
*Wilma Tereza dos Reis Praia
Continuação…
Outras Lendas
SERRA DO BANCO
Os antigos contam que, um dia, os índios e os bichos do rio Surumu, das terras de Maiari, do Tarame e a do Tabaco, combinaram de fazer entre eles uma grande festa. Esta seria com muitos vinhos de frutas e muitas danças.
Foram então convidar o velho pajé, que vivia com sua gente, mulher e filhos, na serra Cumaipin, onde havia um grupo de sumaumeiras.
O convite foi aceito pelo pajé com muita alegria. A princípio não queria ir e agradeceu o convite, dizendo que na festa haveria muita bebida (caxiri, patuá e paiauaru) e muitas danças (pariebara, marua e tucuí). Assim sendo, disse ele, com certeza, ficaria bêbado. Também a sua mulher e seus filhos.
Os que o estavam convidando e promovendo a festa disseram que beberiam mais do que o velho pajé.
Tanto insistiram que o pajé, mesmo admitindo que ficaria bêbado, resolveu aceitar o convite e ir à festa.
Ao chegar à casa da festa, o pajé pôde perceber que muita gente já estava bebendo e dançando. Ele bebeu e também dançou com sua mulher e seus filhos.
Logo ficou muito bêbado e começou a cair entre os outros convidados atrapalhando as danças, implicando com todo mundo.
Começou em seguida a reclamar do seu banco, dizia:
– Quero o meu muiritepê! Tragam o meu muiritepê! Tragam…
Tentaram então deitá-lo numa rede a jia-cui e uns parentes dele o agarraram pelos braços e pelas pernas. Mas não conseguiram e ele continuou a reclamar o seu banco.
– Quero o meu muiritepé! Tragam já o meu muiritepê! Ele está no alto da serra onde o deixei.
Então os anfitriões e parentes do velho começaram a dialogar entre si:
– Quem vai carregar aquele banco de pedra tão pesado?
Ninguém na festa se atreveu a ir buscar o banco que era tão pesado, pois era de pedra. A rã do campo, entretanto, resolveu ir.
Foi uma gargalhada geral, e uma mulher comentou que a jia já estava bêbada.
Todos ficaram pasmos ao verem, assombrados, que a jia saiu aos pulos da festa, atravessou o terreiro e entrou pelo caminho que levava à serra onde havia muitas sumaumeiras.
Chegando lá, a jia meteu-se debaixo do banco de pedra do velho pajé.
Causou enorme admiração a toda a gente da festa e ao próprio pajé, quando voltou com o banco às costas e parou no meio do terreiro.
Foi então arriando o banco, devagar, mas ficou debaixo dele, pois as pernas se partiram e a jia, ao carregá-lo, as deixara na serra entre as sumaumeiras.
A jia criara um calo nas costas por causa do banco, o pajé e toda gente viu.
O pajé resolveu cuidar da jia e pediu uma cuia grande de polua e lhe derramou esse vinho pelo corpo, para que toda a força que perdera ao carregar sozinha aquele banco de pedra lhe voltasse. Pediu também mais vinhos para toda gente, sentou-se no banco e disse que agora iria beber com mais gosto pois estava no seu banco.
Enquanto durou a festa o pajé passou todos os dias sentado no seu banco, bebendo e rindo, entretanto não mais gritou e implicou com ninguém.
Ao terminar a festa, voltou para a serra das sumaumeiras, levando o banco, e, por causa das pernas quebradas, ele o abandonou ao passar por uma serra que ficou conhecida como a Serra muiritepê (A Serra do Banco).
Quanto às pernas quebradas do banco, ficaram na Serra Cumaipim, onde o pajé mora, desde a época do Dilúvio, pois ele, quando chegaram as águas ao rio Cotingo, pegou sua mulher, seus filhos, também ali chegou, dançando, à entrada da pedra, e bebendo caxiri. Ali o pajé mora até hoje.
Nos campos do Surumu mora a jia, que é conhecida por todos, porque tem um calo às costas, feito quando carregou o banco de pedra do pajé que já era bem velho.
