Manaus, 16 de setembro de 2024

Histórias esquecidas

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Os milagres de Santo Antonio

A Rua 24 de Maio termina na Joaquim Nabuco, em frente ao Grupo Escolar Barão do Rio Branco, que antes de ser uma escola foi a residência de uma abastada família de aviadores e seringalistas.

Grupo Escolar Barão do Rio Branco

Os aviadores formavam um grupo especial de comerciantes da época da borracha, sua função era a de abastecer os seringais de seus aviados, em um ou mais rios do interior. Para isso mantinham o seu contato comercial com firmas fornecedoras dos mais diferentes produtos, todos necessários à vida dos seringueiros e seringalistas, perdidos na selva. Abrangiam alimentos, bebidas, tecidos, calçados, medicamentos, armas, munições, fumo, móveis, burros de carga, armarinhos, miudezas, tijelinhas, baldes, machados, tábuas, telhas, enfim, os artigos necessários à sobrevivência de milhares de pessoas ocupadas na produção de borracha, em todo o interior do Amazonas. Essas mercadorias eram levadas, para os seringais, mediante encomendas de um ano para o outro, nas embarcações dos aviadores, por um sistema de escambo em que os fornecimentos do ano entravam em uma conta corrente, a ser anulada com os entrega da borracha de cada seringal ao aviador, no momento da safra do ano, sendo depois de classificada e vendida aos exportadores.

Portanto, desse comércio vivia o proprietário da casa em construção a que nos referimos.

Construção alta, de dois andares, com pátios amplos em ambos os lados e belas escadarias, além de um jardim com uma formosa grade de origem inglesa.

Dizem que a casa custou mais de duzentos contos, uma elevada quantia, mesmo para aquela época das vacas gordas, talvez hoje equivalentes a alguns milhões de reais.

Mas o que há de interessante nessa casa de belos traços arquitetônicos?

Encimando o seu portão de ferro, na entrada, há um medalhão contornado pelos dizeres: “Milagres de Santo Antonio”, em alusão a um fato acontecido com o seu proprietário.

A construção estava sendo terminada. Ele trazia para casa um alto valor, talvez uns quarenta contos, perdidos no trecho entre a sede do seu negócio, no centro e aquele local.

Transtornado com a ocorrência fez uma promessa ao santo milagreiro das coisas perdidas, que gravaria o fato à porta da sua residência se encontrasse o pacote das notas perdidas.

Deambulando pelo trecho onde hoje é a Rua Huascar de Figueiredo encontrou, com alegria, o monte de dinheiro intacto, que caíra, sem perceber, de sua pasta, naquele ermo local, onde pouca gente passava, pois ainda era desabitado.

Até hoje lá está a prova desse milagre.

Mas veio a Grande Crise da borracha e essa família, como muitas outras de Manaus, tudo perdeu, embora ainda existam muitos de seus descendentes, que talvez nem saibam dessa história, ou tenham outra versão a contar.

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