A morte nos ensina muito sobre a vida. Quem acompanha pacientes até o final de suas vidas descobre coisas muito importantes, que na maioria das vezes não se dá a menor importância. Quando se estuda Medicina só se discute doenças. Não se fala dos sentimentos que acompanham os pacientes que desenvolveram doenças incuráveis. Por isso os profissionais têm que se preocupar em não somente dar os medicamentos, mas lembrar que o sentimento, que pode até ser um sintoma, como a dor e o sofrimento, pode ser muito mais importante que a própria dor.
Aprendi, ao longo desses cinquenta anos como médico, muitas vezes acompanhando o paciente até o último suspiro, que a pior forma de você lidar com o sofrimento é negando a sua existência. Temos que cuidar também do sofrimento familiar, que na maioria das vezes os próprios médicos não se importam com aquele sofrimento que envolve não somente o paciente, mas toda a família também. Quando começo a perguntar do que o paciente gosta e do que não gosta, do que tem medo, é como se de repente todos os familiares e circunstantes passam a se dar conta que aquele indivíduo ainda existe de verdade. Chega a ser uma epifania, porque todos voltam a se recordar que aquele familiar acamado com aquela doença terminal tem uma história de vida, a qual foi sequestrata pela doença.
Os médicos, além de aliviar a dor do paciente, têm que cuidar de dar-lhe o sono adequado para que possa dormir bem, ouvir os seus medos, inclusive o de morrer, pois até hoje não se sabe o que pode passar depois. Mas cabe a todos os profissionais da equipe de saúde acalentar estes medos, minimizando os conflitos internos, ouvindo com paciência estes medos, para que não se acentue e acelere a finitude.
Então, como médicos e outros profissionais, devemos sempre fazer esta reflexão: o que é a morte para mim? É um momento sagrado, talvez mais que o próprio nascimento. Então falar sobre a morte não é trazê-la para perto de você, mas sim uma chance de você ter consciência de como você está vivendo hoje em dia. Você tem que olhar sempre para si mesmo e fazer a avaliação como está lidando com o dom da própria vida. E não se deixar anestesiar e ficar distante da família, dos amigos e de si próprio, muitas vezes faltando na verdade só morrer mesmo. Pensemos nisso!
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