“Inatacável em longa carreira de magistrado, era daqueles que não ostentava poder (…) se portava com precisão no cumprimento do dever (…)
Esse espaço precioso tem sido dedicado, via de regra, a cuidar do passado, e, muitas das vezes, dos tempos mais distantes, recuperando passagens da vida social, artística e política do Amazonas. Abre-se hoje ao passado recente e aos dias correntes ao servir para homenagear uma das figuras mais singulares e grandemente conhecida em Manaus: o professor e magistrado Paulo dos Anjos Feitosa.
Descerrando as cortinas desse palco cotidiano vêm à memória os corredores do Instituto de Educação do Amazonas, a velha casa de ensino de tantas tradições e glórias, celeiro de estudo de personalidades que marcaram suas trajetórias pela dedicação à educação, seja os de bem antigamente como aqueles que se deram ao meu tempo de aluno e ainda em anos posteriores, preparando os que viriam a formar gerações e a construir o futuro de todos nós. E o faço para principiar por dona Rosa Feitosa, uma figura simples, dedicada ao trabalho, disciplinada e aplicadora de disciplina aos estudantes do meu tempo de quase menino, a conter a todos nós pela mansidão de suas palavras e gestos, pela forma atenciosa com que agia ao impor “ordem na casa” que, algumas vezes, parecia estar sendo transformada em um verdadeiro “inferno”, tal a agitação dos ieanos pelos largos corredores, na quadra, nas salas do Grêmio “Plácido Serrano” e até nos dias de prova. Pareço vê-la com seu ar maternal, braços e pernas longas, passos lentos …
O filho de dona Rosa -um deles porque todos se projetaram na sociedade amazonense pela inteligência e seriedade -, o professor e magistrado Paulo Feitosa, tinha muito da velha mãe. Simples, educado, modesto, gentil, caminhava lenta e silenciosamente, falava baixo. cultivava as amizades, era dedicado à família, era religioso como aprendera desde cedo, e, vivendo para a esposa e os filhos construiu uma tradição de respeito e acatamento.
Inatacável em longa carreira de magistrado, era daqueles que não exibia saberes, não ostentava poder, não se permitia as futilidades que muitas vezes assumem proporção desmedida na vida de muitas pessoas, mas, ao reverso, se portava com precisão na hora certa do cumprimento do dever, fosse ao aplicar o direito e promover a justiça, fosse ao atender a um amigo com sua atenção peculiar, ou ainda ao praticar a sua fé que há de ser o conforto da família nessa hora de corte da convivência física.
Não é gratuito nem há excesso afirmar que o professor Paulo Feitosa era um homem de bem. Não é gentileza “post mortem”, é a justeza da verdade principalmente se tomados os conceitos que norteiam a minha busca pessoal como espírita e na forma como ensina o Evangelho, porque ele praticava a lei de justiça, de amor e de caridade; tinha fé em Deus e no futuro; enfrentou as vicissitudes sem murmurar; possuía o sentimento de caridade; era bom e humano com todos; jamais se ouviu falar que ele pretendesse vingar-se de alguém sobre algo que aos olhos humanos menos elevados estivesse a reclamar essa pequenez: a vingança; não cultivou ódio nem rancor; há de ter sido indulgente com as fraquezas alheias; não tinha vaidades; valeu-se da vida e dos bens materiais para viver comedidamente; tratava a todos com bondade e benevolência; respeitou os semelhantes, caminhando em mais de 90 anos de existência como ser humano que encarnou para conquistar a evolução do espírito, e deu-se com esforço permanente e diário a essa esperança.
Por isso mesmo, quando Manaus empobrece ainda mais com a despedida de Paulo Feitosa, ficam estes registros para a história porque em futuro distante, quando alguém perguntar quem poderia ser tomado como símbolo de humildade e bom caráter, como um homem de bem, sem nenhum favor, Paulo Feitosa estará reconhecido pelos cidadãos de seu tempo.
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