, devido aos “remansos” que se formam nos rios.
Combustol ou combustór – O mesmo que óleo diesel ou combustível. Ex. – Parente! Tordia fiquei aborrido por demais já. – Por que já então seu mano? – Fiquei no prego de combustór, me esqueci de abastecer o motor, aí só deu pro meu, tive que vir de bubuia até o porto de casa, ainda bem que eu tava pro lado de cima, porque pra baixo todo santo ajuda.
Comer abiu – Ficar calado. Uma analogia ao fato de que, quando se come abio a boca fica com a substância pegajosa e grudenta da fruta, portanto, dizem que a pessoa comeu abio quando fica calada diante de determinado assunto, sobre o qual ela não quer falar, principalmente por que lhe traz constrangimento ou aborrecimento.
Comer coquinho – Ficar “burro”, porque, diz a crendice cabocla que comer coquinho (miolo) do caroço da pupunha ou do caroço do tucumã deixa a pessoa burra.
Como já então (?) – Expressão que determina admiração, surpresa e ao mesmo tempo dúvida. Ex. – Estazinha, como já então que você conseguiu pescar esse porrudo do peixe?
Confiado (a) – Diz-se da pessoa atrevida, inconseqüente ou inxirida, que age de forma inconveniente. Por exemplo, uma pessoa chega como visita em uma casa e vai logo passando para a cozinha sem ser convidada. Ou, um rapaz que abraça uma moça sem a conhecê-la direito e já vai com gaiatices. Ex. 1 – Margarete! Tu viu (viste) a filha da Silvana? Rolos de confiada, nem bem chegou na casa da comadre, já foi logo passando pra cozinha e mexendo nas panelas. 2 – Para! Manel tu tá (estás) muito confiado, eu não te dei a liberdade de ficar me abraçando desse jeito.
Conversa fiada – Mentira ou história que não inspira muita confiança. Ex. – Papai! Hoje eu não vou pra aula, porque a professora foi pra cidade. – Deixa de conversa fiada rapaz, onte (ontem) mermo eu falei com a professora e ela disse que só vai viajar daqui a uma semana, cuida do negócio sério, senão te meto logo a rimpada pra esquentar o teu couro.
Conversar fiado – Jogar conversa fora, bater bapo. Coisa de quem não tem muito o que fazer.
Coque – Cascudo ou cocorote (golpe desferido com a junta do dedo médio fechado) ou também pode ser um tipo de penteado de mulher.
Continua na próxima edição…
*Floriano Arruda. Comunicador de rádio, escritor, folclorista. Natural de Urucutituba/Am. Mantém programa radiofônico semanal que interage diretamente com o público na Rádio Panorama, de Itacoatiara. Membro efetivo da Academia Itacoatiarense de Letras.
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