Manaus, 21 de novembro de 2024

Passeio à Praia do Siripá

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(Itacoatiara, 21/10/2023)

Como estudioso da História de Itacoatiara tenho me pautado exclusivamente em pesquisar, aprender e transmitir parte crucial da trajetória histórica, política e social da cidade onde nasci. Desde os 16 anos de idade inseri-me nessa luta e, após o lançamento do meu primeiro trabalho (1), aos 19 anos – sob o mecenato do saudoso historiador e sociólogo amazonense Arthur Cézar Ferreira Reis (2) – dela jamais me afastei. Ao todo são 58 anos de atividade cultural.

Sinto-me orgulhoso e feliz ao saber que a bibliografia que pude construir nesse largo período (18 obras editadas) tem sido utilizada para apoio de trabalhos escolares ou acadêmicos. Referida produção, além dos livros, inclui artigos, obras de áudio, de vídeo, ilustrações, etc. – materiais didático-científicos e históricos indispensáveis aos trabalhos de investigação e produção cultural que estão à disposição dos meus conterrâneos e das minhas conterrâneas; quaisquer poderão acessá-los e/ou consultá-los, pessoalmente, por correspondência ou através do meu portal na internet (3).

Sempre focado em destacar minha terra natal, aqui e ali tenho me portado como um parceiro, um apoiador e, excepcionalmente, um patrocinador de projetos e iniciativas culturais da boa gente de Itacoatiara, sugerindo, trabalhando ou colaborando para fazê-los acontecer.

O evento mais recente ao qual me apresentei foi no Tour Cultural e Turístico, aludindo ao Projeto “Ver o Pôr do Sol e o Nascer das Luzes da Velha Serpa”, a bordo do navio/motor “Hirlanda Regina”, em 21 de outubro de 2023, sob o patrocínio da Agência Pedra Pintada Turismo Ecológico e coordenação do empresário Orley Júnior Drumond, em parceria com o artista Glauber Souza Silva.

Mapa

Descrição gerada automaticamente com confiança média

Imagem do Google – gentileza de Renato Farias 2023

Cerca de três dezenas de pessoas participaram do referido passeio, incluídos professores, intelectuais, estudantes e curiosos. Funcionaram na assessoria as professoras Maria de Castro (Artesanato) e Marly Sá (História). A apresentação do evento foi feita pela extrovertida artista Leila Cristina e o serviço de venda a bordo (culinária regional), esteve sob os cuidados do professor Luís Netto, diretor da Tacacaria da Casa Amarela.

Foram três horas e alguns minutos de interação entre os participantes. Enquanto o barco corria intercalavam-se lances de palestras por mim proferidas, e shows musicais do cantor Gilney Júnior e dançarinos de boi bumbá. Foram momentos de muita interação, aprendizado e alegria. Coube-me discorrer sobre a Fundação da cidade; Bandeira e Hino de Itacoatiara; a importância do rio Amazonas; lenda da cobra grande e a Batalha Naval de 1932. Durante as pausas, foram sorteados entre os presentes cerca de duas dezenas de livros (4) da minha autoria e por mim autografados.

Francisco Gomes falando sobre Itacoatiara a bordo do navio/motor

O “Hirlanda Regina”, barco de dois pisos, confortável e veloz, deixou o porto de Itacoatiara às 16hs30m com destino a Siripá, praia agregada à parte de baixo da ilha da Trindade, popularmente denominada de Cumaru, situada no meio do rio Amazonas, defronte ao rio Madeira e um pouco acima de nossa cidade. Segundo o geógrafo e emérito escritor amazonense Agnello Bittencourt (5), Cumaru “é uma ilha permanente defendida pelos remansos” e, como é comum durante a vazante, “suas margens transformam-se em praias de areias finas”. Uma delas é Siripá.

Siripá é a conjunção dos termos siri (do tupi si’ri – espécie de caranguejo) e pá (do latim pala – instrumento largo e achatado, provido de um cabo para cavar o solo ou remover terra, areia, etc.). Da mesma forma, o termo pá lembra a parte larga e achatada da extremidade do remo, que mergulha na água e impulsiona a canoa. Segundo a minha perspectiva, isso remete para os costumes dos habitantes da microrregião compreendida entre a cidade de Itacoatiara e o distrito de São José do Amatari: índios e índias (nos idos mais antigos) ou cabocos e cabocas (nos tempos modernos).