À GUISA DE CONCLUSÃO
O índio faz parte da natureza e compreende, instintivamente, que não pode depredá-la, não pode retirar dela mais do que o suficiente para se alimentar e viver, pois, do contrário, estaria destruindo a si mesmo.
As lendas contêm ensinamentos como certa “moral da história” que se pode passar aos jovens, sempre enfatizando que o bem e a justiça, os bons costumes em geral devem ser cultivados e servem como uma chave mágica (para usar o vocabulário das lendas) que nos abrem qualquer porta em qualquer lugar.
Falam-nos das tradições de nossos povos, deixando à mostra seus costumes, modo de viver seus ensinamentos. Quem as lê não poderá, por exemplo, deixar de olhar para o encontro das águas do Solimões com o rio Negro, sem perscrutar com o olhar, ainda que secretamente, as duas árvores (seringueira e castanheira) que guardam as suas margens. Não poderá esquecer a linda vitória-régia, desabrochada no centro de seu prato verde. Quem navegar nas águas deste rio, que já foi chamado de “rio mar”, não poderá deixar de ver o boto, que muitas vezes acompanha as embarcações, e até, talvez, com alguma sorte, possa ouvir o canto da Iara, sem com ela, no entanto, se encantar.
Existem muitas lendas, aqui se descreve principalmente as lendas da Amazônia e de algumas regiões do Brasil, pois, além de interessantes, contribuem para torná-las conhecidas, não apenas dessa nova geração informatizada que está tomando conta do planeta, mas daqueles que, por não ter acesso à internet, possam também conhecê-las.
Que atendam, senão em tudo, mas pelo menos em parte as perspectivas dos que, necessitando se estender em uma pesquisa nesta área possa encontrar neste trabalho o fio de Ariadne, com o qual achará o caminho para uma pesquisa maior e melhor.
VOCABULÁRIO DAS LENDAS
A
Acaricuara: madeira abundante na Amazônia, empregada na construção, tem muitos orifícios. Vem do Tupi, acari, peixe que vive em buracos que faz na terra; quara, ou coara, buraco que faz na terra.
Acapu: árvore da família das leguminosas. Madeira de excepcional qualidade, usada em construção naval. Do tupi, acá, casca, e pu, fibrosa. Também acapó.
Açaí: açaizeiro (Euterpe oleracea mart) é uma palmeira característica das várzeas e margens dos rios amazônicos. De tronco delgado, pode atingir até 30 metros de altura.
Acutipuru ou quatipuru: cutia enfeitada.
Ajuricaba: guerreiro.
Alguidar: vaso de barro ou de metal, baixo, em forma de tronco de cone invertido, e com diversos usos domésticos; ababá, alquidar.
Amazonas: Icamiabas, mulheres guerreiras.
Anhangá-pitã: nome genérico do diabo na língua tupi. Espécie de espírito mau e, no entanto, protetor da caça. Anhangá-pitã: literalmente, do tupi: diabo vermelho.
Anaty, abati, avati, auati: milho.
Arremeda: imita.
Atarantado: atrapalhado, aturdido, perturbado. Atura: cesto usado pelos seringueiros e roceiros para transportar a caça, a borracha ou qualquer outro objeto mais pesado. O atura ou jamaxi é suportado por embiras em forma de alças, que passam pelos ombros e cabeça. Do Tupi uaturá> cesto.
Assanhado: diz-se do cabelo desgrenhado.
B
Banzeiro: ondas revoltas, provocadas pela passagem de uma embarcação. Vagalhão. Boiaçú: Cobra Grande.
Boitatá: cobra de fogo na lenda é o mesmo fogo fátuo. Gênio protetor dos campos. Vem do tupi mboi, cobra, e tatá, fogo. Boiúna: crendice da região amazônica, metamorfose da Cobra Grande.
Boto: cetáceo marinho ou fluvial, ser encantado conforme a lenda.
C
Caapora: pai do mato; do tupi: caá, mato, e porá, de dentro.
De dentro do mato.
Cabana: casinha rústica coberta de palha, ou sapé.
