Manaus, 3 de dezembro de 2023

Reminiscências

Compartilhe nas redes:

*Edval Meireles

 

Enfadado da capital,Pedi licença ao patrão

E fui à zona rural

Prá rever o meu “torrão”.

Taxis, ônibus, barcos

Eu usei na condução

 

Fui pensando na bacaba,

Mari-marí, pequiá,

Uxi liso, uxi coroa,

Buriti e cariá.

E numa cuia pretinha

O vinho de patauá.

 

Moer cana pra garapa,

Beber mingau de crueira,

Tomar banho de cacimba,

Atar rede nas mangueiras,

Comer uxi com farinha

Embaixo das ingazeiras.

 

No meu café da manhã

Quero macaxeira assada,

Chá quente de preciosa,

Beijú de massa lavada,

Farinha de tapioca

No chocolate ou gemada.

 

Quando for “dia redondo”

Vou almoçar no roçado

Feito ao vinho de castanha,

Cutia e tatu guisados.

No moquém uma ventrecha

E um quarto de paca assados.

 

Vem mingau de jerimun

Com tapioca e castanha

Na merenda. E no jantar

Caldeirada de piranha,

Mixira de pei-boi,

Bem conservada na banha.

À noite chupar laranja,Ouvindo estória ao luar.

Já perto da meia-noite,

Depois da lua “sentar”

Com lanterna ou com poronga

Sairei para zagaiar…

 

Meus amigos de infância,

Um a um visitarei,

Pelos furos e igapós,

Vitórias-régias verei

Passarei defronte à escola

Onde me alfabetizei…

 

Mas, cadê pirarucu

Que no poço era abundante?

Papagaio e capivara

Não se vê mais, como antes,

E a seringa barriguda

Hoje é boia de flutuante

 

Onde estão os uxizeiros?

Cadê o patauazal?

Serraram os pequiazeiros,

Queimaram o buritizal.

Só vejo o capim quicúia,

Cercas de arame e curral.

 

Onde está a capelinha

Construída de madeira?

O campinho de peladas

Agora é uma capoeira

E no lugar da nossa casa

Umas velha pupunheiras!

 

Oh, mente essa tua memória

Faz-me forte palpitar.

Acalma-te coração

Também sofro ao recordar

Reminiscências de um tempo

Que o tempo não vai “matar”.

 

*Poeta e escritor natural do Rio Madeira, de há muito reside em Itacoatiara. A poesia acima foi premiada em 2º lugar no CONPOFAI 2011. Outros poemas seus constam da antologiaNheengare, editada pela SEC/AM em 2002.

Compartilhe nas redes:

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

COLUNISTAS

COLABORADORES

Abrahim Baze

Alírio Marques