Segundo o Dicionário Aurélio (6), “Siri é designação comum a todas as espécies de crustáceos decápodes, braquiúros, portunídeos, caracterizados por terem nadadeiras no último par de pernas [grifos meus). Vivem na água, mas podem sair para as praias onde se enterram. Alimentam-se de detritos em geral. A carne é muito saborosa”.

Pessoas sorrindo posando para foto

Descrição gerada automaticamente

Francisco Gomes ladeado por Leila Cristina e Maria de Castro

Conforme referido, os siris classificam-se como crustácea. Portadores de carapaça resistente e cinco pares de patas, destacam-se por uma enorme capacidade de natação. Isso devido ao seu último par de patas terminar em remos largos e achatados, que permitem que esses animais sejam muito ágeis no ambiente aquático. Os siris da Praia de Siripá e adjacências são equivalentes aos siriaçu (de siri+açu ou siri grande), com hábitos semelhantes aos dos caranguejos.

O siriaçu é o maior representante da família Portunidae (caranguejos nadadores). Membros dessa espécie vivem, na maioria, em tocas, que eles mesmos escavam, alimentando-se de toda sorte de detritos orgânicos, e são utilizados na alimentação humana. A unidade pesa em média 1 quilograma chegando a alcançar o tamanho aproximado de 8 a 20 centímetros.

Foto de um trecho da Praia do Siripá na Ilha do Cumaru.

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À chegada em Siripá foi movimentada. Poucos da comitiva cultural ficaram a bordo. A maioria aproveitou o momento apreciando o resto de sol que desaparecia no horizonte. Entre caminhadas e correrias pelo areal deserto e imenso, alguns usufruíram um pouco das águas e outros simplesmente relaxaram, apreciando a natureza e sentindo a brisa do rio. Uns bebericavam; outros cantavam e dançavam. A alegria era geral.

Na volta, a bordo do “Hirlanda Regina”, todo(a)s se esmeravam em apreciar e/ou fotografar as belas paisagens colhidas nas duas margens do rio Amazonas. À esquerda, a cidade plenamente iluminada destacando-se as ruas e construções da sua parte frontal, contrastando com a baixada das águas resultante da homérica vazante que atravessamos. À direita, a imensa fila de navios cargueiros fundeados ao longo da costa, desde a boca do rio Madeira às proximidades da ilha do Risco; naquele início de noite contavam-se 12 navios, aguardando a hora de desembarcar fertilizantes e de autoabastecer-se de soja: prova do poderio logístico e comercial da cidade das Itaquatiaras.

Visão paradisíaca de um trecho do rio Amazonas, próximo de Itacoatiara, ao entardecer de 21/10/23

Contava-se 19hs40m quando o navio/motor “Hirlanda Regina” aportou em nossa cidade. Naquele instante encerrava-se o Tour Turístico Fluvial corajosamente realizado por jovens artistas de Itacoatiara liderados pelos empreendedores Orley Júnior Drumond e Glauber Souza Silva. O Projeto “Ver o Pôr do Sol e o Nascer das Luzes da Velha Serpa” é uma bela experiência que precisa ser incentivada e multiplicada. Que assim seja. Itacoatiara merece!

_________________

(1) – Livro primeiro de minha autoria: “Itacoatiara. Roteiro de uma cidade”, 168 páginas, volume I da Série Paulino de Brito das Edições Governo do Estado do Amazonas/Editora Sérgio Cardoso, Manaus 1965 – prefaciado por Arthur Cézar Ferreira Reis.

(2) – Arthur Cézar Ferreira Reis (1906-1993), ex-governador do Amazonas no período 1964/1967.

(3) – Blog do Francisco Gomes. Itacoatiara história e cantigas: www.franciscogomesdasilva.com.br

(4) – Livros sorteados: “Cronologia Eclesiástica de Itacoatiara”, “Presidentes e Presidenciáveis da República em Itacoatiara” e “As Pedras do Rosário”.

(5) – Agnello Bittencourt (1876-1975), in “Corografia do Estado do Amazonas”, edição fac-similada, Tipografia Real, Manaus, 1985.

(6) – Aurélio Buarque de Holanda Ferreira, in Dicionário Aurélio da Língua Portuguesa, 2ª Edição, Rio de Janeiro, 1993.

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2 respostas

  1. Rica e maravilhosa matéria, dr. Francisco! Parabéns! Que seu amor por Itacoatiara continue cada vez mais latente no seu coração e na sua alma! Abraços!

  2. O passeio foi maravilhoso e a história da nossa velha Serpa brilhantemente esplanada por vossa Senhoria Dr. Francisco Gomes orgulho de Itacoatiara.
    Obrigado meu querido amigo.

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