Cacique: chefe de tribo indígena, morubixaba.
Caçoar: levar a pagode.
Cairé: lua cheia.
Canarana: gramínea alta das margens dos rios amazônicos. Alimento preferido pelo peixe-boi.
Cariuá: entre os tupi significa branco. Abrange as qualidades de estrangeiro, valente, sábio, poderoso e forte.
Carnaubeira: planta ornamental da família das palmáceas (Copernicia cerifera), de estipe ereto, com até 40m de altura, cilíndrico, flores amarelas e folhas grandes, as quais fornecem cera muito usada na indústria de ceras e graxas para sapatos, assoalho, etc.; carandá, carnaíba, carnaúba.
Castanheira: imensa árvore. Destaca-se na floresta pelo seu porte (50 metros) e pelos magníficos frutos que fornece. Catinga: (do guarani kati, „cheiro forte‟): Cheiro forte e desagradável que se exala do corpo humano suado ou pouco limpo; bodum; morrinha.
Catiti: lua nova.
Catu: bom.
Ceuci: Mãe da Lágrima.
Cismado: invocado, desconfiado.
Coematet: sereno.
Cunhã: mulher adulta (etimologia tupi)
Cunhantã: menina, feminino de curumim. Segundo a etimologia tupi: cunhã, mulher e anta, forte, dura, rija.
Cunhãbiras: donzelas.
Curabi: flecha pequena, envenenada, com uma pluma na cauda. Usada nas zarabatanas, geralmente para caça.
Curupira: mito das selvas amazônicas. Tem o corpo pequeno, os pés voltados para trás. Protege as matas e faz vibrar as sapopemas a fim de fazer com que o caçador fique atordoado e sem direção.
D
Dabacuri: festa indígena com música dança e caxiri.
Dari dari ou darídarí: cigarra. Antiga aldeia indígena do município de Barcelos. Mello Povoas, elevando-a povoado, deu-lhe o nome de Samá Songa, e hoje, chama-se São Joaquim, Estado do Amazonas.
E
Ecossistema: qualquer unidade que inclua todos os organismos de determinada área em interação com o ambiente físico, de tal forma que um fluxo de energia leve a uma estrutura trófica definida, à diversidade biológica e à reciclagem de materiais. Eldorado: o Eldorado é uma antiga lenda, da época da colonização da América, e falava de uma cidade cujas construções seriam todas feitas de ouro maciço e cujos tesouros existiriam em quantidades inimagináveis. O termo Eldorado vem de O [homem] Dourado em espanhol; segundo a lenda, tamanha era a riqueza da cidadela, que o imperador tinha o hábito de se espojar no ouro em pó, para ficar com a pele dourada.
Embiara: pequena caça que se matou para comer. Etimologia tupi mbiara, mbiá: caça.
F
Fauna: toda a vida animal de uma área, um ambiente ou um estrato geológico num determinado tempo com limites temporais e espaciais arbitrários.
Flora: toda a vida vegetal de uma área, um ambiente ou um estrato geológico num determinado tempo, com limites temporal e espacial arbitrários.
Floresta: Ecol. Ecossistema terrestre organizado em estratos superpostos (o musgoso, o herbáceo, o arbustivo e o arborescente), o que permite a utilização máxima da energia solar e a maior diversificação dos nichos ecológicos.
– Terreno com cobertura de árvores silvestre.
– O mesmo que mata.
Floresta tropical: vegetação pluvial densa, muito rica em espécies, situada entre os trópicos.
G
Galera: antigo navio à vela, de mastreação constituída de gurupés e três mastros de brigue, envergando ou não, além das velas redondas e de proa, velas latinas quadrangulares. Grota: abertura produzida pelas enchentes na ribanceira ou na margem de um rio.
Vale profundo. Depressão de terreno úmida e sombria. Guabiru: ratazana, espertalhão, ratão que prolifera nos armazéns e depósitos de alimentos. Do tupi uara>gua, comedor, mbiú, comida alimento.
Guara: ave de plumagem vermelha com a qual os silvícolas adornam seus cocares e vestes, nos dias de festa. Etimologia tupi, guará: pássaro, adorno.
