Manaus, 9 de dezembro de 2023

Pontualidade

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“Uma das coisas mais irritantes de Manaus é a impontualidade que perpassa todas as classes sociais e muitas atividades …  

…. Para mim, o pior efeito desse mau costume é a adoção da hora de chegada dos pacientes nos consultórios médicos. Lembro-me dos médicos do passado, quando as pessoas cultivavam a boa educação, que não se aprende na escola.

Se uma paciente marcasse uma consulta com o Dr. Platão, por exemplo, seria atendimento pontualmente. Ou seja, o paciente não seria obrigado a mofar na ante sala do consultório, como hoje é norma. Ficar doente em Manaus exige uma paciência de monge tibetano. Há médicos, e já senti isso na pele” que marca a chegada a partir das 15 horas, mas ele mesmo só chega às cinco. Se você chega na hora marcada, já encontra o local apinhado, pois tenho a impressão que os manauaras atam a rede de madrugada na porta do consultório. A princípio considerei isso uma demonstração do padrão africano a que chegamos com o progresso da Zona Franca.

Mas queimei a língua ao saber que os médicos do Sudão, de Uganda e Moçambique continuam atendendo com hora marcada como em qualquer lugar que preze o conceito de civilização. A minha impressão é que esse costume bárbaro é exclusivo de Manaus, pois no Rio de Janeiro e São Paulo os médicos continuam praticando a hora marcada para a consulta. E os pacientes chegam com pelo menos dez minutos antes de sua hora. Um amigo meu, médico, respondendo ao meu questionamento por essa prática grotesca respondeu-me que a culpa era da impontualidade dos pacientes. E contou sobre uma dondoca que chegou com duas horas de atraso e fez o maior barraco para ser imediatamente atendida. Ele justificava a prática pela falta de educação dos pacientes. Mas como se não bastasse a tortura de disputar com outros dez mil enfermos, a clínica médica também sofreu OS seus revezes. Recentemente fui acometido de uma pneumonia. Tudo começou como uma rinite alérgica que evoluiu para uma tosse desesperadora, mas não apresentava quadro febril. Procurei uma otorrino que parecia mais concentrada no seu magnífico celular. Ouviu-me as queixas e mandou que aviasse uma receita, que fiz prontamente.

Mas a crise de tosse estava cada vez mais frequente e desesperadora. Procurei outro otorrino, este também se limitou a olhar a receita da colega, mandar suspender os remédios que estava tomando e ordenou uma radiografia do tórax. Chamo a atenção para o chá de espera que tive de sofrer em cada uma das consultas aqui listadas. Fiz a tal radiografia e, no dia seguinte, levei ao médico. Este olhou e disse que o meu caso era para um gastro, pois a radiografia indicava que eu tinha uma hérnia de hiato e parte de meu intestino delgado estava pressionando o pulmão, daí as tosses infernais. Fui assim encaminhado ao gastroenterologista, que mal olhou a radiografia e foi logo a condenando.

Mandou que fizesse uma tomografia computadorizada do tórax, me obrigando a sofrer mais uma boa dose de radiação. Ressalto que nenhum desses esculápios sequer me auscultou, creio até que nem sabem mais o que é um estetoscópio. Tive saudades do Dr. Moura Tapajós, que usava o seu estetoscópio como um virtuose.

No dia seguinte levei a tal tomografia. Ele olhou o exame e me dispensou, dizendo que eu não tinha nada, que voltasse ao otorrino que talvez descobrisse o motivo daquela tosse de guariba.

Resumindo a coisa, fui correndo para o meu amigo Jefferson Jezzine, meu cardiologista, que olhou os exames radiológicos e depois de me auscultar com seu estetoscópio, diagnosticou no ato a pneumonia e resolveu a questão em menos de uma semana. A explicação que eu tenho para a rapidez com que o Dr. Jefferson matou a charada e os outros não, é que quando ele frequentou a faculdade de Medicina ali se formavam médico, hoje formam mecânicos de automóveis.

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