Estava em pleno andamento o campeonato estadual de futebol do Amazonas de 1920 e agora, com as 7 equipes disputando o returno, o Nacional liderava o certame.
O próximo compromisso da equipe nacionalina seria contra o time alvirrubro do Manáos Sporting, conhecido pela sua torcida como “veterano”. Naquela época o Manáos Sporting era a terceira força do futebol Baré, só sendo superado pelo Nacional e Rio Negro.
O Nacional, com 13 pontos e na liderança da tabela, precisava da vitória para assim se afastar mais do segundo colocado, o seu rival Rio Negro que estava na sua cola e contava 12 pontos. Já o Manáos Sporting se encontrava na terceira colocação com 10 pontos e precisava vencer para se igualar ao Rio Negro e se aproximar do líder para assim brigar pelo primeiro lugar e, consequentemente, abocanhar o título.
No plantel nacionalino se destacavam três irmãos chamados Pequenino, Secundino e Parimé. Os três haviam nascido em Alenquer, no Pará, más chegaram ainda crianças à Itacoatiara, cidade onde se radicaram e adotaram como sua e onde se iniciaram no futebol. Por volta de 1917 Pequenino viera de Itacoatiara para reforçar o Nacional, caminho também seguido por seus irmãos.
Em seu município Pequenino (cujo seu nome era Márcio Oliveira) e seu irmão Secundino Oliveira defendiam a equipe alvinegra do Sport Club, um dos principais clubes do futebol Itacoatiarense. Já Eurico Parimé também se destacava como bom jogador da Velha Serpa (defendendo também o Sport Club).
Irmãos Oliveira são obrigados a desfalcar o time
O jogo entre Nacional e Manáos Sporting estava marcado para acontecer no dia 25 de julho de 1920, no Estádio Parque Amazonense, em Manaus.
Porém na antevéspera da esperada partida, um telegrama inesperado chegava de Itacoatiara endereçado aos irmãos Oliveira. A correspondência dizia que a mãe dos três jogadores estava muito mal de saúde e pedia a presença urgente dos filhos. Angustiados com a notícia Pequenino, Secundino e Parimé rapidamente se dirigiram à Itacoatiara, embarcando num navio a vapor no porto de Manaus. Sendo assim o Nacional não iria contar com três de seus principais jogadores, pois tanto a diretoria como torcedores entenderam que a vida da mãe deles era muito mais importante do que qualquer jogo.
Ao chegarem em Itacoatiara os três irmãos tiveram uma surpresa pois sua mãe estava em perfeito estado de saúde, assim como seu pai Cassiano Secundo.
Foi então que souberam que o dito telegrama era falso e tinha sido uma armação de algum torcedor, jogador ou membro da diretoria do Manáos Sporting, com a finalidade de tirar os três atletas do jogo e assim enfraquecer o Nacional.
Aliviados por sua genitora estar passando bem, mas ao mesmo tempo injuriados por terem sido enganados, os três irmãos não tinham como voltar à Manaus a tempo para estar no dia do jogo pois o próximo navio com destino à capital só passaria em Itacoatiara no domingo à noite (hora em que a partida já teria terminado).
Enfim, Nacional e Manáos Sporting pisavam no gramado do Parque naquele domingo à tarde com grande presença de torcedores dos dois clubes. Mas, além de não contar com Secundino, Parimé e Pequenino, os nacionalinos também contariam com outra grande ausência para o jogo: o de seu artilheiro e craque Craveiro.
Com esses 4 desfalques de peso só restou ao Nacional substituir os faltosos por atletas do time reserva.
Muitos acreditavam que o Nacional ficaria enfraquecido e perderia para o Manáos Sporting que se apresentaria no gramado com seu time titular completo.
Já estando as duas equipes em campo, se apresentaram com a seguinte escalação:
Nacional – Nery, Rodolpho Gonçalves, Antoniano, Henrique, Cangalhas e Amadeu, Orlando, Fernandinho, Azevedo, Clóvis e Jurandir.
Manáos Sporting – Hemetério, Oliveira, Cly, Lira, Evangelista e Pereira, Abreu, Rocha, Mário, Zequinha e Lulu.
Começava então o duelo, sob a arbitragem do senhor João Mello, que foi bem violento de lado a lado.
Evangelista cometia um pênalti, cabendo a Rodolpho Gonçalves cobrar e abrir a contagem para o Nacional. Porém Rocha, aproveitando um passe de Mário, empatava para o Sporting. Não demorou muito para Clóvis desempatar para os nacionalinos, seguido de Fernandinho que marcou o terceiro gol.
No segundo tempo, Zequinha diminuía para o Sporting assinalando o segundo gol. Mas Orlando, ponta-direita do Nacional, recebe um lançamento de seu ponta-esquerda e, sem querer, a bola rebateu nele e foi certeira se alinhar no fundo da rede do goleiro Hemetério, dando assim pontos finais no jogo que terminou com o triunfo nacionalino por 4×2.
Agora, com 15 pontos, o time da estrela azul se isolava mais na liderança do campeonato que culminaria, meses depois, com o Nacional se tornando pentacampeão amazonense de futebol.
Um antigo cronista, que estava na torcida, comentou que a atitude de trapaça do Sporting não surtiu o efeito desejado, afirmando que “o tiro saiu pela culatra” e que “quem ri por último ri melhor “.
Quanto aos irmãos Oliveira, chegaram à Manaus na segunda-feira, dia 26 de julho, a bordo do vapor “Pará” e logo souberam do triunfo de sua equipe, para alegria deles.
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Uma resposta
Muito bem, professor Vieira. Aplausos!
Maravilhoso texto, lembrança de belos dias do passado amazonense, quando o futebol em nossas plagas era disputado com amor à camisa!. Folgo ao vê-lo feliz pela publicação – uma homenagem que prestamos a você, que, embora filho de Manaus, destaca a minha Itacoatiara e, o mais importante, resgata a memória de três irmãos sensacionais, os ‘pebolistas’ Pequenino, Secundino e Parimé.