Guaraná: arbusto (Paulínia cupana) da família das Sapindáceas, que tem o fruto vermelho, preto e branco, parecido com o olho humano, do qual os índios Maué, seus cultivadores, preparam uma massa que é transformada em bastões para o seu comércio. Desta fruta, hoje universalmente conhecida, fabrica-se o refrigerante.
Gurupés: nos veleiros, mastro que se lança do bico de proa para frente, no plano longitudinal, com uma inclinação de cerca de 35° acima do plano horizontal.
I
Iara: mãe-d’água, senhora d’água, de “í” água e “ara” senhora. A pronúncia do “ig” do “i” tem feito com que de diferentes formas se tenham escrito essa palavra; assim temos ioara, gauara, oioara, etc.
Icamiabas: mesmo que Amazonas. Mulheres guerreiras, que não tinham homens. Manejam bem o arco e a flecha, para isso queimavam o seio direito de suas filhas.
Igara: canoa; bote pequeno.
Igarapé: braço de rio que penetra pelo interior das terras, podendo apresentar condições de navegabilidade, ou então originar-se de veios de nascentes em determinados pontos.
(“Vocabulário Amazonense”, Alfredo da Mata, Manaus, 1939).
Imussumba: palácio.
Inumação: substantivo feminino. Ato de inumar; enterramento, enterro, sepultamento.
Ipadu: pequena árvore da família das Entroxiláceas, vulgarmente conhecida pelo nome de coca. As folhas são estimulantes do sistema nervoso, sendo seu princípio ativo um alcalóide – a cocaína. No Peru, ainda hoje, é comum o “chá de coca”. Os índios peruanos mascam essa folha que parece aumentar as forças, atenuando a sensação de fome e produzindo uma espécie de embriaguez. Maceram as folhas e as colocam debaixo da língua. É o seu único alimento durante as grandes jornadas pela floresta ou pelo curso dos rios.
Itagiba: braço forte.
Iururaruaçú: deusa das tormentas.
J.
Jaci: lua.
Jaciuará: espírito da lua.
Jamaxi: o mesmo que aturá; ou seja: cesto usado para transportar caça. O aturá ou jamaxi é suportada por embiras em forma de alças, que passam pelos ombros e cabeça.
Japiim: o japiim é uma ave que apresenta plumagem preta com amarelo (Cacicus cela) ou as vezes preta com vermelho (Cacicus haemorrhous), encontrada na América do Sul, principalmente na região Amazônica do Brasil. Suas lendas possuem feições etiológicas, procuram explicar por que o japiim arremeda todos os pássaros e não possui canto próprio.
Jarau: o Cerro do Jarau é um lugar mítico localizado na fronteira do Brasil com o Uruguai e a Argentina, onde existe uma lenda e muitos mistérios.
Jatobá: arvoreta da família das leguminosas (Hymenaea stigonocarpa), abundante nos cerrados, de folhas com dois folíolos amplos e espessos, flores vistosas, magnas e amarelas, e fruto comestível, sendo muito apreciada a massa doce que envolve as sementes.
Jenipapo: fruto do jenipapeiro, cujo suco é usado por certos indígenas para escurecer a pele, e do qual se faz um licor muito popular no Norte e Nordeste do Brasil.
Jurupari: Iuru-Pari – do tupi: boca fechada, mistério, segredo.
L
Lenda: narrativa imaginosa, quase sempre fantástica que representando a tradição de um povo, se transmite através de gerações e procura explicar de uma forma fantasiosa aspectos da vida ou da natureza.
Lianas: Designação comum a diversas trepadeiras lenhosas, epífitas, de caule extenso (até 70m), que abundam nas florestas tropicais. Cada uma dessas trepadeiras.
M
Mãe-taguá: mãe d‟água.
Mandioca: planta arbustiva da família das Euforbiáceas, originária do Brasil (atualmente muito cultivada na África), cuja raiz é comestível e da qual se faz a farinha-de-pau e a tapioca; também à raiz se chama mandioca.
Mani: mandioca.
