*Edval Meireles
Enfadado da capital,Pedi licença ao patrão
E fui à zona rural Prá rever o meu “torrão”. Taxis, ônibus, barcos Eu usei na condução
Fui pensando na bacaba, Mari-marí, pequiá, Uxi liso, uxi coroa, Buriti e cariá. E numa cuia pretinha O vinho de patauá.
Moer cana pra garapa, Beber mingau de crueira, Tomar banho de cacimba, Atar rede nas mangueiras, Comer uxi com farinha Embaixo das ingazeiras.
No meu café da manhã Quero macaxeira assada, Chá quente de preciosa, Beijú de massa lavada, Farinha de tapioca No chocolate ou gemada.
Quando for “dia redondo” Vou almoçar no roçado Feito ao vinho de castanha, Cutia e tatu guisados. No moquém uma ventrecha E um quarto de paca assados.
Vem mingau de jerimun Com tapioca e castanha Na merenda. E no jantar Caldeirada de piranha, Mixira de pei-boi, Bem conservada na banha. |
À noite chupar laranja,Ouvindo estória ao luar.
Já perto da meia-noite, Depois da lua “sentar” Com lanterna ou com poronga Sairei para zagaiar…
Meus amigos de infância, Um a um visitarei, Pelos furos e igapós, Vitórias-régias verei Passarei defronte à escola Onde me alfabetizei…
Mas, cadê pirarucu Que no poço era abundante? Papagaio e capivara Não se vê mais, como antes, E a seringa barriguda Hoje é boia de flutuante
Onde estão os uxizeiros? Cadê o patauazal? Serraram os pequiazeiros, Queimaram o buritizal. Só vejo o capim quicúia, Cercas de arame e curral.
Onde está a capelinha Construída de madeira? O campinho de peladas Agora é uma capoeira E no lugar da nossa casa Umas velha pupunheiras!
Oh, mente essa tua memória Faz-me forte palpitar. Acalma-te coração Também sofro ao recordar Reminiscências de um tempo Que o tempo não vai “matar”. |