Manaus, 21 de novembro de 2024

Por que mudar?

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Aqui tivemos um Estado antes de sermos uma Nação. Um Governo que quer governar em povo. E tudo foi mera coincidência. No instante em que as caravelas de Pedr’Alvares tocavam as Terras Brasilis, em Pindorama, davam-se os europeus a debater e criar o conceito de Estado Nação. Um conceito que só poderia nascer do cadinho das Cidades Estados mediterrâneas. Tendo como parteira a fragmentada visão paroquial e tribal que tanto sangue derramou naquele que é o menor dos continentes, mas origem da democracia, o melhor dos piores regimes políticos. O resultado por estas bandas do chamado novo mundo deu no que deu. Ao norte os puritanos esperaram por entre preces fervorosas e muitos germes letais para os nativos o momento certo para forjarem um estado, isto depois de atirarem muito carregamento de chá inglês ao mar. Terçaram armas contra as tropas do Rei George, que também perdia a guerra contra o seu próprio ensandecimento. E lá nas verdejantes florestas coníferas do norte aconteceu à primeira revolução política da história moderna. E não descansaram nos louros. Viram crescer ao sul um simulacro do mal latino que grassava para além do rio Grande e foram novamente à guerra, esmagando as forças do atraso, que assim foram levadas pelo vento. A vitória do norte contra o sul. Finalmente, abriram o oeste bravio à ocupação das terras por todos e com isso evitaram o latifúndio e expandiram o território de oceano a oceano. E acreditaram que o destino manifesto estava a seu favor. A construção deste país ao norte levou pelo menos um século e meio, consolidando-se como Nação no limiar do século XX.

E se autodeterminou de Terra das Oportunidades. Neste país o Estado é pequeno, plural e legítimo herdeiro do Leviatã de Hobbes. Ao sul, deu-se exatamente ao contrário. Para abater custos, facilitar a exploração colonial e queimar a mão de obra abundante e barata, o Estado desembarcou das caravelas e galeões e ocupou de corpo inteiro para susto da indiada sem Lei, nem Rei e nem Deus. Um Estado que era a reprodução escrita e escarrada do mandonismo autoritário que fez de Portugal- outrora país ágil e avançado – uma nação comatosa, e da Espanha uma terra acorrentada à Idade Media e o catolicismo tridentino. Se o impulso da nacionalidade brasileira, esboço da futura Nação verde amarela, já estava nos verso de Bento Teixeira ou na vitória de Guararapes, tudo era impenetrável a este Estado de tamancos e empanturrado de bacalhau, que foi deitando raízes no imenso território, estendendo as garras de sua máquina burocrática até o mais secreto gesto de seus habitantes. Nesta Nação de pecadores e amantes do carnaval, nunca se fez uma revolução, e o sul sempre ganhou do norte. É a terra dos cartórios, dos bacharéis, dos políticos corruptos de moral ilibada. A terra dos Oportunistas.

Como então pensar que este enorme filho de Calibã possa entender de democracia? Que os proprietários das Capitanias Hereditárias entenderiam de liberdade de expressão e estariam inclinados a ouvir a voz das ruas? Aqui nestas plagas a Democracia é uma floração de estufa, medrando raquítica neste clima vaporoso de viçosos parasitas. Por isso, nenhum parâmetro aqui se aplica, pois a latitude tem lógica própria. Esquerda, direita, essas formas de posicionar o espectro da política, que tanto impulsionaram os jacobinos em suas perucas empoadas, alguns até escanhoados pela guilhotina, aqui só vale os ensinamento do João das Regras, ou seja, a conciliação para evitar que sequer a simulação da mudança seja possível. E neste meio milênio a massa cinzenta que moureja abaixo da mesa grande, vez por outra recebe uma migalha mais ancha. Quando as migalhas são poucas e ofendem o paladar, ocupam as ruas, gritam palavras de ondem e apanham da sempre bem preparada forças de segurança, o único segmento da sociedade que se moderniza rápido. Mudar porque?

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