Maquira ou maqueira: rede de dormir feita com fibra de tucum, buriti ou carauá pelos indígenas da Amazônia.
Marron: cor castanha-avermelhada.
Milho (zea mays L.), da família das gramíneas, originário provavelmente das regiões tropicais da América do Sul, de onde se espalhou pelas regiões subtropicais e temperadas do mundo, vem sendo cultivado em diversos países, inclusive o
Brasil. É planta anual, caule ereto, que chega atingir até cinco metros de altura, sendo, por conseguinte, a maior das plantas cerealíferas.
Muiraquitã: misteriosa pedra verde-turquesa, amuleto extremamente rígido esculpido como forma de jacaré, onça, tartaruga, sapo, veado.
Murucututu: ave estrigiforme, estrigídea (Pulsatrix perspicillata), da América do Sul. Coloração parda; fronte, sobrancelha e mancha na garganta, brancas; mento e peito, pardos; o resto do abdôme, amarelo-ocre; alimenta-se de aves e mamíferos, sobretudo roedores.
N
Nhandeyara: Grande Espírito.
O
Oca: casa. Divisão única das casas dos tupi.
Ocara: terreiro de taba indígena, praça principal.
P
Pajé: grande curandeiro. Do tupi: feiticeiro, mago. Palhoça: casa ou cabana coberta de colmo ou palha, encontrada nas regiões tropicais; palhal, palheiro.
Panema: indivíduo que tem pouca sorte na caça, na pesca e nos amores. Do tupi: Que ou quem é infeliz na caça e/ou na pesca; quem é infeliz na vida; azarado, caipora. Ou quem é vítima de feitiço. [Antôn.: marupiara.] Paneiro: cesto de palha ou cipó.
Paraná do Cachoeiri: um dos canais através dos quais as águas do Trombetas se reúnem com as do Amazonas.
Paraná: rio caudaloso.
Paraná açu: rio Marafion.
Paruá: processo de encantamento que sofrem as pessoas quando são batidas nas costas com as palmas das mãos. O trabalho pode ser feito por um pajé, ou simplesmente por intermédio de outras pessoas.
Paumaris: índios do baixo Purus.
Pastoreio: atividade pastoril, pastorear, cuidar.
Pariquís: índios da região do Uatumã.
Pindorama: região ou país das palmeiras. Designação dada ao Brasil pela gente ando-peruana.
Poranga: (Do tupi) bonita.
Pirarucu: peixe abundante no rio Amazonas, de onde é originário. Alguns pesam mais de cem quilos. Sua língua óssea serve de ralador com o qual os caboclos ralam o guaraná em bastão.
Poranduba: do tupi: pergunta, história; notícia; relação.
Porungo: cuia ou cabaça. Vaso de couro, para líquidos.
Potira: flor
Punçá: pequena tarrafa armada na extremidade de duas varas longas e flexíveis ou numa argola de cipó para pegar peixe e camarão. Do tupi pyçá>puçá, rede, renda, crivo. (Rodolfo Garcia).
R
Rio das onças: Jauari, Javari. Afluente da margem direita do Rio Solimões. Fronteira do Brasil com o Peru.
S
Salamanca: furna encantada; provém a denominação da cidade de Salamanca, na Espanha, onde existia, diz-se, uma célebre escola de magia, no tempo dos mouros. A seguir a tradição local, o célebre caudilho Bento Manuel deveu a sua sorte guerreira, política e de fortuna ao conchavo que ajustou na Salamanca do Jarau. Antes dele, alguns, mas depois, nenhum outro aí obteve mais nada, desde, “que o cerro pegou fogo” quando acabou o encantamento.
Sapopema: troco de árvore que é transformado em instrumento para chamar o povo para as festas e reuniões. Grande raiz tubular que cerca a base do tronco de muitas árvores da floresta pluvial. É particularmente comum na mata de terra firme, da Amazônia. Exemplo típico é a sumaúma, Ceiba pentandra.
Surucucu: cobra venenosa.
T
Taba: aldeia de ameríndios.
