(1992)
Primeiro vieram ruidosas crianças
Trazendo brinquedos de todos os tipos
Fazendo um barulho ensurdecedor.
Só mesmo as crianças pra tudo mudarem
De tudo fizeram, de tudo aprontaram
Que toda atenção, se voltou pra elas.
E medo foi embora. E todo o disfarce
Que havia no ar desanuviou-se,
Mostrando que as caras daquelas crianças
Falavam verdades de muitas certezas
Que a natureza tratou de mandar
Toda a passarada pra sobrevoar
Aquelas crianças, saudando a alegria
Que elas trouxeram pra dentro da praça.
E, logo em seguida, chegaram mulheres,
Atrás das crianças, pelo encanto delas,
Umbilicalmente presas que são,
Vieram as mulheres, trazendo bonança,
Conversa amenas, olhares sutis
Corpos à mostra, pezinhos, quadris,
Peles queimadas, rostos ambíguos,
Castas e louras, negras e mansas,
Corteses e brancas trouxeram histórias
Que logo contaram praquelas crianças.
Chegaram animadas, atrás das crianças,
Matronas, pagãs, rosadas, cunhas,
Mães, raptoras, condessas e fadas,
Foi assim que chegaram aquelas mulheres!
E, atrás das mulheres, vieram os homens
E a praça se enchia por todos os lados,
Chegaram mais homens atrás das mulheres,
Porque às mulheres os homens não esquecem
E são as mulheres de todas as praças
Que os homens adoram no cotidiano,
Por isso os homens vieram correndo
Atrás das mulheres na praça ocupada.
Então, de repente, a praça se encheu
De nova alegria, porque no mistério
Da praça ocupada, os homens mostraram
Bebida e comida pra dar pras mulheres
Pra dar pras crianças, benesses e rendas.
E a gente sorria de tanta fartura
Que os homens trouxeram pra dar pras mulheres
Pra dar pras crianças, no meio da praça,
Que a praça se encheu de nova ventura.
E então as mulheres beijaram os homens
E todos os homens beijaram as mulheres
As suas mulheres e outras mulheres
E houve momentos de enorme enlevo
Que todos sorriam sem ter nem por quê!
E, talvez pelo fato de tanta esperança
A gente da praça tocou a cantar.
E a sonoridade era uma só voz
Que ao longe se ouvia tão grande orquestra,
Mil vozes, matizes, fazendo canção,
Vararam a noite, buscando o sol-dia
Que a praça se enchia a cada manhã
De mágica luz, estranho relvado!
E, então, foi assim que a gente da praça,
Tomando de conta de tudo de bom
Que havia ali, recados mandaram
Pra todas as praças do mundo inteiro
Que todas as praças de outros lugares
Quiseram saber o que acontecia
Em longínquo lugar!
E, logo, as praças de todo o planeta
Também se encheram de gente a cantar!
E o canto era tanto que no outro hemisfério
Ninguém mais deixava dormir o antípoda!
E todas as praças de todo o universo
Renderam homenagens, mandaram emissários
Enviaram convites, congratulações,
Pedidos de bônus e de opiniões!
E a praça se encheu de enorme vaidade
Por ter começado a revolução
Em nome das praças de todo planeta,
Da grande à pequena, da forte à mais fraca.
E a praça num gesto de grande euforia
Fechou pra balanço da situação.
Foi quando se deu nova descoberta
Quando todo mundo, ali reunido
Passou a falar no mesmo instante.
Do anão ao gigante, todos se vieram
Que eram iguais, parceiros, irmãos.
Embora o ruído fosse alto e intenso,
De tudo se ouvia e se compreendia
Porque a falação, de modo perfeito,
Foi codificada pra todas as gentes
Embora as mensagens não fossem iguais!
Intenso ruído, intensa era a festa
Que havia motivo pra se festejar!
E a praça de gente assim possuída
De entusiasmo e de decisão
Passou a migrar, levando consigo
Aquela cidade, por tudo que é canto
Do resto do mundo!
E o mundo ouvia o que a praça dizia:
A praça falava de democracia,
Possível, precisa, estável, real.
E a praça falava de democracia
Da mais verdadeira, por todos os cantos
Do mundo ocupado, por gente airosa!
O jeito do povo de tão natural
Tornou-se o sinal de nova porfia.
Que a democracia é só porfiar.
Não tem garantia, mas… o que terá?
E o povo da praça também concluiu
Que a tirania inventa lugar
Inventa verdades, inventa profetas,
Gurus e reinados, só pra perturbar!
E o povo da praça, da praça ocupada
Hoje não faz nada que não seja viver
Que não seja sorrir, que não seja propício
Ao bem existir!
Na praça, os homens passaram a morar
Com suas mulheres, com suas crianças
E a praça jamais se desocupou!
Se a praça é o lugar de riso e de vida,
Por que abandoná-la, deixá-la vazia?
É o riso e a vida que todos precisam!
Na praça, os homens passaram a viver
Com suas mulheres, com suas crianças.
E vivam as crianças que tudo começam!
E vivam as mulheres, e vivam os homens,
E viva as praças de todo o planeta!
E vivam os homens que fazem da praça
O seu tribunal!
Na praça que é o maior patrimônio da Democracia,
Não pode o tirano mandar nem ter vez!
Bendita é a praça!
Bendito é o povo!
Bendito é o povo que ocupa sua praça!