Manaus, 30 de novembro de 2023

Retalho político da região

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Foi a Ditadura Militar que engendrou a Amazônia que vivemos hoje. Completando o quadro, temos os governos’ seguintes, que se aliaram com as piores oligarquias Cleptocratas da região. Tudo isso para evitar qualquer reação das forças tradicionais da Amazônia, é que esse modelo de desenvolvimento autoritário retalhou politicamente a região, pondo as novas instituições para fazer essa divisão na prática.

Além de usurpar a autoridade dos estados regionais sobre os seus territórios, a ponto de o governo do Pará exercer seus poderes apenas sobre 20% do estado, órgãos como a SUDAM, por exemplo, exercitando a lítica financeira de incentivos fiscais, canalizaram os grandes projetos agropecuários, minerais e energéticos para a Amazônia Oriental, enquanto a SUFRAMA, usando os incentivos fiscais para instalar um enclave exportador, fez de Manaus e da Amazônia Ocidental um nicho de projetos industriais eletroeletrônicos e projetos agropecuários de menor porte. Nos primeiros anos da “Operação Amazônia”, o governo de Brasília tentou atrair investidores para projetos agropecuários através de doações financeiras e renúncia fiscal. A partir do presidente Médici, o governo passou a investir diretamente em megaprojetos, criando novas fontes de recursos através de órgãos como o PIN, PROTERRA e POLAMAZÔNIA. No início da década de 70, em plena época do chamado Milagre Econômico, a Amazônia era então não mais uma região de economia extrativa, mas basicamente uma área de agropecuária, mineração, metalurgia e siderurgia. Já no final de 1966, mais de mil investidores tinham instalado projetos de criação de gado ao longo da estrada Belém-Brasília. A agropecuária seria, no início, o principal atrativo. A partir de 1967, um decreto presidencial transformou Manaus em Zona Franca, imediatamente instalando uma série de indústrias e anunciando uma oferta de quarenta mil empregos. No que toca à divisão do trabalho, as indústrias da Zona Franca operavam as fases finais de montagem e acabamento do produto. Fases que exigiam um número maior de mão-de-obra. Aproveitando a legislação, essas indústrias se estabeleceram numa área da cidade de Manaus, no chamado Distrito Industrial, onde receberam terrenos a preços irrisórios, totalmente urbanizados, como nenhum conjunto habitacional supostamente para pessoas de baixa renda recebeu.

E, assim, entrou em atividade um parque industrial de “beneficiamento” produzindo em toda sua capacidade e operando numa área onde as facilidades eram, na verdade, uma conjuntura favorável. Para completar, como extensões de grandes complexos, as indústrias da Zona Franca são administradas de maneira direta e seu capital pouco é afetado pela disponibilidade local. A participação de capital oriundo do tradicional extrativismo foi mínima e era possível notar, por volta do final da década de 70, grandes comerciantes do extrativismo, de outrora, hoje atrelados como sócios minoritários, com cargos simbólicos nas empresas altamente subsidiadas instaladas em Manaus. Eram indústrias que tudo trouxeram de fora, da tecnologia ao capital majoritário, e que do Amazonas somente aproveitaram a mão-de-obra barata e os privilégios institucionais. Com essa estrutura industrial altamente artificial, a Amazônia Ocidental teve o seu quinhão da política de integração nacional. A promessa de quarenta mil empregos não se cumpriu, mas ajudou a provocar uma explosão demográfica em Manaus. De cerca de cento e cinquenta mil habitantes em 1968, a cidade pulou para seiscentos mil em 1975. Talvez meus sete leitores reclamem de minha análise e me acusam de estar me repetindo. Mas o que dizer do continuísmo de nossas oligarquias, subservientes ao poder federal, almas gêmeas dessa república com letra minúscula, composta por crápulas e açambarcadores da soberania popular?

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