Tacacá: o tacacá é uma comida de origem indígena, muito apreciada na capital do estado do Pará. O tacacá é uma sopa com tucupi (um líquido amarelo e amargo), mandioca cozida, camarão, jambu e pimenta de cheiro. Mingau quase líquido de goma de tapioca temperado com tucupi, jambu, camarão e pimenta.
Taguaris: tribo das margens do Nhamundá e do Trombetas. Tapiri: choupana tosca de palha. Tem um mastro central. Não tem paredes. É circular, formato semelhante ao do guarda-chuva. (Sin) Papiri.
Tarumã: árvore da família das verbenáceas (Vitex orinocensis), que habita as florestas das margens dos rios, semelhante ao pimenteiro (q. v.), e cuja madeira, pardo-escura, serve para obras em lugares úmidos: esteios, mourões, dormentes, etc.
Tejupar: palhoça. Choupana coberta de palha. Sinônimo: Tapiri ou Papiri.
Thrari: trepadeira (Strychnos toxifera). Muito comum na Amazônia Ocidental.
Timbó: tinguí, sumo extraído do timbó (cipó) para embriagar e matar peixe. É uma prática proibida e devastadora.
Tucumã: coco de uma palmeira (Astrocaryum aculeatum). É oleoso, comestível, de forma oval e coloração amareloavermelhada. Os folículos fornecem uma fibra fina e resistente (tucum), que é usada na confecção de redes para dormir e de linhas para a pescaria.
Tucuna: há também quem chame de Ticuna. Agrupamento indígena do oeste amazônico. (Fronteira com o Peru e a Colômbia).
Tupã: Deus.
Tupana Iuáca: céu de Tupã.
Tupi: povo indígena do Brasil.
U
Uaçu: rio grande.
Uauiara: deus protetor dos rios e dos peixes.
Ubá: canoa rústica, feita de tronco inteiriço de árvore.
Uirapuru: lendário pássaro do Amazonas. É o mágico cantor da selva, o pássaro da felicidade. Quando se põe a cantar, faz-se silêncio em sua volta e todos os pássaros e animais se põe a escutá-lo. Etimologia: do tupi uira, pássaro, e puru, pintado.
Ulê: homem-árvore.
Umbu: é uma árvore típica que enfeita a paisagem sulriograndense, oferecendo sombra amiga e hospitaleira, nos campos e nas coxilhas, onde o gaúcho dorme a sesta e a gurizada brinca buliçosa, com os cuscos das fazendas. O umbu é a árvore-símbolo da hospitalidade do povo gaúcho.
Urucum: tintura vermelha obtida a partir da cera que recobre as sementes do urucum.
Urutau: ave noturna (Nictibius grandis), de canto triste; também chamada de Jurutau, Jurutauí, Mãe-da-lua, etc.
Y
YACIUARUÁ – espelho da Lua. Lago situado ao pé de duas colinas gémeas, a Serra do Copo e a Serra do Dedal, onde, segundo a lenda, as Amazonas iam buscar os seus muiraquitãs. Fica próximo da pequena cidade de Faro (Estado do Pará, na região do baixo Nhamundá).
X
Xirimbabos: animais domésticos, criados soltos, acostumados com seus donos. Por extensão se diz carinhosamente à criança muito afetiva, que vive sempre junto dos pais.
Z
Zoomorfos: Que tem forma de animal.
Zumbi: A palavra Zumbi significa “Deus negro de alma branca”. Zumbi dos Palmares foi comandante político-militar, herói mítico, símbolo de esperança.
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*Wilma Tereza dos Reis Praia, nascida em Manaus, é formada no Curso Técnico de Análise Clínicas pelo Colégio Amazonense D. Pedro II. Trabalhou como funcionária pública na extinta CODEAMA e ministrou aulas particulares para estudantes de nível médio. Atualmente, dedica-se à digitação de artigos acadêmicos e pesquisa sobre povos e lendas da Amazônia. Dessa pesquisa, nasceu sua obra “Raízes da Amazônia – LENDAS DA AMAZÔNIA”, composta por dois volumes, cada um contendo 45 lendas, publicada em 2011.
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