Manaus, 28 de novembro de 2023

Praça Ocupada

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(1992)

Primeiro vieram ruidosas crianças

Trazendo brinquedos de todos os tipos

Fazendo um barulho ensurdecedor.

Só mesmo as crianças pra tudo mudarem

De tudo fizeram, de tudo aprontaram

Que toda atenção, se voltou pra elas.

E medo foi embora. E todo o disfarce

Que havia no ar desanuviou-se,

Mostrando que as caras daquelas crianças

Falavam verdades de muitas certezas

Que a natureza tratou de mandar

Toda a passarada pra sobrevoar

Aquelas crianças, saudando a alegria

Que elas trouxeram pra dentro da praça.

 

E, logo em seguida, chegaram mulheres,

Atrás das crianças, pelo encanto delas,

Umbilicalmente presas que são,

Vieram as mulheres, trazendo bonança,

Conversa amenas, olhares sutis

Corpos à mostra, pezinhos, quadris,

Peles queimadas, rostos ambíguos,

Castas e louras, negras e mansas,

Corteses e brancas trouxeram histórias

Que  logo contaram praquelas crianças.

Chegaram animadas, atrás das crianças,

Matronas, pagãs, rosadas, cunhas,

Mães, raptoras, condessas e fadas,

Foi assim que chegaram aquelas mulheres!

 

E, atrás das mulheres, vieram os homens

E a praça se enchia por todos os lados,

Chegaram mais homens atrás das mulheres,

Porque às mulheres os homens não esquecem

E são as mulheres de todas as praças

Que os homens adoram no cotidiano,

Por isso os homens vieram correndo

Atrás das mulheres na praça ocupada.

 

Então, de repente, a praça se encheu

De nova alegria, porque no mistério

Da praça ocupada, os homens mostraram

Bebida e comida pra dar pras mulheres

Pra dar pras crianças, benesses e rendas.

 

E a gente sorria de tanta fartura

Que os homens trouxeram pra dar pras mulheres

Pra dar pras crianças, no meio da praça,

Que a praça se encheu de nova ventura.

E então as mulheres beijaram os homens

E todos os homens beijaram as mulheres

As suas mulheres e outras mulheres

E houve momentos de enorme enlevo

Que todos sorriam sem ter nem por quê!

 

E, talvez pelo fato de tanta esperança

A gente da praça tocou a cantar.

E a sonoridade era uma só voz

Que ao longe se ouvia tão grande orquestra,

Mil vozes, matizes, fazendo canção,

Vararam a noite, buscando o sol-dia

Que a praça se enchia a cada manhã

De mágica luz, estranho relvado!

 

E, então, foi assim que a gente da praça,

Tomando de conta de tudo de bom

Que havia ali, recados mandaram

Pra todas as praças do mundo inteiro

Que todas as praças de outros lugares

Quiseram saber o que acontecia

Em longínquo lugar!

E, logo, as praças de todo o planeta

Também se encheram de gente a cantar!

 

E o canto era tanto que no outro hemisfério

Ninguém mais deixava dormir o antípoda!

E todas as praças de todo o universo

Renderam homenagens, mandaram emissários

Enviaram convites, congratulações,

Pedidos de bônus e de opiniões!

 

E a praça se encheu de enorme vaidade

Por ter começado a revolução

Em nome das praças de todo planeta,

Da grande à pequena, da forte à mais fraca.

E a praça num gesto de grande euforia

Fechou pra balanço da situação.

 

Foi quando se deu nova descoberta

Quando todo mundo, ali reunido

Passou a falar no mesmo instante.

Do anão ao gigante, todos se vieram

Que eram iguais, parceiros, irmãos.

Embora o ruído fosse alto e intenso,

De tudo se ouvia e se compreendia

Porque a falação, de modo perfeito,

Foi codificada pra todas as gentes

Embora as mensagens não fossem iguais!

 

Intenso ruído, intensa era a festa

Que havia motivo pra se festejar!

 

E a praça de gente assim possuída

De entusiasmo e de decisão

Passou a migrar, levando consigo

Aquela cidade, por tudo que é canto

Do resto do mundo!

 

E o mundo ouvia o que a praça dizia:

A praça falava de democracia,

Possível, precisa, estável, real.

E a praça falava de democracia

Da mais verdadeira, por todos os cantos

Do mundo ocupado, por gente airosa!

 

O jeito do povo de tão natural

Tornou-se o sinal de nova porfia.

Que a democracia é só porfiar.

Não tem garantia, mas… o que terá?

 

E o povo da praça também concluiu

Que a tirania inventa lugar

Inventa verdades, inventa profetas,

Gurus e reinados, só pra perturbar!

 

E o povo da praça, da praça ocupada

Hoje não faz nada que não seja viver

Que não seja sorrir, que não seja propício

Ao bem existir!

 

Na praça, os homens passaram a morar

Com suas mulheres, com suas crianças

E a praça jamais se desocupou!

Se a praça é o lugar de riso e de vida,

Por que abandoná-la, deixá-la vazia?

É o riso e a vida que todos precisam!

 

Na praça, os homens passaram a viver

Com suas mulheres, com suas crianças.

 

E vivam as crianças que tudo começam!

E vivam as mulheres, e vivam os homens,

E viva as praças de todo o planeta!

E vivam os homens que fazem da praça

O seu tribunal!

 

Na praça que é o maior patrimônio da Democracia,

Não pode o tirano mandar nem ter vez!

 

Bendita é a praça!

Bendito é o povo!

Bendito é o povo que ocupa sua praça!

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